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[Entrevista] Doro Pesch: “O que mais me influenciou foi a música em si e o fãs”; leia agora!

Confira o que rolou na coletiva de imprensa com a cantora Doro Pesch para jornalistas da Améria Latina

O maior ícone do metal mundial, Doro Pesch, está celebrando 40 anos de carreira, para isso, ela lançou o álbum Conqueress: Forever Strong And Proud que compila todos esses anos na cena do heavy metal, mostrando o amor e paixão da cantora pelo estilo.

Entre canções que enaltecem os fãs, como: True Metal Maniacs, que teve seu clipe lançado recentemente, Doro também traz dois singles com ninguém menos que Rob Halford, conhecido vocalista da banda Judas Priest.

Para falar sobre as quatro décadas de carreira, o lançamento do álbum e dos seus mais recentes videoclipes, Doro concedeu uma coletiva para a imprensa da América Latina, organizada pela Nuclear Blast.

É claro que não poderíamos ficar de fora e conversamos com a pessoa, sem dúvida, mais simpática do mundo do heavy metal.

A primeira pergunta realizada já foi sobre a parceria dela com Rob Halford nas canções Living After Midnight e Total Eclipse of The Heart. E a cantora respondeu:

Doro: “Foi muito especial. Foi minha primeira turnê em 1986 com Judas Priest, eu era muito fã. Estávamos lançando o álbum True as Steel e tocamos no lendário festival Monsters of Rock, dois na Alemanha e um na Inglaterra. Tinham 80 mil pessoas ali e foi ótimo. Então todos disseram: ‘Ok, vamos dar a essa banda uma chance’. Que era a Warlock. Conseguimos sair em turnê com o Judas Priest em 1986. Foi a turnê mais incrível, foi muito metal, muito grande e nos tornamos amigos, ainda somos.

Eu vi Judas Priest e o Rob tocando muitas vezes em festivais. Tocamos muitas vezes juntos em festivais. Ano passado, nós tocamos em um festival na França, o Hellfest. Nós dois tocamos no mesmo dia, estávamos conversando no camarim e Rob me perguntou o que eu estava fazendo, eu disse que estava terminando o novo álbum. Nós dois nos olhamos e eu disse: ‘Rob você está pensando nisso?’ Ele confirmou: ‘Sim, vamos fazer algo juntos’. Falei: ‘Cara, vai ser uma grande honra cantar uma canção’. E o Rob: ‘Vamos fazer! Mas qual música você gostaria, você tem alguma ideia?’ Imediatamente eu: ‘Living After Midnight’.

Porque eu nasci e cresci com British Steel, como vocês podem ver (Doro mostra um vinil do álbum). Era um dos meus discos favoritos quando começamos. Então contei para o Rob que amaria fazer a colaboração da Living After Midnight. Eu amo cantar essa canção, é sempre uma grande energia positiva que todos cantam juntos. Então, ele confirmou: ‘Ok, vamos fazer! Mas eu tenho um desejo também, tem uma canção que eu sempre quis gravar com você’. Perguntei qual e ele respondeu que era ‘Total Eclipse of the Heart’. Eu não esperava. Era uma escolha muito incomum, mas ele falou que ama amaria cantá-la comigo.

Fizemos as duas canções e eu estou no céu. Foi uma grande honra cantar com Rob Halford e dois duetos ainda nesse álbum. Estou muito feliz. Foi muito fácil trabalhar juntos. Até um vídeo legal, não sei se vocês viram o clipe de Total Eclipse of The Heart.”

Uma cena engraçada nessa hora foi que começaram a ligar para a cantora e ela estava esperando a pessoa cancelar a ligação. Ela disse que ligam para ela porque sabem que ela está sempre acordada a noite. Esse momento também mostrou a simpatia e carisma de Doro que agiu de forma espontânea e divertida com o imprevisto da ligação.

Ela continua dizendo que eles fizeram um vídeo muito legal para Total Eclipe of the Heart e o segundo single, Living After Midnight, é um lyric vídeo, mas tem cenas do festival Monsters of Rock em São Paulo.

Foto: Gustavo Diakov

Doro: “Porém, Total Eclipse of the Heart é apenas clipe comigo e Rob. Estou muito feliz, ficou muito bom. Sim, fizemos essa música incomum, mas eu gosto de aventuras e foi assim que aconteceu.”

