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[Entrevista] Hammerfall: “Não ouvir o que as pessoas pensam que você deveria fazer é a receita do nosso sucesso”, conta guitarrista

Em entrevista para o Tramamos, o guitarrista e líder da banda Hammerfall Oscar Dronjak fala sobre o seu amor pelo heavy metal, a passagem da banda pelo Brasil e o novo álbum Avenge The Fallen

Hammerfall é um dos maiores nomes do heavy metal mundial e com uma carreira consolidada que já passa dos 30 anos. Mas isso não é motivo para seus músicos se acomodarem e apenas curtirem a fama, já que a cada lançamento e show, a banda coloca toda sua dedicação e coração nisso.

Após tocarem no Brasil no Summer Breeze em São Paulo, um show solo em Brasília e uma turnê pelos Estados Unidos, a banda se prepara para lançar seu mais recente álbum Avenge The Fallen no dia 9 de agosto de 2024.

Para falar sobre o novo lançamento e o amor pelo heavy metal, nossa jornalista Tamira Ferreira entrevistou o criador e guitarrista do Hammerfall Oscar Dronjak e você confere tudo abaixo:

Você disse que criou o Hammerfall para tocar as músicas que você cresceu ouvindo e amava. Mas a banda acabou originando um estilo pessoal que acabou sendo seguido por outras bandas. Como foi esse início e a criação da personalidade do Hammerfall?

Oscar: O que aconteceu foi, como você disse, eu queria tocar a música que amava, que gostaria de ouvir e mais ninguém estava tocando no momento. Então foi fácil para mim apenas fazer isso.

Mas isso foi no começo dos anos 90, então foi difícil achar alguém que dividisse a minha visão do que era o heavy metal, ou que ousariam dizer que gostavam, porque eu acho que havia muitas pessoas que, no fundo, gostavam. Mas acabaram indo para um estilo mais pesado ou mais agressivo do metal que era popular na época.

O que eu fiz foi encontrar quem compartilhava essa visão comigo para tocarmos juntos. Porém, como todos já tínhamos bandas e tudo mais, e porque ninguém realmente achou que seria uma opção viável, isso seria apenas para nós mesmos.

A gente faria isso apenas para nos agradar, basicamente.

Mas essa atitude de bloquear o que as outras pessoas dizem é a razão de estarmos aqui conversando hoje. Não ouvir o que as pessoas pensam que você deveria fazer é a receita do nosso sucesso.

Você mantém esse amor pela música após todos esses anos? Você tem hábito de ouvir novos artistas ou bandas?

Oscar: Eu venho fazendo isso por tanto tempo que eu não tenho a mesma paixão pelas músicas de outras pessoas como eu tinha.

As músicas que eu amava, o que são muitas, eu ainda amo e escuto muito. Mas eu não descubro muitas bandas novas que eu realmente gosto.

Há algumas, como uma banda da Noruega chamada Wig Wam. Eu os conheci através do Eurovision que é uma competição de canções que eles participaram.

Por muitos anos eu não estava interessado e não queria ouvir nada deles, mas, uma vez que eu os ouvi, eu percebi que é uma banda incrível.

Então eu descobri coisas novas, mas eu não sigo o estilo musical como eu costumava.

Mas você ainda ouve as bandas que costumava ouvir há 30 anos?

Oscar: Absolutamente! Esses nunca vão sair de moda.

A questão é: Eu posso ouvir, por exemplo, Balls To The Wall do Accept, eu devo ter ouvido cem ou mil vezes esse álbum. Então eu não consigo ouvir mais toda semana porque eu me canso. Precisa ter espaços de tempo mais longos.

Mas quando esse tempo passa, e vale para qualquer álbum, quando eu ouço de novo, é o mesmo sentimento de quando eu era jovem. E esse é um ótimo sentimento porque eu ainda amo isso mais que qualquer coisa.

Na hora de compor, você encontra alguma dificuldade para se manter sempre se renovando e fazendo algo novo?

Oscar: Você entendeu, é verdade, pode ser difícil. Eu preciso ser cuidadoso para não repetir o que a gente já fez.

Quando a gente escreve música para um álbum, eu quero que ele soe familiar para as pessoas que estão ouvindo. Mas eu quero que soe novo para eles e não apenas algo que a gente já fez nos álbuns anteriores.

Eu quero que os fãs pensem: “Isso é o que eu esperava, mas muito melhor”.

O Hammerfall tem um estilo que fala herói e batalhas, mas as músicas do Hammerfall falam muito sobre sentimentos e tem até um lado mais filosófico. Estava ouvindo o álbum e Hope Springs Eternal me remeteu a isso. Essas composições acabam vindo de momentos que vocês vivem ou coisas que vocês acabam se inspirando externamente, como livros, filmes?

Oscar: Joacim escreve as letras para o Hammerfall 99,9% do tempo, mas acho que a gente tem um bom jeito de trabalhar juntos.

