[Entrevista] Lacuna Coil: “Uma vez que trabalhamos na música e lançamos, elas estão lá para as pessoas. Elas podem se sentirem felizes ou tristes, depende como quer usá-la”
Em entrevista para o Tramamos, Andrea Ferro, vocalista masculino da banda Lacuna Coil nos conta sobre o processo de criação do álbum Sleepless Empire, as influências da banda e como ele vê a música ultimamente
A banda italiana Lacuna Coil tem uma carreira consolidada há mais de 20 anos e está se preparando para lançar seu mais recente álbum Sleepless Empire.
Eles também estão com uma turnê pelo Brasil agendada para março que passará por São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília.
Para falar sobre o novo álbum e o estilo musical da banda, nossa jornalista Tamira Ferreira conversou com o vocalista Andrea Ferro e você confere tudo abaixo.
Como você está?
Estou bem, em casa, estou me preparando para toda a loucura do lançamento do álbum, as entrevistas para visto, as logísticas da turnê, voos, canções, tudo que envolve para se preparar para o próximo álbum.
Soa muito legal! É o começo do ano, então tem muitas coisas para fazer, você está animado?
Sim, estamos muito animados, mas também são muitas coisas para cuidar porque não são apenas as canções ou o lançamento do álbum. O álbum está pronto, então não precisamos pensar nisso, mas precisamos pensar nos ensaios, na turnê, ainda precisamos fazer mais fotos, videoclipes e algumas divulgações também. Mas é bom, significa que temos algo novo para mostrar.
Eu gostaria de começar perguntando sobre o começo da banda. Porque vocês eram constantemente unidos com as bandas de metal melódico como Epica, Nightwish e Within Temptation, talvez pelo vocal feminino, mas o estilo de vocês não tem nada a ver com metal melódico. Como foi criar o som do Lacuna Coil?
Eu acho que vamos progredindo a cada álbum, não foi algo que aconteceu da noite para o dia, levou muito tempo.
Quando a gente começou, soávamos mais como as nossas bandas favoritas da cena do metal gótico como Paradise Lost ou Type O Negative. Depois acabamos sendo contaminados, por fazer muita turnê, descobrindo outras bandas como In Flames e Nevermore. Então entramos com o começo do nu metal com bandas como Korn, Deftones e Slipknot.
Toda vez que vamos gravar um novo álbum, a gente absorve alguma influencia diferente de bandas que descobrimos ou saímos em turnê. A cada passo vamos por essa direção.
Depois de Broken Crown Halo, tivemos uma mudança de membros, e eu acho que Marco, nosso compositor e baixista, se sentiu mais livre para tentar outras coisas. Algo que fosse mais parecido com essas novas pessoas na banda e seguiu a forma como a música estava vindo.
Há bandas que são muito boas em repetir a fórmula e se aperfeiçoar a isso. Outras bandas já precisam evoluir e seguir um novo caminho. Eu acho que somos mais nesse estilo que inspiram outras bandas e estão sempre desenvolvendo o seu estilo a cada álbum.
A gente não consegue repetir exatamente a mesma coisa. Temos nosso estilo e você pode reconhecê-lo porque estamos por aí há muitos anos, mas acho que estamos sempre um pouco mais diferentes a cada álbum.
Foi muito difícil sair do tradicional que estava sendo feito? Houve um tempo em que vocês pensaram que deveriam fazer o que eles estavam fazendo ou decidiram focar no que vocês queriam e criar seu próprio som?
Talvez a gente deveria ter feito isso, mas não seríamos possíveis de fazer (risos). Mesmo que devêssemos, não é o nosso gosto, então não era o jeito que queríamos seguir.
Se a gente tentasse soar como o Epica ou alguma outra banda, eles são ótimos no que fazem, mas não é para nós. Nós somos mais do experimental, em um estilo mais pesado, ou mais metal na nossa forma, um metal diferente.
Eu acho que é ótimo ter os dois, ter o Epica, Lacuna Coil, o Nightwish, Within Temptation, Evanescence, sabe? Arch Enemy e todos os outros.
Hoje em dia, talvez, porque se tornou mais tendência ter mulheres no vocal, a qualidade do que está vindo, é muito difícil ver algo realmente bom. Eu acho que há muitos músicos bons, mas não muitas bandas com um som único. Muitas bandas são boas, mas soam muito com o que já foi feito. E eu não acho que seja uma forma boa de atingir o sucesso.
As bandas acabam ficando famosas porque elas vão atrás do seu próprio estilo, como o Nightwish com um estilo mais ópera, inicialmente com a Tarja e depois algo diferente, mas ainda muito clássico, sinfônico e bombástico.
