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[Entrevista] Loss: “Para uma banda ser do rock, isso é um pilar, você tem que ser revolucionário, tem que questionar e não aceitar qualquer coisa”, diz baterista

Em entrevista para o Tramamos, o baterista Teddy Bronsk fala sobre a criação da banda, a cena heavy metal de Belo Horizonte, o lançamento do seu mais recente álbum Human Factor e o papel revolucionário do rock n’ roll

A banda Loss é relativamente nova, surgindo durante a pandemia em 2020, porém ela pode ser considerada um supergrupo por ter em sua formação músicos renomados da cena mineira.

Para falar sobre o início da banda, sua trajetória e o álbum mais recente, Human Factor, nossa jornalista Tamira Ferreira conversou com o baterista da Loss, Teddy Bronsk.

Eu gostaria de começar falando sobre o início e a criação da banda. Como que tudo começou?

Teddy: No final do carnaval de 2020, a banda Concreto, que eu fazia parte com o Marcelo (vocalista), encerrou as atividades. Naquela época, eu tinha decidido parar de tocar porque eu toco desde 1986, eu sou membro fundador do Witchhammer, então foi muita estrada e eu resolvi parar.

O Marcelo entrou em contato comigo porque ele estava com o Edu Megale, que é um guitarrista daqui de Belo Horizonte, e eles estavam fazendo músicas, mas eles só queriam gravar. Marcelo me disse que não iria me levar para a estrada de novo, que era só para gravar essas músicas e eu aceitei.

Gravamos as quatro músicas. Isso foi um mês depois que a Concreto acabou, estava na pandemia, já estava começando o isolamento. Então a gente começou a fazer tudo online.

A gente foi indo, indo, de repente, eu estava na estrada de novo (risos). Quando liberou para tocar, eu já estava na estrada de novo porque eu gostei muito do som. Eu pensei: “Os caras vão tocar essas músicas que são muito boas, heavy metal no estilo que eu mais gosto de ouvir”.

Depois de gravarmos esse EP chamado Let’s Go, o Edu saiu da banda e nós conhecemos o Adriano (atual guitarrista). Quando ele entrou, o “trem” deu uma deslanchada de tudo: show, música… O cara é um “riffeiro” nato, não para de fazer riff.

Agora estamos aí viajando e tocando.

E foi um renascimento para mim porque eu tinha decidido parar de tocar, mas estou com a Loss e não consigo mais parar (risos).

É quase um supergrupo porque todos os integrantes vieram de outros projetos e bandas? E como foi criar o estilo da banda?

Teddy: Olha, Tamira, as bandas que eu participei, tanto a Concreto, quando a Witchhammer, a gente não pensava qual tipo de som vamos fazer, a gente fazia. E no Loss é a mesma coisa.

O riff vem, a letra, o swing e se nos agradou, está pronta. A gente não fica pensando em qual estilo, a gente vai fazendo música.

Eu sou bem feliz com a minha carreira musical por tocar em bandas assim.

Até a parte da brasilidade que a gente tem na The Mirror é uma influência que o Adriano tem de música brasileira. A gente fala que somos uma banda muito eclética porque o Marcelo e o Adriano já tendem mais para o rock n’ roll clássico, a MPB, eles conhecem muito. O Marcelo é professor de música.

Eu já sou mais do lado do metal, eu vim do trash metal, do heavy metal. Então junta as coisas.

O Adriano sabe, às vezes ele faz um riff e me manda no Whatsapp com uma risadinha e eu já sei que vai ser um riff pesado. Indiferente se tem um lance brasileiro ou se tem um batuque que lembra a África, o que for, é pesado.

Inclusive, no último ensaio, a gente decidiu parar e tocar o setlist porque vamos começar a fazer shows. Mas o Adriano já chegou cheio de riffs, querendo atrapalhar tudo (risos).

O álbum saiu agora, espera (risos).

Teddy: O cara é uma máquina de fazer riff.

E vocês compõem em inglês e português? Por que vocês decidiram seguir esse caminho?

Teddy: A única que a gente forçou ter nas duas línguas foi Material Delight porque era para ser em português, mas não sei por que o Marcelo quis gravá-la me inglês também. Mas sai na vibe.

O Marcelo é o músico profissional da banda porque ele vive disso, ele estuda música.

Como a música Deus do Human Factor é uma base de uma banda que o Adriano teve chamada Caixa Acústica e o Loss começou a usar essa base para fazer uma introdução de show. Quando o Adriano começou a escrever a letra de Deus, o Marcelo terminou e disse que a letra encaixava com aquela introdução.

Eu percebo que ele (Marcelo) sabe o que encaixa, mas a gente faz a maioria em inglês. Não sei, cantar heavy metal em português, você tem que saber escrever muito bem, porque é muito difícil.

O português não é tão “cantado” quanto o inglês.

Teddy: Até o espanhol é mais cantado, fica muito mais musical cantar em espanhol, eu falo no heavy metal, claro, não estou falando de música brasileira como o samba, o pagode, isso é daqui, já é aquele estilo.

Eu conheço mais sobre a cena paulistana do rock. Como é aí em Minas ter uma banda de rock, ainda mais como a Loss?

Teddy: Tem muitas bandas boas! Vou até pegar alguns nomes para você. A banda que, para mim, está mais se destacando é a Hellway Train. Tem o Pesta, Pathologic Noise que está fazendo turnê pelo Brasil inteiro. O Eminence dispensa apresentações. Chacal, Witchhammer está fazendo coisa nova.

