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BLIZZCON | Em entrevista, cofundador da Blizzard afirma que não tinha ideia de que ‘Diablo Immortal’ seria tão mal recebido pelos fãs

Durante uma sessão de perguntas e respostas na BlizzCon após o anúncio do jogo ‘Diablo Immortal’o infame lançamento da Blizzard para dispositivos móveis, e apenas para eles -, um fã vestindo uma camiseta vermelha se aproximou do microfone e perguntou [sem dó]:

“Eu estava pensando… esse é algum tipo de piada de primeiro de abril fora de época?”

O público no local foi à loucura, mostrando o quanto aquela simples pergunta refletia a incompreensão e insatisfação dos presentes. Esse foi apenas o começo de um final de semana longo e complicado para a gigante produtora de jogos. A empresa estava preparada para uma reação forte dos fãs, mas diz que não tinha ideia de que a recepção do novo título seria tão negativa.

 

 

Diante da pergunta, um dos desenvolvedores no palco respondeu:

“Não. Esta é uma experiência completa de Diablo para plataformas móveis que todos vão poder aproveitar e, esperamos, irá trazer novos heróis [jogadores] para o Santuário, assim como receberá de volta nossa comunidade de jogadores. É algo com que estamos realmente empolgados.”

Apesar das palavras do apresentador, reações negativas furiosas continuam tomando conta das redes sociais da Blizzard, YouTube, Reddit e outros sites.

Em grande parte, a origem dessa revolta foi um post liberado em agosto deste ano no blog da empresa e que tinha a intenção de acalmar os ânimos da fanbase e esclarecer que vários projetos envolvendo a franquia Diablo estão em desenvolvimento, mas que também afirmava que haveriam novidades sobre o jogo a ser apresentadas durante o evento.

Assista ao vídeo da Blizzard, publicado dia 08 de agosto, e que deixou muitos fãs cheios de expectativas.

 

O anúncio deixou muitos fãs ansiosos por notícias sobre o possível lançamento de Diablo IV, talvez a inclusão de uma nova classe em Diablo III ou, se tudo mais falhasse, uma remasterização do jogo original. Ao invés disso, receberam a notícia de que um jogo para Android e IOS está sendo desenvolvido, em colaboração com a – mal falada – produtora chinesa NetEase [famosa na China por promover jogabilidades pay-to-win, ou seja, em que o jogador que pode investir dinheiro em itens do jogo, invariavelmente tem vantagem sobre os outros].

Muitos fãs receberam a notícia como um sinal de que a Blizzard está abandonando os PCs e consoles em favor do mercado de jogos para celular e, portanto, dando as costas para todas as pessoas sobre a admiração – e o dinheiro – das quais a empresa foi construída. A conclusão a que o público chegou é de que esse é um exemplo claro da postura distante que a empresa vem adotando nos últimos tempos.

 

 

Esse sentimento foi intensificado durante o Q&A, quando Wyatt Cheng, um dos principais designers do jogo, ao ser vaiado diante da afirmação de que ‘Diablo Immortal’ atenderá apenas o público mobile, perguntou em tom irônico:

“Vocês não tem celulares?”

Como resultado, as mídias sociais da empresa estão sendo tomadas por acusações de que a Blizzard está matando Diablo [a franquia] e chamando o jogo de ‘tapa na cara’. Já existem grupos convocando o fandom a boicotar o lançamento e petições online pedindo o cancelamento do novo título. Existe um boato de que, preocupada com as proporções tomadas pela recepção negativa de ‘Diablo Immortal’, a empresa estaria removendo dislikes da cinemática do jogo e dos vídeos com trailers de gameplay, massivamente criticados no YouTube. Os que defendem a Blizzard, no entanto, afirmam que nenhum dislike está sendo excluído, mas sim, o YouTube estaria apresentando um problema de flutuação do algorítimo que pode ser influenciado por múltiplos votos das mesmas contas.

Veja o vídeo teaser do jogo, que conta – no momento deste post – com quase 2,5 milhões de views, 13 mil likes e 417 mil dislikes.

 

Em entrevista para o site Kotaku durante a BlizzCon, o produtor executivo e cofundador da Blizzard, Allen Adham admitiu que a empresa esperava que nem todos fossem receber as notícias positivamente, mas “nada no nível do que está acontecendo”.

“Sabemos que nosso público é apaixonado, e focado nas jogabilidades para PC e console” – ele disse – “Já vimos isso antes. Uma resposta parecida aconteceu quando anunciamos o lançamento de Diablo para os consoles e também quando anunciamos o lançamento de Hearthstone.” É claro que existe um elefante, do tamanho do senhor da escuridão e do terror, no meio da sala. As pessoas esperavam ver Diablo IV. “Isso dito, sabíamos que nosso público esperava ver e ouvir uma coisa em particular.” Falou Adham, em referência a qualquer jogo que suceda Diablo III.

Apesar disso, Adham afirma que ele e sua equipe fizeram o melhor possível.

“Na Blizzard, não anunciamos nada a não ser que estejamos prontos. Se trata da qualidade dos jogos, muito mais que de tempo. Tudo gira em torno de proporcionar aos jogadores experiências inesquecíveis. […] Tentamos nos adiantar um pouco com o post no blog, para que todos soubessem que estamos trabalhando em várias coisas e continuamos a trabalhar em várias coisas, mas ficou claro que a indescritível paixão do público por Diablo se manifesta de formas interessantes.”