Também perguntaram para Doro sobre o seu mais recente álbum Conqueress: Forever Strong And Proud e como ele soa igual a um compilado de toda a sua carreira e uma celebração a todas essas décadas dentro da cena metal. A cantora respondeu:

“Sim, eu acho que você acertou em cheio. Está entre as músicas mais pesadas como I Will Prevail e Children of the Dawn que é, pessoalmente, uma das minhas favoritas. Duetos, canções mais esperançosas como Best In Me ou Fels in der Brandung, que significa ‘você é minha rocha’.

Sim, 40 anos e vamos celebrar, tem 15 canções nele e trabalhamos por três anos. Eu acho que é um dos meus melhores álbuns e eu amo demais. Eu acho que saiu muito bem e, com certeza, soa como todos esses 40 anos, entre heavy metal, super heavy e novos elementos como. Por exemplo, Children of the Dawn e I Will Prevail, tem novos elementos por causa dos vocais guturais que é feito pelo meu baixista. Isso foi muito legal, fazer algo novo.

Têm também os dois duetos com Rob Halford e um outro dueto com Sammy Amara do Broilers. É uma grande banda alemã, já fizeram estádios e eles me convidaram ano passado para shows de Natal, para duetos. Eles são mais punk rock e metal, mas nos demos muito bem e decidimos escrever uma canção. Na verdade, foi a última canção que escrevemos para esse álbum, chamada Bond Unending. Uma música sobre amizades profundas.

Sim, é uma compilação desses 40 anos e tudo que eu amo.”

Nossa redatora Tamira Ferreira estava na coletiva e fez as perguntas que você confere na íntegra:

Tamira:Olá, como você está?”

Doro: “Olá, prazer em te conhecer.”

Tamira:O prazer é todo meu, uma honra! Você sempre fala sobre poder e força, seja na sua música ou em entrevistas. Empoderamento feminino pode ser considerado algo novo. Como você conseguiu esse poder e força quando você começou? Você se inspirava em quem? Porque eram os anos 80 quando você começou no metal e você trabalhou muito para se tornar esse ícone. De onde veio esse poder, força e inspiração para ser verdadeira consigo mesma e fazer o que você ama?”

Doro: “Foi o amor pela música, eu sempre amei música, eu sempre quis me tornar uma cantora ou musicista desde que tinha 3 anos. Eu tive essa experiência que abriu meus olhos para me tornar uma cantora, porque eu ouvi uma pessoa, não era metal, era Little Richard, a canção era Lucille e eu tinha 3 anos. Foi quando esse sonho cresceu e com 15 anos, eu tive a minha primeira banda e eu me divertia muito fazendo música. A gente não tocava tanto ao vivo, era bem pouco e pequeno.

A música sozinha me empoderava tanto. Eu ia a diferentes shows. O primeiro que fui foi Whitesnake com David Coverdale e foi surpreendente. Meu segundo show foi Judas Priest com Accept abrindo para eles. Meu terceiro show foi Ronnie James Dio e eu fui tão inspirada. Toda vez que víamos um show, nós voltávamos a nossa sala de ensaios e tocávamos. Era a música em si, o que era muito empoderador.

Eu não tive muitas modelos, não tinha muitas mulheres fazendo isso, então minhas inspirações eram os rapazes como Lemmy do Motörhead, Dio, David Coverdale e Rob Halford. Eles me deram muita inspiração, mas era a música em si que fazia a magia. Quando tocamos os primeiros shows, então eu vi que os fãs amavam, que a resposta era boa e significava algo para eles. E eu pensei: ‘Uau, quero dedicar minha vida à música e os fãs. Fazer algo que empodera as pessoas e o que as fazem felizes’.

Foi isso: a música, os fãs e ouvir grandes bandas nos anos 80. Eu fui muito influenciada pela nova onda de heavy metal, que era o Saxon, Judas Priest, Iron Maiden, Motörhead e, com certeza, Dio e Kiss. Nós nunca tocávamos covers, nós tocávamos nossas próprias músicas, o que eu achava muito legal no começo. Eu fiz isso todos os dias, eu era viciada, desde o primeiro dia, quando tive a minha primeira banda. Era algo fácil, não era um sacrifício me sentir motivada. Eu era motivada pela música, os fãs, e ainda sou. Eu ainda fico extremamente feliz quando vejo os fãs, eu ainda me sinto totalmente inspirada e motivada quando fazemos um show, quando eu vejo os fãs e falo com eles. Pela música em si, quando eu escrevo uma canção, eu fico totalmente animada com ela e não vejo a hora de tocá-la ao vivo, ou gravá-la. Fazer algo que você é apaixonada. Espero que tenha respondido sua pergunta.”