Então para que, depois de um torpor, está rolando e tem mais outras bandas que eu estou ouvindo no Spotify porque eu queria ouvir mais bandas de Belo Horizonte.

A cena está acontecendo e tem gente fazendo os eventos, as casas de shows para rock. As bandas estão firmes, é claro, cada um tem a sua vida, seu trabalho, mas parece que está acontecendo de todo mundo querer tocar.

Estamos tendo shows de bandas gringas por aqui.

Lista de bandas: Sin After Sin, Payback, Overdose, Holocausto, Multilator, Morton.

Essa safra nova está surgindo com força porque as bandas são boas, tocando ao vivo são bons e discos são bons.

Vocês lançaram o álbum Human Factor, como foi o processo de composição dele?

Teddy: Quando a gente voltou da Europa, depois da turnê do Storm, nós falamos que precisávamos fazer coisas novas. Então pensamos em ficar lançando singles.

Para você ver como as coisas acontecem, o primeiro single chama The Storm, que é o nome do último álbum. Ou seja, era uma música que já estava engatilhada, mas não deu tempo de colocá-la no disco. Ela não estava boa o bastante.

Eu falei para gente trabalhar com essa música e fazer um single com ela.

A gente lançou o single, depois de 3 meses lançamos a The Mirror, mais 3 meses e lançamos Leaving.

Nesse momento, estava para virar o ano para 2024. Então a gente decidiu fazer um disco. Já tínhamos 3 músicas lançadas que cabem no disco, vamos fazer o resto.

O Som do Darma nos ajudou com as metas, criando planilhas. Foi umas das melhores parcerias que fizemos.

Era praticamente uma música por mês, dois ou três ensaios, e gravação.

Passavam os arranjos com o metrônomo, o Marcelo cantando sem a bateria e chegava para mim. Eu abria um “suquinho de cevada”, ouvia as músicas e ia pensando na bateria.

Nisso, estávamos fazendo shows. Às vezes a gente precisava parar as gravações para ensaiar para os shows e fixar as músicas.

Porém, fomos no cronograma e deu tudo certo.

A Human Factor foi a última a ser composta, foi na “forca”, não tinha como esperar. Nós ensaiamos o dia todo, gravamos a bateria e o baixo, e o Adriano gravou as guitarras durante a semana, porque o estúdio era na casa dele.

No outro fim de semana o Marcelo gravou a voz e terminamos.

Foi prazeroso, porque a gente tinha o que fazer. Parece que sobre pressão a gente faz as coisas.

Ele foi mixado e masterizado na Dinamarca. Me conta como que isso aconteceu.

Teddy: Tue Madsen já tinha trabalhado com a Concreto nos seus dois últimos EPs. Então já estávamos em contato com ele.

Como a Loss estava nascendo, o Tue é muito caro, porque ele é o melhor.

Para fazer o Storm, estávamos na transição, construindo estúdio na casa do Adriano. Decidimos remasterizar com um produtor da Grécia. Ele acabou fazendo por 10% do preço do Tue Madsen. Não ficou ruim, mas não ficou Tue Madsen (risos).

Aí a gente vê que até da gente inteirar o valor do bolso vale a pena. Que é o que mais acontece, isso quando a gente não segura tudo sozinho.

O álbum tem um tema bem legal de falar sobre o futuro e a tecnologia. O rock acaba trazendo sempre temas atuais e sociais. Como você vê a importância do rock para ser revolucionário e pensante?

Teddy: Essa é uma característica intrínseca do rock. Ele nasceu assim, questionando, e atento ao que está acontecendo.

Para uma banda ser do rock, isso é um pilar, você tem que ser revolucionário, tem que questionar e não aceitar qualquer coisa. Algo que está se perdendo hoje.

A IA está no nosso meio, eu vejo isso no meu trabalho, sou professor de física. E o Adriano é muito pesquisador, ele gosta de usar programas, plugins, inteligência artificial.

Nós estamos a usando para fazer as capas dos singles e a do Human Factor. Porque a gente presa em gastar dinheiro na música. Claro que se a gente tivesse dinheiro e poder, eu iria querer uma capa desenhada por um artista daqui de BH, mas é caro, aí a gente teria que tirar dinheiro da música para fazer isso.

Para nós, a inteligência artificial foi uma solução na arte.

Inclusive, já fomos criticados, o que é normal, todo mundo pode dar opinião. Falaram que o que faltou para o disco foi uma capa feita por um artista.

Precisa perguntar se esse pessoal está comprando o disco para vocês terem dinheiro para o próximo.

Teddy: Ah, tem isso também! A galera que mais reclama não compra o disco e não vai no show. Então eu não ligo para isso.

Mas o tema é muita real! Você pode, hoje, colocar o rosto de alguém falando algo que nunca disse. Aí entra no problema das fakes News que virou “verdade” no Brasil. Um veículo de imprensa hoje não é mais usado como informação, todo mundo está buscando em rede social. E com a inteligência artificial, você faz o que quiser.

Eu e o Adriano gostamos muito de ficção científica, ficamos vendo as séries e filmes novos da mesma forma que assistia Mad Max, Blade Runner, Star Wars, hoje a gente vê o que a IA pode ser nas séries e filmes novos. É algo que a gente sempre está conversando e debatendo.

A música é uma válvula de escape do que você vive.

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