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Bruce Dickinson em São Paulo: noite inesquecível e impecável após 25 anos de espera — que valeu a pena!

Resenha por: Fernando Queiroz
Foto de capa: @xchicanox em cobertura para o site Igor Miranda


Após tantos shows do Iron Maiden em São Paulo, ver Bruce Dickinson sem Steve Harris, Dave Murray, Adrian Smith, Janick Gers e Nicko McBrain já parecia para muitos um sonho distante. Músicas icônicas como Accident Of Birth, The Tower e Tears Of The Dragon já chegavam a soar como algo que veríamos apenas em covers.

Foram 25 anos de espera desde o último show solo do cantor no Brasil, em 1999. Logo, este 4 de maio de 2024 foi uma data muito aguardada, com o esperadíssimo show solo do lendário frontman em São Paulo. Com uma banda formada, como ele mesmo disse, por músicos com menos da metade de sua idade, os extremamente competentes e gabaritados Chris Declercq, Dave Moreno, Tanya O’Callaghan, Philip Naslund e Mistheria, que em nada deixam a desejar como músicos e performers.

Antes do Show

É algo comum em shows de artistas que angariam muitos fãs, como é o caso de Bruce, formar-se filas e mais filas muitas horas antes do show na porta do local do evento e neste sábado não foi diferente.

Perto das 19h, uma hora antes de abrirem os portões para entrada no Vibra São Paulo, as filas e movimentações de pessoas com camisas do Iron Maiden e outras bandas de heavy metal eram muito intensas não só na área externa da casa, mas também nas ruas ao redor. Era o indicativo de que seria uma noite bem cheia na casa.

Onde quer que fosse, havia pessoas extremamente empolgadas com o show e a oportunidade de ver um show da carreira solo de Bruce Dickinson.

A única crítica, algo quase generalizado, foi sobre o horário do show — o Vibra São Paulo fica em um local de difícil acesso e transporte coletivo precário, sem estações de trem ou metrô muito próximas, e acabar perto da meia noite era um problema de fato. Algumas pessoas, claro, reclamaram do fato de ter uma banda de abertura, exatamente pelos motivos citados anteriormente, e por acharem que a banda escolhida, os brasileiros do Noturnall, não se encaixavam para o tipo de som do show principal.

Com cerca de dez minutos de atraso, às 20h10 mais ou menos, as portas da casa de show finalmente se abriram e o público entrou tranquilamente, sem confusões. 

Noturnall — Banda de abertura

Atrasos são sempre chatos, mas quando a banda toca antes do previsto, não tem do que reclamar, ao menos neste caso. O show dos brasileiros do Noturnall, previsto para às 20h, começou cerca de quinze minutos antes.

Embora fosse nítida a animação, empolgação e alegria dos músicos da banda em estarem ali, claramente dando o melhor de si, o mesmo não pode ser dito da plateia.

O vocalista Thiago Bianchi tentava animar, interagir com o público, ainda pela metade na casa — grande parte ainda esperava do lado de fora, tomando uma cerveja e conversando —, mas a resposta do público era fria e muitos pareciam sem paciência para assisti-los, especialmente, como mencionado anteriormente, pelo problema de horário.

O som da banda também nada tinha a ver com o esperado para aquele evento, focando em um metal mais pesado, rápido, cheio de pedais duplos, solos intermináveis de guitarra e vocais ora agudos como os do saudoso Andre Matos, ora guturais. É inegável a capacidade de todos como músicos, performers e com uma produção de palco era impecável, mas parecia que a banda estava no lugar errado, na hora errada.

De qualquer forma, fizeram seu trabalho e não deixaram se intimidar pela recepção fria do público por cerca dos 40 minutos que tocaram. No fim, alguns mais empolgados na parte da frente até ensaiaram gritar o nome da banda, mas foi só isso.

Bruce Dickinson — a atração principal. O homem, a lenda, o mito.

Infelizmente, o adiantamento do show de abertura não se refletiu na atração principal, e às 21h, horário marcado para a entrada do tão aguardado Bruce Dickinson no palco, ainda não havia sinais de que a apresentação fosse começar. Dez minutos depois, às 21h10, finalmente as luzes se apagaram, o som de fundo parou. A plateia pôde enfim soltar os pulmões e gritar enfaticamente o nome do cantor, que entrou arrasadoramente com o clássico Accident Of Birth, faixa título do álbum de 1997, amplamente considerado o disco de maior sucesso do vocalista em carreira solo.

Sua banda, formada por jovens músicos, incluindo a irlandesa Tanya O’Callaghan, que também é integrante de nada menos que o Whitesnake, mostrava-se em forma. Todos estavam afiados, enérgicos, com destaque, claro, ao tecladista Mistheria, que adotou um visual ‘cowboy’, com o clássico chapéu e não se resumia a ficar preso ao teclado fixo. A todo momento com seu ‘keytar’ ia para a frente interagir com o público. 

Uma banda dessas fazia o palco do Vibra ficar realmente pequeno, e os seis integrantes da banda pareciam nove, de tanto que preenchiam o palco. Bruce, mesmo em um palco menor que os típicos palcos do Iron Maiden, estava solto, correndo, interagindo, pulando e cantando perfeitamente nota por nota.