Tamira: “Sim, com certeza, eu amei! Minha próxima pergunta. Quando você pensa nesses 40 anos, o que você acha que mudou, de uma forma positiva, e o que você acha que ainda precisa mudar no futuro?”

Doro: “De uma forma positiva, eu acho que é ótimo que você pode fazer tudo sozinho, é um faça você mesmo. Você não depende mais de agências, empresários ou uma gravadora atrás de você. Você precisa de uma grande gravadora, um grande time, mas você é um pouco mais independente. Você consegue fazer tanta coisa com as mídias sociais, você pode falar com os fãs diretamente. Isso é ótimo! Eu acho que ser independente é ótimo, é muito melhor do que ter pessoas te dizendo o que fazer.

Nos anos 80, tinha muitas pessoas que me diziam que eu tinha que ser mais comercial, ter músicas hits, o som precisar ser mais para cima e para tocar nas rádios. Não queríamos de maneira nenhuma. Tinha muita pressão. Agora você pode fazer o que ama. Quando eu mudei para uma gravadora independente, como a Nuclear Blast, foi um sonho, porque todos disseram: ‘Faça o que você faz melhor, você conhece os seus fãs’. Definitivamente foi incrível ir para uma gravadora independente e me sentir livre. Isso é algo muito positivo, eu acho. Você pode criar sua própria fanbase fazendo suas coisas.

Por outro lado, eu sinto falta dos discos, eu era muito viciada em vinis que tem fotos como esse (Doro mostra um vinil do seu álbum), fotos que lutamos muito para conseguir. Vinil, CDs… Não sou muito fã de Spotify e streamings, eu gosto dos objetos em minhas mãos com toda arte, essas coisas.

Eu tento ser old school na hora de produzir, mas é difícil de fazer, porque muitas gravadoras ficam só no digital e você precisa lutar para conseguir o produto físico. Eu espero que a gente consiga ainda produzir vinil pelos próximos 10 anos e CDs. No último álbum até tivemos fica cassete.

Então, todas essas coisas antigas, eu gosto e espero que continuemos a produzir, não apenas digital. Digital é bom porque você pode lançar no mundo inteiro, mas eu gosto de ter algo na minha mão. Eu sou uma colecionadora de vinis, eu acho que é muito legal ter tudo no vinil. (Doro mostra o vinil do seu álbum). Tem história como uma linha do tempo, muitas coisas para olhar e eu acho que a embalagem completa é importante: o disco, o som, o visual, os vídeos… Eu gosto disso. Mas é uma era do digital, é claro, então temos que viver com isso, mas eu gosto das coisas antigas.”

No meio da coletiva, Doro manda uma mensagem para as jovens mulheres que estão começando no mundo do rock e heavy metal. Achei que seria interessante deixar para o fim e encerrar de uma forma positiva essa entrevista que foi leve e divertida, assim como a nossa entrevistada.

Doro:Para todas as garotas do metal, estou tão orgulhosa de vocês, eu amo o que vocês fazem, o que vocês sentem. Nunca deixem esses bastardos diminuírem vocês, sempre dê todo o seu poder. Faça o que vocês amam e nunca deixem eles mudarem vocês. Vá em frente, com força total. Sempre siga o seu coração que não tem como errar. Mas saiba que terão altos e baixos, então nunca desistam. Apenas faça todos os dias e sigam o seu instinto, seu coração. Tente ter boas pessoas ao seu redor, que acreditam em você. Se ninguém acreditar em vocês, apenas acredite em você mesma e faça o seu, com força total. Siga o seu instinto, sua alma, se expresse e continue. No começo é mais difícil, mas conforme você vai seguindo, você verá o que dá certo, o que é bom, e se mantenha com isso. O que você acha que as pessoas gostam, o que você se sente confortável. Quanto mais você faz, melhor você fica e traz autoconfiança. Estou atrás de você, te apoiando em todos as formas que você quiser ir. Se divirta com isso e saiba que vale a pena. Todo o trabalho duro, toda a dor, vale a pena no fim. E você conseguirá, se você resistir e se fizer todos os dias, se possível.”

Nós do TrAmamos gostaríamos de agradecer ao Marcos Franke e a Nuclear Blast pelo convite a coletiva de imprensa. Principalmente à Doro Pesch por ter nos cedido seu tempo e esbanjado todo seu carisma na hora de nos atender.

Fotos: Gustavo Diakov

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