Edu Falaschi entrega ótimo show com casa cheia em São Paulo
O último sábado de janeiro (27) foi a data escolhida por Edu Falaschi para trazer a “Eldorado Tour” para São Paulo no Tokio Marine Hall. Anunciado como “o maior show da história do heavy metal brasileiro”, a promessa de uma mega produção junto da gravação de um videoclipe vinha acompanhada da presença do lendário vocalista Roy Khan (Conception, Ex Kamelot), além do violonista Fábio Lima. José Andrëa (Ex Mägo de Oz) também foi anunciado como um dos convidados, mas cancelou no dia anterior ao show.
Resenha por: Pedro Henrique
Fotos por: Tamira Ferreira
Um bom número de pessoas já estavam presentes na fila logo no momento de abertura da casa. Dentro do hall da Tokio Marine Hall, por volta de meia hora depois da abertura das portas, o quarteto Santíssima Trindade, comandado pelo lendário vocalista Nando Fernandes (Sinistra, Ex Hangar), animava o público com covers de Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath, além de nomes derivados desses projetos. Músicas como “Highway Star”, “Rock and Roll”, “Neon Knights”, “Holy Diver” e “Stargazer” fizeram parte do setlist responsável por aquecer o público antes da apresentação. O palco principal, por sua vez, estava coberto por um longo pano vermelho que nos impedia de ver qualquer coisa. Próximo ao horário do show, o público fez jus aos anúncios de Edu em seu instagram, dizendo que restavam poucos ingressos para o show, já que as pistas estavam praticamente lotadas.
Anunciado para às 22h, não demorou muito para que as luzes se apagassem e “Quetzalcóatl” surgissem no som da casa. As cortinas se abriram e era possível ver um bonito palco, assim como o de sua turnê anterior, com cordas que simulavam uma embarcação, pequenos canhões e estátuas no fundo, tudo isso com um grande pano atrás que simulava a vista de uma embarcação chegando à terra firme.
“Live and Learn” do Angra foi a responsável por abrir o concerto e, além do som um pouco embolado entre os instrumentos, o que chamou a atenção foi que Roberto Barros (guitarra) não estava no palco, substituído por um jovem desconhecido para a maioria dos presentes. Ao fim da música, a produção colocou no telão um vídeo onde o guitarrista, em um hospital, explicava que teve um problema com uma bactéria no joelho e que estava internado desde o início de janeiro. Aparentemente, Edu e Roberto seguraram a informação, pois o público pareceu surpreso ao não ver o músico no palco e ouvindo seu vídeo.
Em seguida, Edu anunciou Victor Franco, de apenas 23 anos, que foi muito bem recebido pelos presentes. O show se seguiu com “Acid Rain” e “Waiting Silence”, ambas do Angra. Aliás, a maioria do setlist apresentado no show foram de músicas de sua época no Angra. Sua banda, inclusive, acompanha Aquiles Priester e Fábio Laguna, onde ambos fizeram parte de sua passagem pelo Angra (Laguna foi o tecladista contratado da banda por uma época).
Só na quarta música Edu e sua banda apresentaram seu próprio material com a divertida “Sacrifice” que, apesar de bem recebida pelo público, não contou com a mesma empolgação dos que estavam na plateia que as músicas do Angra traziam.
A belíssima “Millenium Sun”, também do Angra, precedeu a também muito bonita “Land Ahoy”, única faixa do álbum “Vera Cruz”, antecessor do “Eldorado”, que contou com a presença de Fábio Lima no violão, que vem acompanhando Edu Falaschi em algumas apresentações, incluindo presenças em podcasts que o cantor é convidado. Ainda nessa faixa, canhões de faíscas e fumaças eram lançados do palco.
Na sequência, “Temple of Hate” mostrou como Edu escolhe bem os músicos que o acompanham. O trio de cordas composto por Raphael Dafras (baixo), Diogo Mafra (guitarra, Dynahead) e, nessa noite, Victor Franco, não deixam a desejar na execução das músicas, assim como a dupla de backing vocals Juliana Rossi e Fábio Caldeira (Maestrick), que ajudam Edu a segurar as pontas nas linhas vocais. Raíssa Ramos, backing vocal que esteve presente em toda turnê do “Vera Cruz”, anunciou a saída da banda de Edu Falaschi na semana do show, com posts misteriosos em suas redes sociais sugerindo uma possível intriga com um dos membros da banda.