Normalmente, eu componho a músico e faço uma demo com uma drum machine. Se eu tiver uma melodia para o refrão ou ideia, eu exponho isso também, o que normalmente é o caso. E eu já tenho o título da canção.

Então ele fica, não com a música completa, mas a base da música para trabalhar.

O que ele faz é ouvir a música, ele já sabe o título, e coloca seus próprios sentimentos nela. Então ele escreve o que ele sente ouvindo o que aquela canção diz para ele.

Isso é muito legal! Estava ouvindo o álbum e fiquei curiosa como era essa criação. E você cria conceitos para os álbuns, já que escreve os títulos? Você tem em mente a história que esse álbum seguirá?

Oscar: Não, nada disso! A gente não tem um álbum conceitual há anos.

O mais próximo que chega a um conceito nesse álbum é que a maioria das músicas lidam com a liberdade de se expressar e ser quem você é. Esse é o tema principal da maioria das canções.

Para mim, esse é o espírito do heavy metal, é isso que o estilo me ensinou desde que comecei a ouvir quando era criança. Siga seu próprio caminho, e como a gente conversou antes, se não tivéssemos feito isso, não estaríamos aqui hoje.

Eu acho que esse é o maior poder do heavy metal.

Oscar: Eu concordo!

Algo que chama bastante atenção nas músicas do Hammerfall são os poderosos refrões, como um grito de guerra. Isso é muito legal especialmente na hora dos shows que o pessoal canta junto. Como vocês se sentem quando veem os fãs cantando junto com vocês?

Oscar: É um excelente sentimento, com certeza! Toda vez que as pessoas gostam do que você está fazendo, então é por isso que tocamos ao vivo.

E acho que essa é a coisa mais importante de um show de heavy metal, a interação entre banda e público.

Se está todo mundo apenas olhando para a banda ou a banda está olhando para outra coisa, menos o público, o que acontece às vezes, você acaba tendo uma desconexão e nada está acontecendo.

Porém, com um show de heavy metal, eu acredito que a banda e os fãs criam essa mágica juntos.

Então quando as pessoas cantam junto com o Hammerfall significa, primeiro, que eles aprenderam as músicas, as letras. Às vezes eles cantam do começo ao fim uma canção, o que significa que eles quiseram ver as letras ou que eles têm o álbum.

Hoje em dia muitas pessoas ouvem digitalmente então, algumas vezes, eles não sabem sobre o que é a letra.

Para mim, é a coisa mais importante, quando eles passam por isso de ouvir a música muitas vezes e aprenderem a canção para cantar junto com a gente. É um sentimento muito bom.

Sim, hoje eu tenho 33 anos, mas minha memória mais antiga de Hammerfall é de quando tinha 11 anos, eu acho, e vi um vídeo de vocês tocando ao vivo e ficou preso na minha cabeça o: “This is Hammerfall”. E toda vez que alguém fala sobre vocês, vem a minha cabeça: “This is Hammerfall”.

Oscar: (risos) Isso é legal! Essas memórias são coisas que todos nós temos. Todos nós temos memórias das nossas bandas favoritas, ou qualquer coisa, especialmente quando você é tão jovem, ele te forma. Foi o que aconteceu comigo.

Eu cresci ouvindo Twisted Sister, por exemplo. Dee Snider, eu só o conheci uma vez por 5 segundos, mas ele sabe quem é o Hammerfall, eu sei disso.

Ele foi meu mentor de uma forma, através de suas letras, de fazer essas coisas que estamos falando, da liberdade de ser quem você é e tomar posse da sua própria vida porque ninguém vai te dar nada, especialmente hoje em dia. Foi ruim há 20 ou 30 anos, hoje é 100 vezes pior.

Então eu acho que Dee Snider é importante para mim. Com o espírito do heavy metal como Wolf Hoffman, ou K.K. Downing e Glenn Tipton que, para mim, são guitarristas de verdade.

Eu acho que o mais importante do heavy metal, para mim, é que eu nunca me encaixei no mundo, especialmente quando era criança. Já quando adolescente, foi mais difícil. Mas eu me encontrei no heavy metal. Não apenas na música, mas é quem eu sou, o jeito que me visto, que falo, é muito importante para mim.

Oscar: É ótimo ouvir isso, eu amei.

É a parte importante do heavy metal, muitas pessoas não se encaixam em lugar nenhum. E metal não é para todo mundo, mas quando você o encontra, você está aberto a isso e aceita, ele vai te dar muito em retorno.

É como você disse, você encontra o seu lugar ou seu espaço porque é permitido fazer o que te deixa feliz. Você não tem que fazer o que deixa as outras pessoas felizes.

Eu gostaria de falar um pouco sobre a passagem de vocês aqui no Brasil esse ano. Como foi voltar para cá mais uma vez e tocar no Summer Breeze?

Oscar: Foi o começo de uma turnê de seis semanas, porque depois de São Paulo, a gente voou para Nova Iorque e tocamos por quatro semanas nos Estados Unidos.

