[Entrevista] Demon: “Isso soa como pessoas que acabaram de sair da cadeia e querem fazer algo”, diz vocalista sobre recente álbum
Em entrevista para o Tramamos, o vocalista e fundador da banda da Demon, Dave Hill, fala sobre as mudanças de estilo, a pausa na carreira e o mais recente álbum Invincible
Demon é uma banda inglesa de heavy metal que surgiu no começo dos anos de 1980 seguindo um estilo que era considerado o “new wave do heavy metal”, mas após seu terceiro álbum, eles passaram a seguir um estilo mais progressivo em suas músicas.
Após 50 anos de carreira, eles estão lançando seu mais recente álbum, Invincible, e querem alcançar novos continentes com suas músicas.
Nossa jornalista Tamira Ferreira conversou com o vocalista Dave Hill e você confere tudo abaixo:
Dave: Você não consegue me ver? Mas eu te vejo e seu sorriso.
Tamira: (risos) Agora eu consigo te ver, você está muito chique, gostei do chapéu.
Dave: Eu tive que me trocar porque está calor aqui.
Tamira: Aqui estamos no inverno e está frio essa semana, mas é raro estar frio aqui no Brasil, mesmo no inverno.
Dave: É um lugar que eu nunca fui, mas espero que consiga um dia.
Tamira: É um lugar maravilhoso, espero que você venha, vai gostar.
Dave: Eu tenho certeza de que sim, já ouvi muito a respeito.
A banda era considerada o new wave do heavy metal inglês. Como foi para vocês criarem o Demon no começo dos anos de 1980?
Dave: A gente não sabia que se chamava isso na época, é só quando você olha para trás que percebe que era parte.
A gente era apenas uma banda de rock. O punk havia acabado, havia apenas alguns lapsos e muitas bandas passaram a tocar em bares e casas de shows.
De repente, a banda estava sendo contratada e fazendo álbuns. Nós assinamos com a Carrere Records, mas não era o Demon que você espera.
O mais estranho também é que quando você faz muitas turnês, eu não via muitas bandas quando tocava nesses bares. Mas apenas quando o tempo passa, você percebe que era parte de algo chamado “new wave do heavy metal britânico”. O que está bom, muito bom.
Depois vocês mudaram drasticamente o estilo da banda para um metal mais progressivo. De onde surgiu essa vontade de seguir um novo estilo para banda?
Dave: O que aconteceu depois dos dois primeiros álbuns é que esse new wave, que chamamos agora, desapareceu, não durou muito tempo. As bandas maiores surgiram como Saxon, Iron Maiden e Def Leppard.
A gente estava indo bem na Europa, por isso iríamos continuar, mas o estilo desapareceu e as bandas acabaram. Porém a música seguiu em frente e o trash metal era o que fazia sucesso. E havia uma invasão americana. Então esse era o novo período.
E vocês acabaram seguindo esse caminho?
Dave: Para responder a sua pergunta, eu acho que sim. Eu nunca quis fazer o mesmo álbum. Talvez se fossemos ricos e famosos, a gente faria mais 10 do mesmo jeito (risos), mas a gente estava indo bem.
Eu era muito fã de Pink Floyd, Deep Purple e todas essas bandas de antigamente. Eles nunca fizeram o mesmo álbum e eu queria isso. Então quando fizemos o The Plague, que foi o terceiro álbum, era uma declaração sobre o mundo, na verdade.
Quando teve o fim do new wave, ou você seguia em frente, ou se tornava realmente grande e famoso, como o Saxon. O Demon seguiu por outro caminho, decidimos seguir em frente e fazer mais músicas.
É a beleza da música! Ela é tão rica que você pode seguir diferentes caminhos e criar seu próprio estilo.
Dave: A gente teve algum sucesso, mas passamos muito tempo na Europa, na Alemanha e lugares aonde o sucesso vinha dos primeiros dois álbuns. Então passamos muito tempo longe da Inglaterra. E como eu disse, tivemos a invasão americana.
Então fomos atrás de outras coisas. E sempre fizemos isso.
Eu gosto de mudar, grandes artistas tiveram suas mudanças.
Vocês se separaram em 1992, voltando apenas em 2001. Como vocês tomaram essa decisão de parar com o Demon e depois de voltar em 2001?
Dave: Na verdade a gente não se separou em 1992, a gente teve uma pausa. Nós estávamos juntos desde o final dos anos 70 trabalhando muito e fazendo turnês.
Chegamos ao ponto que queríamos uma pausa, então a gente decidiu fazer isso.
Eu fiz um álbum solo para uma companhia alemã, não era algo que queria fazer, mas eu tinha algumas faixas e fiz aquilo.
Em 1998, a gente fez o primeiro festival Bang Your Head na Alemanha que foi um sucesso. Estávamos de volta na estrada.
Mas foi uma pausa longa, por anos (risos). Acho que é por isso que as pessoas acharam que vocês haviam se separado.
Dave: Sim.
E como você se sentiu com essa volta quase 10 anos depois. Teve um gosto diferente voltar com a banda após tanto tempo?
Dave: Depois do Bang Your Head, que foi um grande festival, acabou nos trazendo de volta. E com a internet, que foi um grande meio de promover as bandas.
Quando chegamos nos anos 2000, estávamos sendo contatados de vários lugares.
Eu acho que muitas pessoas pensaram, porque não erámos uma banda de grandes estádios, a gente era chamado de “banda lendária”. Mas a internet fez coisas incríveis para o rock sueco, lugar que tocamos muitas vezes. Então um grande festival nos ligou.