Todas essas bandas têm a sua marca, o que as diferencia das outras. Então eu acho que é importante achar o seu caminho. Não é fácil e leva muito tempo, mas é mais importante do que tentar ser o novo Epica, isso não dá certo.
Cada banda que faz sucesso é única no seu jeito, talvez eles não tenham inventado o gênero musical, mas, definitivamente, conseguiram interpretar de uma forma pessoal.
Vocês estão para lançar o novo álbum dia 14 de fevereiro. O que os fãs podem esperar desse álbum? Nos dê alguns spoilers.
Se você tiver ouvido as músicas que já lançamos até agora, você irá notar uma mudança no estilo. Algumas canções são mais pesadas, como Oxygen, outras são mais sombrias e gótica como Gravity. Tem outra canção chamada I Wish You Were Dead que é mais pegajosa. Outras canções são mais lentas.
Há uma variedade de canções, mas eu acho que cada música é muito específica, muito bem desenhada. Tem muita tensão em cada refrão, cada parte e cada arranjo.
Para dar uma ideia, é uma mistura de Black Anima e Comalies XX. É meio que uma nova direção que estamos indo, mas sempre o próximo será diferente.
As músicas desse álbum têm bem a cara do Lacuna Coil, algumas lembram canções mais antigas como Never Dawn e I Wish You Were Dead e outras soam mais como o estilo mais recente da banda, como The Siege e Oxygen. E tem músicas que são mais novas ainda como Scarecrow. Como vocês se renovam mesmo depois de tantas décadas de banda?
A gente também gosta de olhar as novas bandas, a gente gosta de ver para onde a música está indo hoje em dia. E as novas bandas têm algo que não temos, que é a novidade.
Quando você conhece alguém mais novo, uma banda, mas também uma pessoa, ele tem uma nova abordagem, a mesma quando você tem dos seus pais, por exemplo. Então essa novidade, apenas uma banda nova pode ter.
A gente tem experiência, nosso próprio estilo, a gente sabe como escrever uma canção, como escrever letras e estamos mais maduros, é claro. Mas esse frescor somente vem de uma geração mais nova de músicos.
Isso é importante para nós. A gente ainda gosta dos clássicos, escutamos as bandas de sempre, mas é sempre bom pesquisar e ver novas bandas.
A gente gosta de ouvir coisas novas, eu sempre fico animado quando descubro uma nova banda que tem um som novo.
É difícil porque há tantos lançamentos hoje em dia por causa da forma que a música é distribuída, com as plataformas. Você acaba sendo bombardeado todos os dias com tantas bandas. E é difícil achar algo bom, a qualidade é sempre difícil de achar.
Para achar algo bom você precisa realmente procurar, escolher e ouvir diferentes coisas. É por isso que eu ouço todos os dias as novas propostas das plataformas de streaming, as descobertas, para achar bandas interessantes. Também ouço playlists que eles nos incluem, o que está junto e é novo.
É importante manter seus ouvidos para o que é novo e fazer uma mistura com o seu estilo e ir para um lugar que você goste nas novas direções.
As novas bandas que estão surgindo, que chamam de metal moderno, como Spirtbox e Jinjer, para mim, eles acabam tendo uma similaridade com Lacuna Coil, o que vocês estavam fazendo todos esses anos, com os vocais limpos e os screams. A gente acaba vendo bandas muito novas seguindo esse estilo que vocês já fazem há mais de 20 anos.
É verdade, eu concordo. Eu acho que, mesmo sendo diferente, eles acabam tendo uma raiz em comum com o que a gente já está fazendo, com certeza.
Eu acho que nós somos parte da cena do metal há tanto tempo, então é normal que talvez tenhamos inspirado algumas bandas ou que eles tenham pegado algumas ideias, algo do estilo.
Gosto muito dessas bandas, Jinjer e Spiritbox, eles são muito legais. Também gosto do Bad Omens, Bring Me The Horizon, Sleeptoken, há muitas bandas incríveis. Sendo mais pesada ou não. Estou sempre curioso a pesquisar novas bandas.
Vocês terão participações especiais nesse álbum. De onde surgiu a ideia de convidar o Randy Blithe do Lamb Of God e a Ash Costello?
Quando a gente começou a pensar em colocar algumas participações, Randy foi obviamente uma escolha. Ele é um amigo antigo, a gente se conhece desde 2004, quando tocamos em festivais juntos. Ele tendo sido um grande fã da nossa banda, a gente sempre foi muito fã de Lamb Of God. Ele é quase como um familiar para nós.
Somos amigos além da música.
Foi uma escolha natural o ter como primeiro convidado.
