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[Entrevista] Lesoir: “Eu acho que você precisa ouvir o álbum completo para entender quem somos”, diz vocalista sobre novo álbum

Em entrevista para o Tramamos, a vocalista Maartje Meessen e o guitarrista Ingo Dassen, nos contaram sobre o início da banda, as mudanças feitas até criarem seu próprio estilo e se eles têm vontade de fazer shows no Brasil

O Lesoir é uma banda de rock progressivo da Holanda que teve seu começo no heavy metal, mas passou por algumas mudanças no estilo musical com o tempo.
Após firmarem a sua personalidade e o que eles querem através de sua música, a banda está lançando o álbum Push Back The Horizon.

Para falar sobre o início da banda, seus lançamentos e uma possível turnê pela América do Sul, nossa jornalista Tamira Ferreira conversou com a vocalista Maartje e o guitarrista Ingo.

Tamira: Olá, como vocês estão?

Ingo: Ocupados, mas bem, obrigado! Como você está?

Tamira: Estou bem! Também estou bem ocupada, mas essa é a vida adulta (risos).

Ingo: Isso é verdade! Maartje está vindo.

Tamira: Se ela estiver muito ocupada, não tem problema, eu posso entrevistar você.

Ingo: Está tudo bem! A pequena (filha do casal) está assistindo televisão, então está bem.

Tamira: Ah, que fofa!

Nesse momento Maartje chega para a entrevista e me pergunta como estou. Eu contei para ela sobre as questões das queimadas em São Paulo e como o tempo estava muito quente. Eles me disseram que viram coisas sobre o Brasil no jornal na época das enchentes no Rio Grande do Sul. Eles ficaram bem atentos ao que eu dizia e preocupados com a situação.

Tamira: Primeiramente, é Lesoir (se pronuncia Lessoá)?

Ingo: Não significa nada (risos), é uma palavra criada.

Maartje: Soa francês.

Ingo: Foi inspirado na língua francesa, mas não significa nada.

Tamira: Mas é sofisticado, soa como a banda.

Ingo e Maartje começar a rir.

Ingo: É verdade!

Maartje: Isso é legal, obrigada!

Eu gostaria de saber sobre o começo da banda. Quando surgiu o interesse pela música e como vocês se uniram para formar o Lesoir?

Ingo: A gente começou há muito tempo.

Maartje: Nós gravamos o primeiro álbum em 2009.

Ingo: Antes nós já tocávamos juntos e éramos apenas amigos vivendo no mesmo bairro, nos conhecíamos e começamos a fazer música que cresceu para o que somos agora.

Maartje: Nós éramos apenas uma banda de rock, começamos tocando covers e fomos fazendo nossas próprias canções.

Ingo: Então começamos a fazer turnês.

Maartje: E tudo foi crescendo, eu acho. Logo a gente mudou de membros na banda.

Sim, a gente se conhece desde o ensino médio, da cena musical na verdade.

Ingo: Sobre os outros membros, todos estão conosco há mais de 10 anos.

Quando começamos, havia diferenças e ambições, mas trocamos de membros muito rápido. Conhecíamos pessoas maravilhosas e os chamamos.

A gente fez shows internacionais, sempre estivemos em turnê, sempre aproveitamos todas as oportunidades que tivemos. Apesar, principalmente no começo, nos custou muita energia, dinheiro e outras coisas.

Maartje: Muitas (risos).

Ingo: Ainda custa, de alguma forma, mas agora é um pouco mais fácil. Mas para nós foi sempre um jeito ambicioso de encher o nosso dia a dia com algo que gostamos que era fazer música juntos.

Maartje: Sim, e feriados são em turnês para sempre. A gente não sabe como passar nossos feriados de outra forma e não ser viajando com a banda.

