Entrevistas

[Entrevista] Dream Theater: “Agora somos mais velhos e sábios”, diz Mike Portnoy

Em entrevista para o Tramamos, o baterista do Dream Theater, Mike Portnoy, fala sobre sua volta a banda, a preparação para a nova turnê e o sentimento em tocar no Brasil

Dream Theater é um dos grandes nomes do heavy metal mundial e está prestes a celebrar seus 40 anos de existência com uma turnê que começa no final de 2024 e durará por grande parte do ano de 2025.

Aqui pelo Brasil, a turnê passará por São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte. Mais informações aqui.

Só pela celebração dos 40 anos já é um grande momento para os fãs, mas, além disso, esta turnê contará com a volta de Mike Portnoy completando a formação original da banda.

Para falar sobre a turnê, sua volta ao Dream Theater e o futuro da banda, nossa jornalista Tamira Ferreira conversou com Mike Portnoy e você pode conferir tudo abaixo:

Mike: Olá, como você está?

Tamira: Estou ótima e você?

Mike: Estou bem!

Tamira: Meu nome é Tamira, prazer te conhecer.

Mike: Prazer te conhecer. Você está gravando?

Tamira: Sim, é a primeira coisa que eu faço. (risos)

Mike: É a parte mais importante. (risos).

Eu já gostaria de perguntar como você está se sentindo agora de volta no Dream Theater. Como está sendo voltar a ensaiar junto, compor?

Mike: É como voltar para casa, sabe? Nós três começamos essa banda quando éramos adolescentes e agora estamos aqui com nossos 50 e 60 anos.

Você sabe, nós compartilhamos uma vida junto e passamos um tempo separados. Mas estamos muito felizes por estarmos juntos de novo.

Você acha que algo mudou com o tempo? Ou ainda tem coisas que vocês mantêm mesmo depois de 40 anos?

Mike: Não, muita coisa mudou de quando eu estava na banda.

Existe uma certa dinâmica de como a gente trabalhava e com o meu tempo fora da banda, eles tiveram que reconfigurar essa dinâmica e química. E eu vinha fazendo todas as coisas fora da banda.

Então, voltar a tocar juntos após 15 anos, com certeza somos pessoas diferentes. Estamos mais velhos, mais sábios, tranquilos e mais fáceis de lidar, eu acho.

Mas ao mesmo tempo ainda somos as mesmas pessoas. A gente sente que o tempo não passou desde a última vez que estive com eles.

Você passou um tempo longe da banda, você acha que essa experiência que você adquiriu trabalhando com outras bandas deu alguma diferença quando você voltou para o Dream Theater?

Mike: Bem, eu acho que todos tivemos nossas experiências nos últimos 13 anos.

Eu fiz coisas diferentes com outras bandas e o Dream Theater fez várias coisas sem mim e eles tiveram essa experiência. Agora podemos unir tudo isso.

Como eu disse na última pergunta, eu acho que estamos mais velhos e sábios, mais maduros. Eu acho que meu tempo longe da banda me deixou mais tranquilo e me deu oportunidades de trabalhar com diferentes químicas. Algumas bandas que eu toquei nos últimos anos era mais o líder, outras bandas eu era um colaborador. E tem outras situações, como com o Avenged Sevenfold e Twisted Sister que eu era apenas o baterista.

Então eu tive essas experiências em diferentes níveis de onde era o meu lugar naquela banda e o meu papel.

Agora, voltando para o Dream Theater, eu tive que me encaixar ao jeito que eles vêm fazendo durante todos esses anos. Eles aprenderam, quero dizer, tiveram a experiência de como navegar do jeito que eles compartilham os diferentes papéis dentro da banda.

A gente tem que descobrir essa nova química agora, mas eu acho que está sendo bem tranquilo porque todos somos velhos e sábios.

(risos) Eu vou usar isso como título da entrevista: Agora somos mais velhos e sábios.

Mike: É a verdade.

O Dream Theater tem uma tradição de fazer shows longos, que duram mais de três horas. Como você se prepara para isso?

Mike: É muito! Quero dizer, é definitivamente uma grande tarefa tocar três horas desse tipo de música, que é muito intensa, sabe, e muito exigente tecnicamente.

Nós estamos nos preparando agora porque essa nova turnê vai ser bem longa durante todo o ano de 2025. E ela será em duas fases.

A primeira fase será olhando para trás, os últimos 40 anos, e a próxima fase será quando lançarmos o novo álbum e estaremos olhando para o futuro.