Ash, a gente a conhecia, mas não pessoalmente. A gente queria colocar outra vocal feminina nessa canção, mas queríamos que fosse algo mais rock, mais ríspido, mais sujo. Não queríamos um vocal limpo ou lírico porque a música tinha outra vibe. Então a perguntamos, a gente deu a parte dela e recebemos arranjos muito bons. Algo bem americanizado, o que não fazemos muito. Mas gostamos muito do que ela fez e foi uma boa colaboração.
A gente tinha muitos outros nomes, muita gente que falamos a respeito, mas a gente não queria colocar muita gente nesse álbum porque já temos dois cantores na banda, então não queríamos centenas de vozes.
Talvez no futuro a gente chame mais pessoas.
É difícil, porque quando você tem a ideia, você precisa achar a canção certa para dar a pessoa certa que irá cantar no tom adequado. Então não é tão simples colocar um convidado.
Porém, estamos muito felizes com essa tentativa de colocar mais dois cantores.
Esse álbum fala muito sobre as pessoas em sociedade, mas de um sentimento muito pessoal e interno. Quando vocês vão compor, como surge as ideias para as letras? E como é esse sentimento que vocês acabam expressando no álbum?
Normalmente nós gostamos de falar sobre coisas que vivemos pessoalmente. Dessa vez, levamos muito tempo para achar o foco do álbum, porque a gente veio da pandemia e a gente não queria falar exatamente sobre isso porque já tinha passado e não a queríamos trazer de volta. A gente também não se sentia muito criativo nessa época, tudo estava muito raso, não nos sentíamos muito vivos.
Costumamos viajar, ver as pessoas ao redor do mundo e nos inspirávamos com o que víamos, o que ouvíamos, mas dessa vez a gente ficou em casa por dois anos. Não houve tanta inspiração.
Levamos muito tempo para focar e finalmente encontrar o conceito de Sleepless Empire. Uma vez que tivemos isso, começamos a trabalhar realmente no álbum. Até termos isso, também pelo Marco, a criatividade para visualizar as coisas como nome, um título que nos desse uma imagem. A partir daí começamos a criar.
Foi quando a gente decidiu falar sobre temas pessoais, como sempre, e muito foi baseado no que estávamos vendo a nossa volta, especialmente a sociedade hoje em dia. Ela mudou muito porque depois da pandemia muitas pessoas não vivem mais da mesma forma de antes. Fazem o oposto, então eles saem todos os dias e nunca voltam para casa, ou fica muito mais em casa do que antes. Foi importante analisar isso.
Tivemos sorte porque pudemos viver o mundo como era antes do digital, e agora estamos vivendo essa era. Com isso a gente consegue pesar as duas experiências.
Para as pessoas que já cresceram com um telefone em sua mão, ou com a internet, eles nunca tiveram que viver a vida antes de celulares ou a internet. Então a gente acabou analisando como a sociedade reage a esse novo mundo.
Foi como a gente começou e cada canção vai a um tópico específico sobre como a sociedade, ou nós mesmo, reagimos ao novo mundo.
Eu acho que é um tópico muito interessante e estamos muito felizes com as letras. A gente gastou muito tempo trabalhando nas letras porque sentimos que é muito importante.
Cada pessoa acaba fazendo sua própria interpretação do que escrevemos, isso é normal, sempre foi assim. Mas é importante para nós darmos a eles uma alta qualidade nas letras. Porque hoje em dia a música é muito superficial às vezes e as letras não são tão importantes, mas para nós são.
Eu ouvi o álbum e tive uma interpretação muito pessoal com as letras, sobre coisas que estou vivendo na minha vida. Depois eu vi uma entrevista com a Cristina e ela falava sobre o tema ter conexão com a tecnologia. Eu fique um pouco assustada porque era uma completa interpretação diferente das músicas.
Sim, quer dizer, a gente escreve de uma forma que todas as pessoas podem se conectar, com certeza.
Para nós, uma vez que trabalhamos na música, nas letras, lançamos as canções, eles estão lá para as pessoas pegarem e fazer o que quiserem. Eles não precisam sentir da mesma forma que a gente quando escrevemos a música.
Os fãs podem trazer a música para eles mesmo, se sentirem felizes ou tristes, se consolarem com ela, depende como você que usá-la.
O Lacuna Coil tocará no Brasil em 2025 e terá produção da Overload:
Os ingressos começam estão sendo vendidos pelo site Clube do Ingresso.
- 15/03: São Paulo (Carioca Club) – Esgotado
- 16/03: Curitiba (Tork N’ Roll)
- 18/03: Belo Horizonte (Mister Rock)
- 19/03: Brasília (Toinha)