Entrevistas

[ENTREVISTA] Olli-Pekka Laine – Octoploid (Amorphis)

Olli-Pekka Laine, baixista do Amorphis, conversou com exclusividade com nosso colaborador Fernando Queiroz dando detalhes e destrinchando todo o processo de gravação e produção do seu projeto solo. 

Octoploid está lançando seu primeiro álbum “Beyond The Aeons”, que tem em sua formação músicos de destaque da cena finlandesa, como Mikko Kotamäki (Swallow The Sun), além das possibilidades futuras para o projeto se tornar uma banda e lançar novos materiais.

Confira abaixo:

Fernando Queiroz:

Olá de novo, Olli! Bom falar com você mais uma vez. Espero que tenha curtido o Summer Breeze Brasil.

Olli-Pekka Laine:

Igualmente! Foi um prazer falar com você da última vez e no Summer Breeze também. Grande festival, um momento incrível.

Fernando:

Bem, pelo que pude ouvir do material do Octoploid, ele me lembra um bocado de tudo que você fez na sua carreira até agora. Não apenas o Amorphis, mas também o Barren Earth e o Mannhai. Eu falei certo Mannhai?

Olli:

Sim, sim, está certinho!

Fernando:

Ah, ok. Então podemos dizer que é uma culminação de tudo que você sente sobre música e suas experiências pessoais e profissionais?

Olli:

Sem dúvidas, é totalmente um tipo de conclusão de tudo que fiz até agora. Quando eu sentei para compor esse álbum, eu tinha muitas opções de colocar coisas de stoner, rock progressivo… Mas então, eu decidi que deveria me manter cem por cento puro e honesto comigo mesmo desde que comecei a escrever música e acabou saindo bem naturalmente. Porém, quando se trata de bandas atuais e antigas minhas, fica óbvio que há influências de stoner rock, porquê o Mannhai é meio assim, e o baterista do Mannhai, o Mikko Pietinen, também está com o Octoploid, e além disso, o nosso guitarrista Peter Solonen na verdade é um cara que vem do rock e não puramente do metal. Então, isso faz com que seja um pouco ‘menos metal’, de alguma forma. Claro, com o Barren Earth, eu diria que está em hiato desde que eu voltei para o Amorphis, pois devo admitir, eu era o principal e mais ativo membro na banda, então como não estou tanto ali para empurrar os caras (risos) fica difíci., Não dá para saber exatamente como está a situação da banda. Mas eu continuei compondo coisas mesmo depois, que meio que paramos, com o Barren Earth, e essas músicas começaram a ficar ali na minha mesa e eu tinha que achar como lançá-las. Não é exatamente o Barren Earth ali, tem muito mais influência de progressivo e psicodelia. 

Fernando

Sim, claramente a psicodelia está ali! E isso me leva a outra questão. Mais ou menos um mês atrás eu fui a um show do Jethro Tull, e uma sensação que eu tive especialmente com a questão estética do Octoploid, com todas aquelas cores, e aquela vibe meio viajada, isso me levou de volta à sensação que o Ian Anderson e o Jethro Tull me passaram no show. Isso foi realmente algo que você teve intenção de fazer, passar essa sensação ‘viajada’, sensação meio stoner? Misturada com a música mais extrema, claro.

Olli:

Sim, totalmente. Eu estava realmente pensando em usar essa estética de prog rock no álbum. Por exemplo, Orion Landal, o artista que fez a parte visual do álbum, não tinha ainda ouvido o som do Octoploid, e eu pedi a ele para fazer uma capa meio hippie como se fosse para uma banda de rock progressivo, e foi o que ele fez. Eu acho que combinou bem! Embora ainda tenha aquela parte metal, eu gosto de misturar um pouco as coisas, porque já temos tipo, dez milhões de capas de death metal por aí (risos), e em se tratando da música, eu realmente escolhi não tocar com músicos que sejam totalmente do metal dessa vez — com exceção dos vocalistas, claro —, e a produção foi feita de uma maneira bem mais old school, não seguimos nada das diretrizes modernas de metal quando começamos a gravar. Acho que deu bem certo, tem uma vibe meio rústica ali, e era assim que deveria ser mesmo. Claro, eu gosto e estou acostumado com a produção moderna, mas eu queria voltar um pouco para como era lá nos anos noventa, combinar com elementos do rock progressivo dos anos setenta e um pouco do rock alternativo dos anos noventa. Queríamos assim. E se acontecer do Octoploid se tornar algo, vamos desenvolver mais ainda como banda.

Fernando:

Ah, era isso que eu queria mesmo perguntar. Você tem a ideia de tornar o Octoploid uma banda em tempo integral? Bom, talvez não tempo integral mesmo, mas algo que faça shows e turnês?

Olli:

É uma ideia realmente tentadora, sabe? Colocar a banda em turnê e tal. Bem, parece que o Amorphis não vai fazer turnê no ano que vem, então vai ser algo legal tentar fazer alguns shows com o Octoploid, mas acho que ainda é um pouco cedo para dizer se isso seria possível mesmo. Também vai depender como o álbum vai ser recebido pela mídia, pelo público, porque você precisa de alguma venda do álbum.

Fernando:

Precisa de alguma forma de medição, não é?

Olli:

Isso! Isso mesmo, precisa de alguma medição para ver se vai haver demanda para shows e turnês do Octoploid. Eu realmente espero que sim, mas por enquanto está em aberto. Nós naturalmente temos falado sobre isso, todos estamos abertos a essa ideia atualmente.

Fernando:

Creio que achar espaço na agenda pode ser um problema, não? Colocar todos juntos e viajar, já que todos também têm suas bandas.

