Converge entrega show histórico para fãs brasileiros; saiba como foi!
Os reis do “metal torto” de Massachusetts finalmente fizeram sua estreia em terras brasileiras, em um evento promovido pela Powerline Music & Books.
Resenha por: Guilmer Da Costa
A noite era especial para os fãs do “metal torto” que o Converge vem praticando há quase 35 anos. A banda foi formada em 1990, em Massachusetts, nos EUA, e é um dos expoentes do gênero metalcore (a fusão entre metal e punk/hardcore). O Converge também ajudou a popularizar a vertente mathcore, mais experimental e caracterizada por melodias complexas e caóticas, com tempos quebrados.
A turnê latino-americana do quarteto chegou a São Paulo após passagens por México, Costa Rica, Colômbia, Chile e Argentina, sempre com shows explosivos. Após dois adiamentos, a banda fez sua estreia nos palcos brasileiros. O Converge viria ao Brasil originalmente em 2020, mas cancelou a viagem por causa da pandemia de Covid-19. A estreia foi adiada pela segunda vez em abril deste ano devido a problemas de saúde do guitarrista Kurt Ballou. Agora, chegou a hora. O gosto amargo ainda estava na boca dos fãs latinos, mas isso finalmente ia sumir. A noite prometia muito.
MEE:
Com o público em peso na porta do Cine Joia, muitos chegaram cedo para conferir a apresentação da banda MEE, responsável por aquecer os motores.
MEE é uma banda de São Paulo, composta por quatro membros e em atividade desde 2016. Em seu som, as influências de bandas de hardcore moderno, como Code Orange e Harms Way, e de metal, como Crowbar, Type O Negative e Acacia Strain, estão muito bem mescladas. A banda apresenta um conceito de música agressiva e emocionalmente instável, liricamente falando, que se destaca no cenário musical pesado atual.
Foi meu primeiro show da banda. Confesso que escutei as músicas e não me despertaram muito interesse, então a expectativa estava bem baixa. Aí foi meu erro e acerto. A apresentação começou com a pesada “Electric Blanket & Chicken“, do primeiro álbum completo da banda, “Mee”, lançado em 2023. Foi aí que a banda me ganhou: donos de um peso absurdo, quebrado e muito técnico. Seguindo com as músicas “Bargain” e “Depression“, era impossível ficar parado. As rodas se formaram, e braços e pernas começaram a girar. A cada música, fiquei mais fascinado pela banda. Era um peso diferente das bandas atuais, um daqueles casos clássicos de “a banda é melhor ao vivo do que em estúdio“. As músicas têm de tudo: metal, hardcore, progressivo, gótico, bossa nova. É uma bela salada de experimentalismo e peso.
Na parte final do show, tocaram as faixas “Day of Demolition“, “Weight” e “Saturated“, todas do EP “The Unsustainable Burden”, lançado em 2019 e muito elogiado na época. Se a noite não fosse do Converge, com certeza seria o melhor show de uma banda de abertura que presenciei neste ano. A Powerline acertou em cheio na escolha, ponto para eles.
Converge:
Após quase 40 minutos de espera, às 21h30 em ponto, finalmente os gênios incompreendidos sobem ao palco. A banda, composta pelos membros fundadores Jacob Bannon (vocalista) e Kurt Ballou (guitarrista), juntamente com Nate Newton (baixista) e Ben Koller (baterista), começou o arregaço sonoro com uma trinca poderosa: “Eagles Become Vultures“, “Dark Horse” e “Under Duress“. O caos foi instaurado, e o público respondia na mesma intensidade.
Sem tempo para respirar, tocaram “Heartless“, uma das minhas favoritas, “Axe to Fall“, e “You Fail Me” com tudo. O setlist percorreu diferentes fases da banda nas mais de três décadas de história, exceto o álbum mais recente: “Bloodmoon: I“, de 2021.
Um dos maiores clássicos da banda, “All We Love We Leave Behind“, foi cantado a plenos pulmões. Eram rodas de mosh, crowd surfing, uma energia que não via em shows há muito tempo. O hardcore nos proporciona isso: essa troca de energia entre todos. Sem tempo para pensar, tocaram as intensas “Predatory Glow“, “Hell to Pay” e “Bitter and Then Some“. Nessa última, tivemos a participação do vocalista Hélio Siqueira, da banda Institution, pegando o microfone e cantando o trecho final. Foi uma coincidência feliz, já que a Institution abriria o show do Converge em 2020 ao lado dos nova-iorquinos do Sick of It All, poucos dias antes da quarentena ser instaurada em São Paulo, mas, infelizmente, todos os shows foram cancelados.
Com todos exaustos, mas felizes, estávamos chegando à parte final da apresentação. “Reap What You Sow“, “Cutter” e a pesada “Worms Will Feed/Rats Will Feast“, do clássico álbum “Axe to Fall” de 2009, fizeram a alegria dos fãs mais fiéis. O público pedia a música “The Saddest Day“, do segundo álbum “Petitioning the Empty Sky”, lançado em 1996, mas aparentemente a banda não deu muita atenção e tocou a intensa “Concubine“, uma das minhas favoritas. O Guilmer de 15 anos ficou muito feliz.
O único ponto baixo na apresentação foi nas partes de vocal limpo onde o microfone não exista, parecia não captar a voz do Jacob, se não fosse isso, seria um show perfeito, mas esse ocorrido não tirou o brilho da noite.
A banda saiu do palco assim como entrou, calada, mas voltou após cinco minutos para atender ao pedido do público, tocando a clássica “The Saddest Day“. Em sua única pausa, o baixista Nate agradeceu aos presentes e disse que é uma honra estar aqui e deseja voltar, deixando assim um fio de esperança para um futuro retorno em terras tupiniquins.
Com isso, o Cine Joia veio abaixo, encerrando uma das melhores e mais brutais apresentações do ano. Foi um privilégio ver um show de altíssimo nível. Obrigado por tudo Converge, e que não demorem a voltar.