Sabe, há uma grande estrada a nossa frente e precisamos nos preparar, não apenas aprendendo as canções e preparando o palco para o show, os vídeos, as luzes e toda a programação para isso. Mas há também o lado físico o que é uma grande demanda para tocar por tanto tempo.

Eu sinto a minha idade, não tenho mais 20 anos. Então é algo que eu preciso definitivamente cuidar na estrada e lidar da melhor forma que conseguir.

A única forma de uma banda como o Dream Theater fazer um show completo que irá satisfazer os fãs é “uma noite com Dream Theater” e tocar 3 horas porque as canções são longas, a maioria delas, e requer um espetáculo épico para conseguir entregar essas músicas épicas.

E como surgiu essa ideia de fazer canções mais longas e shows? Porque é algo que foge do convencional de músicas com 3 minutos e shows de 1h30.

Mike: Não foi uma decisão consciente, foi uma decisão natural da música.

Quando a gente começou, com When Dream and Day Unite, as canções eram de 5 a 8 minutos de duração, no geral. Mas quando começamos a escrever Images and Words, a gente tinha Learning to Live que tinha 11 minutos. Canções como Take the Time e Pull Me Under que eram 8 ou 9 minutos. E Change of Seasons que escrevemos para o Images and Words que tinha quase 20 minutos.

Então a gente determinou desde o começo que essa era a forma que estávamos confortáveis para escrever.

Nós somos um tipo de banda que escreve uma música até sentirmos que atingiu o final da jornada, não importando o quão longo será essa jornada, 5 ou 20 minutos.

Não nos preocupa, é mais sobre o que a música precisa.

Mas eu acho que é ótimo porque eu ouço muitos músicos falarem que precisaram cortar canções maiores porque a gravadora exigiu. Mas vocês não fazem isso, a banda segue com o que é a verdade de vocês.

Mike: Sorte nossa que conseguimos dar o nosso próprio rumo com a nossa música.

Teve um período na banda que foi bem frustrante porque durante a metade dos anos 90, a gravadora estava tentando se envolver, encurtar as canções e controlar a nossa música. Foi uma grande frustração que, por muito anos, foi bem difícil.

O álbum Falling Into Infinity foi um resultado direto da gravadora tentando controlar a música e encurtar as canções. Porém, foi com Scenes from a Memory que conseguimos ter o controle da música novamente. Produzir o álbum nós mesmos e dizer à gravadora que se eles querem a banda, é isso que terão.

Mas nem sempre foi fácil.

Eu consigo imaginar. Eu gostaria de falar sobre os fãs. Acho que vocês têm umas das fanbases mais fiéis do heavy metal. Como vocês se sentem com esse apoio dos fãs, com eles cantando juntos com vocês por horas em um show?

Mike: Estou muito animado de tocar para eles de novo. Eu sonhei muitas vezes como será estar no palco com o Dream Theater de novo.

E muito dessa antecipação é baseada nos fãs, o amor e paixão que você sente nos shows dessa grande fanbase que é muito intensa sobre essa música.

Eles são os melhores fãs do mundo, mas às vezes são os piores fãs do mundo porque são tão críticos.

Eu vejo algumas mensagens e eles são tão críticos e dissertam tudo. Recebi minha porção de socos deles, assim como recebi adulação e amor. Eu também sinto a crítica.

É uma audiência que você sabe que leva essa música e banda muito a sério. E, no fim do dia, é a melhor audiência que você pode esperar.

Os shows do Dream Theater são sempre bem grandiosos, o que a gente espera é um show mais longo e uma rotação das músicas do setlist. Vocês estão preparando mais alguma coisa para esse show de comemoração dos 40 anos? E essa rotação do setlist, vocês pensam no lugar que estão ou na frequência que uma música é tocada?

Mike: Isso é algo que eu fazia no começo dos anos 2000 antes de deixar a banda porque ela já existia há 20, 25 anos. Então eu comecei a escrever um setlist diferente para cada show pensando nas pessoas que vão para vários shows durante muitos anos.

Entretanto, eu acho que a banda não vem fazendo isso durante os anos que estive fora. Agora que estou de volta, eles me deixaram escrever os setlists novamente, mas não quero que as pessoas tenham a impressão errada de que cada show será diferente, pelo menos agora.

Talvez a gente chegue nesse ponto durante a turnê, mas agora, com a minha volta, a gente quer criar a melhor celebração do meu retorno e do aniversário de 40 anos da banda.