Olli:

É, isso também é verdade. Por enquanto, o mais importante é que eu vou ter tempo no ano que vem, porque como é meu álbum solo, não temos uma formação realmente restrita, não precisamos ficar presos a uma formação. Acho que podemos ter pessoas que possam substituir outras ali em turnê e tocar essas músicas. Claro, seria muito legal fazer com o Mikko (Pietinen), Peter e Kim, que são da banda. Mas por exemplo, o Mikko Kotamäki (vocalista) é um cara muito ocupado, que logo mais vai lançar um álbum com o Swallow The Sun, mas todos sabemos que podemos ter um vocalista substituto, por exemplo. Mas, enfim, quem sabe qual formação o Octoploid vai ter daqui um ou dois anos, é algo que fico pensando.

Fernando:

Certo! Bem, quando eu ouvi pela primeira vez que você estava fazendo um álbum solo, eu fiquei pensando ‘hm, um álbum solo de um baixista? Bem, vamos ver o que tem aqui’, e acabou que não é algo de você mostrando habilidades no baixo apenas, mas é simplesmente sobre a música em si. Eu achei um tanto surpreendente e também muito bom! Achei muito bom que é algo sobre música e não sobre o instrumento em si. Você acha que é algo que as pessoas vão pensar ‘ei, é um álbum de baixista, focado no baixo’ à primeira vista?

Olli:

Ah, realmente agradeço por isso! Sim, para mim pessoalmente é sempre sobre música, é a música que vem primeiro e todo o resto é secundário. Não acho que tocar muito tecnicamente é algo tão importante e eu realmente prefiro ouvir um Black Sabbath do que algo super técnico, como alguns prog metal. Não quero citar nomes, claro, mas para mim é a música que vem antes de tudo, depois também as letras. Se você ouvir, por exemplo, os álbuns solo do Roger Waters, ele não tenta vir com técnicas malucas de baixo, ele só quer criar grandes músicas, e deveria ser isso mesmo. Claro, eu gostaria de tocar assim muito rápido (risos), mas não é uma grande prioridade para mim. Eu provavelmente teria aprendido a tocar assim se eu achasse muito importante.

Fernando:

Então tudo que você quer agora é mostrar sua música mesmo.

Olli:

Exatamente isso.

Fernando:

Ok, sobre as participações no álbum, como por exemplo o Tomi Joutsen, que é quase como uma lenda para nós fãs. Como foi a aproximação nos caras para dizer ‘ei, vou fazer um álbum, você quer participar dele?. Foi algo natural?

Olli:

Foi algo bem natural, sim. Basicamente foi algo de chegar e falar ‘ah, tudo bem se você não topar, mas talvez você poderia gravar uma música para o meu álbum’ – e a maioria simplesmente disse que sim. Foi realmente algo muito fácil porque eu já tinha as demos, já tinha escrito as letras, as linhas vocais e os arranjos, e eles só vieram e tocaram ou cantaram, foi bem reto e direto. O Tomi Koivusaari, por exemplo, foi coisa de quarenta e cinco minutos de gravação. O Tomi Joutsen também, simplesmente veio aqui no meu pequeno estúdio e eu gravei os vocais dele rapidinho. Então foi algo bem tranquilo, não foi de forma alguma um problema colocar essa galera ali, são caras com quem tenho ótima relação. Eu tentei colocar todos que fazem parte da minha história musical. Ficou faltando o Pasi Koskinen, mas tudo bem.

Fernando:

E quando foi que você teve a ideia de gravar um álbum solo? Foi algo durante a pandemia, ou algo mais recente?

Olli:

Olha, na verdade é algo que já tem uns vinte anos que comecei a pensar que poderia fazer um álbum eu mesmo. Mas eu não tinha tempo,  nem muito material já composto ou uma carreira extensa. Até que uns três anos atrás eu cheguei à conclusão que eu poderia montar finalmente um álbum. Claro, a pandemia afetou também, já que tínhamos muito tempo livre para pensar sobre as coisas. Então, eu com 48 anos de idade na época pensei ‘ok, quando eu estiver com 50 anos eu vou lançar um álbum’. Logo comecei a fazer algumas demos e pensei ‘é, estão muito boas, posso usar elas no álbum’, por isso é algo que soa tão fresco e também porque não é algo com tanta produção de estúdio. 

Fernando:

Ok, só uma última pergunta. Eu sei que a Finlândia é conhecida por ter uma das melhores cenas de heavy metal no mundo. Você acha que para alguns próximos projetos ou álbuns você gravaria algo mais melódico, com mais vocais limpos, algo como Stratovarius ou Sonata Arctica? Eu sei que não é exatamente algo que você esteja acostumado a tocar, mas quem sabe?

Olli:

Bom, eu diria que se eu fosse fazer algo com vocais limpos, definitivamente não seria relacionado a metal. Seria algo mais voltado ao alternativo, ou algo bem original. Talvez voltado aos anos setenta, algo completamente novo para mim. Eu não sou exatamente muito chegado em bandas de metal só com vocais limpos, tirando clássicos como Ozzy Osbourne, mas power metal não é muito minha praia, é algo que eu provavelmente não me atreveria a fazer. Porém, seria interessante algo com vocais limpos apenas, alguma coisa mais obscura.

Fernando:

Algo mais doom metal, talvez.

Olli:

Também! Funciona bem para doom metal. Algo com bem mais partes acústicas. É algo que levaria realmente bem mais tempo para fazer, pois é um pouco fora da minha esfera, mas seria de fato muito interessante fazer.

Fernando:

Certo! Bem, muito obrigado de novo pela entrevista, foi um prazer falar com você novamente.

Olli:

Eu quem agradeço, foi um prazer te rever, mal posso esperar pela próxima!

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