Então parece que foi ano passado ou há muito tempo. Mas estivemos no Brasil muitas vezes e eu sempre digo que o Brasil tem um dos melhores públicos que já tivemos. Então é sempre ótimo tocar aqui.

América do Sul em geral é sempre muito bom para shows. E é por isso que voltamos tantas vezes.

Nós tocamos em Brasília e em São Paulo, dois dias depois. Brasília foi a primeira vez que tocamos Hail To The King, porque o single havia sido lançado um dia antes ou naquele dia, eu não lembro.

Às vezes, quando a gente toca uma nova música ao vivo pela primeira vez pode ser ótimo, ou um desastre, porque as pessoas não estão certas. Ou alguém erra, algo assim. A gente errou várias vezes durante esse ano, mas nesse dia foi ótimo.

Nos sentimos muito bem e todos os fãs estavam prontos para o “hail” que fazemos na música. Foi uma ótima experiência. Me lembro disso com muito carinho.

Eu estava ouvindo o álbum e quando tocou Hail To The King, eu dei um grito: “Ah, eu já ouvi essa canção”. (risos)

Oscar: Ah, sim, exatamente! (risos)

Vocês lançaram o clipe de Hail To The King e ficou uma grande produção cinematográfica. Patric Ullaeus fez um trabalho excelente. Como foi gravar esse clipe? Vocês pareciam estar se divertindo muito fazendo aquele clipe.

Oscar: Videoclipes são difíceis de fazer porque, normalmente, tem muita espera, então você fica entediado muito rápido. Mas a gente não se via há meses. A banda não esteve junta desde setembro do ano passado quando tocamos o último show. Porque quando gravamos o álbum, não estamos todos juntos ao mesmo tempo.

Eu acho que isso ajuda, se a gente não se vê há um tempo, é um clima divertido.

Acho que foi um vídeo legal de gravar e foi bem rápido. Patric sabe o que ele quer, ele é muito bom nisso, na sua direção e no que exatamente fazer. Ele toca a música quantas vezes for preciso e depois edita tudo. É muito simples trabalhar com ele.

E o resultado é grandioso, realmente bom.

Sim, eu amei! Eu me senti como uma criança vendo um filme.

Oscar: Isso é muito bom, eu amei ouvir isso.

Vocês vão lançar o álbum, Avenge The Fallen, no dia 9 de agosto. Eu ouvi o álbum, mas o que os fãs podem esperar?

Oscar: Eu sempre fico muito confiante quando gravamos algo. Sabe, a última coisa que você grava, você tem que sentir algo, senão por que o lançar?

Mas eu acho que a gente conseguiu melhorar muitas coisas que estávamos tentando. Uma deles foi a energia da performance ao vivo e da produção, da forma que tocamos.

Não é algo que você consegue tocar, é a energia geral quando você ouve a música. É a sensação da música ao vivo dentro da gravação.

E é difícil porque eu nunca toco uma canção do começo ao fim e acaba. A gente sempre volta e edita algo. Então capturar esse sentimento ao vivo é muito difícil, mas a gente se divertiu muito gravando. Foi bem relaxante e sem stress.

A gente gravou aqui, onde estou agora, no nosso próprio estúdio, então a gente não tem pessoas batendo na nossa porta para sairmos. E encontramos uma boa maneira de gravar.

Para mim, quando ouço o álbum, há algumas coisas que eu sei que foi criação nossa, uma delas, como guitarrista, é como soa a guitarra, é claro. É importante para mim sentir que isso soa incrível, poderoso e energético.

E eu acho que a gente conseguiu, absolutamente, fazer isso dessa vez.

A gente usou algumas coisas novas, mas a maioria foram as mesmas. Houve muitos ajustes finos nisso.

Mas eu acho que Pontus, Fredrik e Nordström, o produtor, acertaram nesse álbum. Toda vez que eu ouço o álbum e a guitarra, eu penso: “Sim, é exatamente como deveria ser. Fizemos tudo certo com isso”.

Mas sobre as músicas, é muito difícil dizer para quem não ouviu o álbum o que esperar porque eu não sei o que você vai esperar.

Mas eu acho que esse álbum tem 10 canções realmente fortes. Eu acho que se você tirar uma canção, vai faltar algo, o que é ótimo para um álbum. Mostra que o álbum é completo do começo ao fim. E eu acho que a gente fez um excelente trabalho, eu amo todas as músicas.

Também acho que havia muitas escolhas para single, mas tivemos que usar três ou quatro. O que é um bom sinal você ter essas canções que poderiam ser singles, mostram que elas são fortes também.

O tempo irá dizer, vamos ver. Mas estou muito feliz com esse álbum. 

Essa foi a nossa entrevista, muito obrigada pelo seu tempo, foi ótimo falar com você.

Oscar: Obrigado pelo seu tempo e se cuide!

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