Em “Tenochtitlán”, um boneco inflável que simulava uma estátua que relembrava a cultura maia/inca (temática do álbum “Eldorado”), foi se enchendo atrás da bateria de Aquiles, porém de forma lenta, o que tirava a atenção do público para a banda, assistindo a estátua se encher. Quando pronta, a estátua pendia para o lado direito, torta, e ficou dessa forma até o fim do show. Além disso, o pano de fundo também trocava lentamente, agora com uma imagem parecida com a capa do último disco do músico.
“Bleeding Heart” foi a música que Edu pediu para que o público acendesse as luzes dos seus celulares, dizendo que gostaria de mostrar para o Brasil que a versão original dessa música também tinha força, já que a versão forró da canção gravada pelo Calcinha Preta, “Agora Estou Sofrendo”, se tornou conhecida nacionalmente. Falaschi, inclusive, participou da gravação de um show do Calcinha Preta recentemente, participando dessa música. Com Fábio Lima no violão novamente no palco, foi a vez de “Eldorado” ser executada e, além disso, gravada para o videoclipe.
Edu ensaiou com o público algumas palmas em sincronia com a bateria para a gravação (o que funcionou na hora da música). A faixa de pouco mais de dez minutos é um grande épico muito interessante. Sinceramente, para mim, é a melhor faixa que Edu compôs em seus últimos trabalhos. A gravação não precisou ser repetida, como geralmente acontece em algumas gravações ao vivo, com Edu sendo ovacionado pelos fãs no fim da faixa.
Momento esperado por muitos, havia chegado a hora de Falaschi convidar ao palco Roy Khan. Lendário vocalista do Power Metal, Khan é conhecido por carregar “a voz de Deus”, tamanha admiração que o público tem pelo antigo vocalista do Kamelot. A surpresa foi o músico participar de “Heroes of Sand”, clássico absoluto do Angra. Entre o público, piadas que o músico convidado sabia a letra aconteciam, cutucando Fabio Lione, vocalista atual do Angra, que até hoje erra a letra de várias canções mesmo estando a frente da banda por anos.
A execução da música junto de Roy Khan foi marcante e aplaudida por todos. Junto de Fábio Laguna, o vocalista norueguês cantou um pedaço de “Cry”, de sua banda Conception, emendando com “Center of the Universe”, do Kamelot, para a alegria geral dos presentes.
Com Roy Khan saindo do palco, o anfitrião da noite apresentou toda a banda antes de “Deus Le Volt!” abrir espaço para “Spread Your Fire” iniciar a parte final do show, com destaque novamente a excelente performance dos backing vocals da banda. “Rebirth” emocionou o público que acompanhou Edu a plenos pulmões assim como “Nova Era”, responsável por encerrar o show, com direito a Aquiles vestindo sua famosa máscara. Porém, com as luzes da casa já acesa e parte do público indo embora, quem ficou na casa pedia por “Saint Seiya”, que na verdade se chama “Pegasus Fantasy”, mas todos entenderam o que queriam dizer. Marcando uma geração, a música tema de abertura da primeira temporada de “Cavaleiros do Zodíaco” foi gravada em português por Edu Falaschi. Humildemente, Edu voltou sozinho ao palco, acompanhado da guitarra de Mafra, dizendo que não poderia falar não a um pedido como aquele. Fábio Lima entrou no palco enquanto o vocalista tocava “Wish You Were Here”, do Pink Floyd. Em seguida, encerrando o show, “Pegasus Fantasy” foi executada pela dupla de forma acústica, cantada por todos que ainda estavam na casa.
Para alguém que já trouxe a orquestra do lendário maestro João Carlos Martins para a gravação de um dvd, digo confiante que esse show, anunciado como “o maior show da história do heavy metal brasileiro”, não foi nem o maior show da carreira de Edu Falaschi, o que não diminui em momento algum a qualidade do que foi apresentado nesta noite. Foi um excelente show, com Edu cometendo deslizes vocais que não apresentaram nenhum incômodo no contexto geral.
Apesar de fazer parte da “Eldorado Tour”, Edu insiste em apostar nas músicas de sua época do Angra como base principal do seu setlist. Porém, vendo-o ao vivo, ele não está errado. Ver ele cantar músicas como “Rebirth” e “Nova Era” gera uma emoção diferente, já que foi com sua voz que crescemos ouvindo essas canções. Falaschi sabe o que público quer e entrega de bandeja a eles, muito bom apoiado por sua excelente banda, e faz um excelente show. Longe de ser “o maior show”, mas com muita qualidade, arrancando sorrisos de quem apoia o “loirão do metal nacional”.
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