Então eu criei um setlist para essa turnê com a celebração de todas as eras do Dream Theates e a comemoração da minha volta. Para os fãs antigos verem essa formação de novo ou os fãs novos que nunca viram a gente juntos.

Realmente, esse é o propósito desta próxima turnê.

Pode haver algumas mudanças, se tocarmos vários shows no mesmo lugar, então vamos mudar algumas coisas. Talvez os diferentes setlists para cada show voltem. Mas agora estamos focados em ficarmos confortáveis de novo e apresentar o melhor show para as pessoas que vão ver essa formação junta novamente.

Foi difícil para você escolher essas canções? Porque você teve que olhar todos os álbuns e talvez deixar canções para fora.

Mike: Na verdade, foi fácil porque agora que estivemos um tempo separados, eu consegui ter um olhar objetivo em perceber quais são as canções mais fortes, quais os favoritos dos fãs.

Quando escrevia o setlist 15 anos atrás, havia uma parte da mim que estava cansada de Metrópolis ou Pull Me Under. Mas agora não estou mais cansado dessas canções, estou animado em tocar cada uma delas.

Então agora é mais fácil de escrever esse setlist clássico porque é muito novo para mim, pelo menos.

Consegui dar um passo para trás e dizer qual seria o setlist mais legal para esse show e essa turnê.

Você já veio muitas vezes ao Brasil, como é essa experiência de tocar aqui? A primeira vez que te vi tocando aqui foi no SWU com o Avenged Sevenfold.

Mike: Eu tenho quase certeza que já toquei no Brasil mais vezes com as minhas bandas do que em qualquer outro país do mundo.

Eu toquei aqui com o Dream Theater, Avenged Sevenfold, Transatlantic, Neal Morse Band, Metal Allegiance, Adrenaline Mob, eu fiz aquela turnê com Noturnal, Winery Dogs, Sons of Apollo.

Toquei com todas essas bandas no Brasil. Fates Warning, eu substituí para eles no Brasil, eu substituí para o Stone Sour no Brasil.

Então, obviamente, é um relacionamento longo e muito completo com o público brasileiro. E, sim, é um dos melhores públicos do mundo.

Ainda hoje anunciamos outro show no Brasil.

Sim, em Belo Horizonte. (essa entrevista foi feita no dia do anúncio do show de BH)

Então é claro que é um relacionamento muito forte.

Sim, eu imagino! Como está o português?

Mike: Eu não sei, eu sei apenas “obrigado”.

Ainda falando sobre a turnê. O que você costuma fazer nos seus momentos livres? Porque a turnê pode ser bem cansativa. Há algo que você gosta de fazer na turnê, mas no seu tempo livre?

Mike: É diferente para cada um da banda. Cada um tem coisas diferentes que gostam de fazer nos dias livres.

Para mim, pessoalmente, o dia perfeito de descanso é sentar-se no meu quarto de hotel, assistir filmes e pedir comida.

A gente vem fazendo isso por, bem, quase 40 anos, mas estamos em turnê constante por mais de 30 anos.

No começo, estar em qualquer cidade ou país, você quer fazer tudo que pode, ver as coisas, explorar, você quer saber mais sobre a cultura. Sabe, nós fizemos tudo isso nos últimos 30 anos.

Então esses dias de exploração e turismo, eu acabei abandonando. Eu prefiro relaxar, descansar e ter um momento mais tranquilo.

Mas é diferente para os outros caras, eu sei que o Jordan ama sair e encontrar com as pessoas. Cada um da banda acaba fazendo uma coisa.

Muito legal! Essa foram as minhas perguntas. Obrigada pelo seu tempo e estamos animados pela volta de vocês no Brasil.

Mike: Obrigado! Te vejo em breve! Tchau!

SERVIÇO

10/12 (sexta-feira) Belo Horizonte @ BeFly Hall
Vendas: https://fastix.com.br/events/dream-theater-40th-anniversary-tour-belo-horizonte

13/12 (sexta-feira) Rio de Janeiro @ Vivo Rio
Vendas: https://www.clubedoingresso.com/dreamtheater

15/12 (domingo) São Paulo @ Vibra São Paulo
Vendas: https://www.clubedoingresso.com/dreamtheater

16/12 (segunda-feira) Curitiba @ Live Curitiba
Vendas: https://www.clubedoingresso.com/dreamtheater

17/12 (terça-feira) Porto Alegre @ Auditório Araújo Vianna
Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/93544

2 comentários sobre “[Entrevista] Dream Theater: “Agora somos mais velhos e sábios”, diz Mike Portnoy

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.