As pessoas achavam que a gente não queria tocar, mas isso acabou sendo uma mudança depois do Bang Your Head. Era um novo período.
Eu acho que nos últimos 20 anos, a gente não olhou mais para trás porque acabamos viajando para todos os lugares. Há um mês tocamos no Japão, o que era algo que sempre quisemos. Foi espetacular! E mudou muita coisa para nós e a nossa música.
Vamos falar sobre o álbum Invincible, como foi o processo de composição?
Dave: Ele surgiu porque quando a Covid… A gente lançou um álbum, estávamos em turnê de 2018 até 2020 e tocávamos as músicas antigas. Muitas bandas estavam tocando as músicas antigas e fizemos isso com os dois primeiros álbuns, Night Of The Demon e The Unexpected Guest.
Então, começou a pandemia e todo muito foi afetado, a gente não podia tocar. Foi quando eu me reuni com o baterista, Neil, e naquele momento queríamos fazer alguma coisa e escrevemos muitas canções.
Quando acabou o isolamento, as bandas estavam voltando para a estrada, era como um novo começo porque podíamos tocar ao vivo.
Entramos no estúdio com esse material e começou a soar muito bem por causa do nosso entusiasmo. No final das contas, estávamos muito satisfeitos.
Fomos muito afortunados, porque tivemos ótimas resenhas do álbum e as pessoas parecem gostar.
Mas acho que vem da ideia de sempre escrevermos da mesma forma, a gente mantém mais comercial, não importa se temos temas mais pesados.
Eu escuto o álbum e penso: “Isso soa como pessoas que acabaram de sair da cadeia e querem fazer algo” (risos).
Esse álbum acaba falando sobre ser quem você é como em In My Blood, seguir os seus sonhos, metas como em Rise Up e não desistir do que você quer porque somos invencíveis. Aí temos Forever Seventeen que é uma reflexão sobre o passado e sempre se manter jovem. Como você se inspira para criar as letras das músicas? Há alguma conexão com a pandemia?
Dave: Não é um álbum conceitual, você mencionou algumas faixas. Por exemplo, Rise Up, eu estava conversando com um jornalista antes dessa entrevista, não lembro seu nome. Ele disse que gostou de Rise Up e que há um espírito ali.
Eu disse que era engraçado ele dizer isso porque ele foi escrito durante a pandemia. E dissemos que com o fim da Covid, a gente pode ter uma comemoração e o mundo irá se erguer (Rise Up).
Forever Seventeen é um sentimento… Eu estava trabalhando com Neil, fizemos uma faixa chamada Time Has Come há muito anos, que era sobre um período no tempo. E ele disse: “Por que a gente não escreve algo recente?”
E eu pensei que toda vez que eu entro no estúdio é como se eu tivesse 17 anos para sempre, é como a primeira vez que estivemos lá, a primeira vez que escrevemos uma música. Foi daí que escrevemos Forever Seventeen.
In My Blood é sobre gerações passando para gerações. Face The Master é porque sempre, desde o começo da banda, somos grandes fãs de filmes de terror e sempre há um mestre.
Havia coisas que estavam acontecendo que pensamos sobre e coisas que gostamos.
Eu vejo esse álbum como uma celebração dos 50 anos da banda…
Dave: Exatamente!
Eu acho que é a melhor forma de mostrar o Demon para as pessoas porque tem o heavy metal e outras músicas que são mais progressivas.
Dave: É o que chamamos na Inglaterra: “Uma vitrine do seu trabalho”. E Invincible é a vitrine de tudo que já fizemos.
Você acertou nessa! Você ouviu o álbum.
Sim! Às vezes eu erro na minha interpretação, mas agora estou certa.
Dave: 100% certa.
Alguma expectativa de turnê? Eu vi que vocês têm alguns festivais agendados.
Dave: A gente tem alguns festivais na Alemanha e outros lugares pela Europa.
Estamos animados com isso, porque está havendo muito interesse, no momento, pelo álbum e a banda. Eu acho que vamos estar bem ocupados ano que vem.
Seria ótimo ir para a América do Sul, nunca estivemos aí, já fizemos entrevistas e coisas assim, mas é o único lugar que ainda não estivemos.
Tem um festival aqui no Brasil que é o Monsters of Rock, vocês deveriam tentar vir nele.
Dave: Fale sobre a gente para eles que vamos.
Sim, aí vocês me levam para o festival.
Dave: Se rolar, eu te pago uma bebida (risos).
É um lugar que já foi mencionado para irmos, mas nunca aconteceu. Mas, esperançosamente, a gente conseguirá ir e tocar para as pessoas.
É ótimo tocar aqui, seja show para 10 pessoas ou 50 mil, a energia é sempre alta.
Dave: Todo mundo me diz como é, então a gente tem que ir.
Eu tenho uma curiosidade que não é uma das minhas perguntas, mas eu gostaria de saber. Como você mantém a sua voz? Porque a qualidade no álbum é altíssima e você ainda canta da mesma forma que 50 anos atrás.
Dave: Eu me sinto bem! Eu não fumo, eu tento me manter saudável, apesar de gostar de beber. Mas eu gosto de me cuidar porque, se você o faz, dá uma chance.
E há sorte também. Eu cuido da minha voz e me sinto bem no momento, então, esperançosamente, vai continuar porque temos mais gravações a fazer.
Essa foi a nossa entrevista, muito obrigada por falar comigo.
Dave: Foi um absoluto prazer e espero que a gente se encontre algum dia quando a banda for para o Brasil.
Sim, eu também espero.
Dave: Continue falando para as pessoas ouvirem o álbum. E obrigado ao Brasil por tudo.