O setlist era imprevisível, já que ele veio, ao longo da tour, mudando por várias vezes e raramente repetindo um inteiro. Claro, há músicas que se pode ter sempre certeza que serão apresentadas. Obviamente, as músicas de álbuns antigos sempre se sobressaem com o público, mas tudo indica que a aceitação do último e novo lançamento, The Mandrake Project, foram bem aceitas e já conquistaram o público. Em especial, o single Afterglow Of Ragnarok levou o público à loucura, cantando em coro enquanto levantavam as mãos. 

O domínio de público que Dickinson tem é um espetáculo à parte! Todo comando que o vocalista dava ao público era correspondido por todos, fosse na hora de bater palmas, ou de puxar o coro de ‘hey, hey’, ou cantar junto. Lógico, não podia faltar seu típico ‘Scream For Me São Paulo’. 

Em momento algum qualquer pessoa sentiu falta de alguma música do Iron Maiden sendo tocada, tamanha era a qualidade do setlist de músicas solo e da performance da banda.

Destaco, também, o poder de comunicação do vocalista. No intervalo entre músicas, quase sempre fazia uma breve apresentação da próxima música, falava com a plateia, comandava todos ali como um verdadeiro mestre de cerimônias, algo que ele sempre fez muito bem com o Iron Maiden. Porém, em carreira solo e a liberdade que isso lhe dá, ele consegue ter ainda mais domínio da coisa, em especial por serem em locais menores e mais intimistas, onde ‘ele’ está no controle de tudo.

Nem mesmo no momento mais ‘estranho’ do show, com o cover de The Edgar Winter Group e a instrumental Frankenstein, houve tempo para respirar, pois apesar de instrumental, o vocalista também fazia performances com sons experimentais diferentes e alguns pequenos solos de bateria, guitarra e percussão. 

Realmente, percebe-se a diferença dele enquanto artista solo e ele sendo o frontman de uma das maiores bandas de metal, o Iron Maiden, onde ele está engessado ao padrão de sempre — em carreira solo, ele ‘faz o que quer’. 

Claro, o ponto mais alto, em termos de emoção dos fãs, foi a icônica Tears Of The Dragon, uma música que para onde quer que você olhasse, podia ver pessoas em prantos e comentários do tipo ‘nunca pensei que fosse ver essa música ao vivo com ele cantando’ — em referência ao fato de ser uma canção frequentemente presente em repertórios de bandas covers ou iniciantes e menos populares. Tocada com um violão no começo, os seis minutos desta canção levaram o Vibra São Paulo abaixo, as pessoas cantaram a letra inteira a plenos pulmões. Emocionante, para dizer o mínimo.

Após a também clássica Darkside Of Aquarius a banda fez seu encore, quando Bruce falou que não retornaria em 2025 com o Iron Maiden, mas garantiu que voltaria novamente com a banda solo. Nos resta aguardar e saber quando. 

O final ficou por conta de Navigate The Seas Of The Sun — música, inclusive, dedicada às vítimas das enchentes e chuvas no Rio Grande do Sul e a cidade de Porto Alegre, onde ele tocou algumas semanas antes, que o vocalista se referiu corretamente como uma tragédia — Mas foi em Book Of Thel quando ele apresentou sua banda formalmente e a icônica e magnífica The Tower fechou a noite com chave de ouro. 

Conclusão da obra: uma noite memorável, inesquecível, e tecnicamente impecável!

Bem, se o Iron Maiden já é carta marcada no Brasil e sempre repete setlists show após show, tour após tour — e não estão errados, é isso que a maioria quer — o show solo do Bruce Dickinson sempre trará ótimas surpresas, setlists únicos com músicas de quase todos os seus álbuns, indo de Accident Of Birth, a Balls To Picasso e Chemical Wedding, até seu mais recente e excelente álbum The Mandrake Project. Além de, uma soberba performance dos músicos da banda e a voz de Bruce, como sempre, impecável, carregando seu carisma único. 

Um show que, para quem não foi, em 2025 não pode de forma alguma perder, pois é um espetáculo que mesmo quem não é fã de fato de sua carreira solo, apreciará. Sem espaços para críticas em uma hora e quarenta minutos do mais puro e competente heavy metal que podemos encontrar por aí.

A única crítica, novamente, fica por conta do horário do show, comprometido especialmente pelo fato de uma desnecessária banda de abertura em um show que normalmente já teria acabado tarde da noite.

Bruce Dickinson Band:

Bruce Dickinson – vocais

Chris Declerq – guitarra

Philip Naslund – guitarra

Tanya O’Callaghan – baixo

Dave Moreno – bateria

Mistheria – teclados

Setlist — 04/05/2024:

Accident Of Birth

Abduction

Laughing In The Hiding Bush

Afterglow Of Ragnarok

Chemical Wedding

Many Doors To Hell

Gates Of Urizen

Resurrection Man

Rain On The Graves

Frankenstein (The Edgar Winter Group cover)

The Alchemist

Tears Of The Dragon

Darkside Of Aquarius

Navigate The Seas Of The Sun

Book Of Thel

The Tower

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