 

 

Ele também falou sobre a estrutura da equipe responsável por ‘Diablo Immortal’ e explicou que se trata de uma colaboração entre uma equipe sediada na Blizzard e uma equipe sediada na China, na NetEase. Enquanto os dois times interagem com a equipe do Diablo ‘principal’, os responsáveis por ‘Diablo Immortal’ e os responsáveis por Diablo são equipes distintas, trabalhando em projetos distintos.

“Na verdade, são dois grupos diferentes. É isso que tentamos dizer antes. Sei que existe na comunidade [fãs] o medo de que estejamos focados em uma coisa e não em outra. O fato é que existem várias equipes trabalhando em vários projetos ainda não anunciados para Diablo, mesmo depois deste anúncio [Diablo Immortal].”

 

 

Houve fãs que chegaram ao ponto de afirmar que ‘Diablo Immortal’ se trata de uma reskin (versão idêntica, mas com visual diferente) de um RPG de ação lançado anteriormente pela NetEase. Adham nega que isso tenha acontecido dizendo que toda a arte e habilidades parecem ter saído diretamente de Diablo III e foram produzidos para o ‘Diablo Immortal’, e nenhum outro jogo.

“Quero assegurar a todos que ‘Diablo Immortal’ foi completamente desenvolvido do zero” – e, para esclarecer a questão envolvendo as similaridades com o jogo anterior da NetEase, esperialmente o esquema de controle por toque, que é basicamente idêntico ao do RPG de ação citado pelos fãs – “Na Ásia, esse tipo de controle se tornou quase que onipresente, porque é muito natural e é ótimo de jogar. Ele não é tão comum nos jogos ocidentais, mas já começamos a ver alguns jogos que estão trazendo essa mecânica também no ocidente. Estamos apenas nos inspirando em alguns dos trabalhos que eles já realizaram.”

Assista ao trailer de jogabilidade (gameplay) e veja um pouco do novo jogo e das mecânicas criticadas pela fanbase.

 

Para piorar, o universo dos jogos online é quase uma terra sem leis, povoada por negócios exploratórios que se baseiam em problemas reais, como o vício em jogos. A Blizzard, em contrapartida, sempre procurou implementar sistemas em seus jogos que são exploratórios em sua essência, mas que tem efeitos e influências muito menos prejudiciais. Como resultado, o público teme que a empresa acabe abraçando o ‘lado negro’ das microtransações com ‘Diablo Immortal’. Sobre o assunto, Adham não foi capaz de oferecer nenhuma resposta concreta e preferiu apenas mencionar o histórico da Blizzard.

“Pense no que a Blizzard fez nos últimos trinta anos. Produzimos muitos jogos diferentes e usamos modelos diferentes: produtos físicos que oferecemos, downloads digitais… o World of Warcraft, que é baseado em assinaturas mensais… Hearthstone e Overwatch, que têm loot boxes [vale lembrar que, em alguns países, a prática é considerada ilegal e existe uma controvérsia muito grande quanto à sua legalidade ao redor do mundo] e loot packs. Heroes of the Storm é outro jogo grátis. Espero que nossa comunidade veja que, durante todo esse tempo, alguns temas centrais nos motivam na Blizzard, e eles são: ‘Produzir jogos fantásticos e entregar aos nossos jogadores experiências irresistíveis e de valor ético’. Esses valores guiam a maneira como pensamos sobre isso então, seja um jogo premium ou grátis, nosso norte continua sendo esse.”

 

 

Adham atribui toda a raiva que está sendo dirigida à Blizzard no momento à paixão dos fãs.

“Eles amam o que amam, e querem o que querem. Essa paixão é, na verdade, o que nos motiva e nós também a sentimos. É por isso que fazemos jogos e a razão de fazermos jogos por quase trinta anos – e é por isso que nossa comunidade é tão apaixonada pelas nossas franquias. Eu entendo o que eles estão sentindo e espero que possamos compartilhar mais [informações] sobre as coisas maravilhosas que estamos fazendo, não apenas para a franquia Diablo, mas também na empresa como um todo.”

 

 

De qualquer forma, Adham espera que, no fim, a Blizzard consida agradar a todos.

“Esperamos que nossos fãs inveterados joguem esse jogo e se apaixonem por ele, aprendam novas coisas sobre a história por trás do universo, mas se engagem com um tipo parecido de gameplay que já conhecem e adoram. A diferença principal será que agora eles poderão levar essa experiência no bolso e jogar em qualquer lugar, a qualquer momento. Além disso, queremos atrair um público novo, e mais amplo, que talvez goste de RPGs de ação, mas nunca teve a chance de jogar Diablo. Então, se nós formos realmente bons no que fazemos, atrair todo um novo público que joga no celular, mas nunca jogou um RPG ou RPG mobile antes. Fazer tudo isso do jeito certo é um desafio sobre o qual refletimos todos os dias.”

Aida Mori

It’s me, Mori_A! Colunista de um pouco de tudo. Apaixonada por música, literatura, videogames, cinema e gatos. Provavelmente velha demais pra essa maluquice. Escorpiana, paulista, millenial, nerd, taróloga, mãe de gatos.

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