Vocês estavam falando sobre a cena musical, eu acho que aqui no Brasil é a mesma forma. Muitas bandas começam tocando covers e depois escrevem sua própria música. Eu conheço mais a cena heavy metal da Holanda, muitas das minhas bandas favoritas são daí, mas eu sei pouco sobre o rock. Como é a cena para vocês aí na Holanda?

É mais fácil para vocês? Porque eu sei que na cena heavy metal, é mais fácil para as bandas fazerem carreiras internacionais, especialmente aqui na América do Sul, do que tocar na Holanda.

Maartje: É como você disse, depende do gênero que você está.

Ingo: A gente começou como uma banda de metal gótico, então a gente tocou com Within Temptation, Delain, The Gathering, Evergrey, tocamos muito com essas bandas quando começamos. Foi como conseguimos fazer turnês em lugares profissionais.

Depois mudamos para o rock progressivo porque não éramos tão metal…

Maartje: Há algumas influências no metal, há alguns riffs às vezes, mas fazemos uma música muito dinâmica.

Minha voz não é muito alta, na verdade, eu não gosto muito de cantar muito agudo. Eu consigo fazer, mas não gosto muito. E os músicos que eu gosto não cantam assim.

Ingo: Mas é parecido com o heavy metal internacional, que era a sua pergunta. Eu acho que na Holanda, os fãs e a cena, não é muito grande, mas internacionalmente é maior.

A gente fez uma turnê com o The Gathering, a gente acabou sendo comparados com eles. Eles são amigos, nós nos conhecemos e eles fazem muito sucesso na América do Sul e foi assim que conseguimos alguns fãs.

Há algumas similaridades com essas bandas, mas eu acho que somos um pouco mais progressivos.

E, hoje em dia, com a internet e as redes sociais, é mais fácil se conectar com as pessoas ao redor do mundo.

Maartje: A gente já fez turnê na China quatro vezes em grandes festivais.

Ingo: E em shows solos também. Nós pensamos: “Ok, fazemos sucesso na Japão, por que não na China?”

A coisa boa sobre a Holanda é que eles apoiam muito a exportação da música, então há financiamentos e se você tiver potencial para fazer sucesso em outros países, eles te ajudam a atingir essas metas. Isso é algo que nem todos têm.

Maartje: Mas nacionalmente… Sabe, a Holanda é um país pequeno e eu acho que há bandas boas e populares que vêm daqui, mas a cena não é grande.

Você ouve mais música pop no rádio, não heavy metal, rock progressivo, não há espaço para nós.

Se você é uma banda grande e toca 4 vezes na Holanda, você não vai mais tocar aqui porque a cena é muito pequena.

Ingo: Você não consegue fazer uma turnê na Holanda. Você consegue na Alemanha, é bem grande, mas aqui, especialmente com a música que a gente faz, você tem que pensar no exterior, ver onde estão os seus fãs e onde está o potencial.

O que chama atenção na banda é o instrumental. Vocês acabam tocando diferentes instrumentos, o que dá uma personalidade única para a música. Como foi criar o estilo de vocês?

Ingo: Isso acontece porque a gente não sabe como tocar esses instrumentos. (risos)

Maartje: É no meio do processo de criação, para ser honesta.

Quando compomos, a gente pensa no que cada um irá tocar, é tudo sobre a música.

É o Ingo quem começa a escrever a canção e a gente acrescenta camadas. No fim, temos que decidir o que cada um irá tocar porque há muita coisa acontecendo com todos os membros. Às vezes temos que unir as coisas, por exemplo, eu tenho que tocar o piano e não sou muito boa pianista ou guitarrista, mas eu preciso tocar porque a gente compôs no álbum, sabe?

Sim, é legal tocar diferentes instrumentos e a maioria de nós conseguem. Até o nosso baterista pode tocar piano, mas, obviamente, não dá para tocar os dois ao mesmo tempo.

É uma necessidade, eu acho, para nós.

Porém, é legal porque as pessoas falam para gente que gostam quando tocamos diferentes instrumentos e há muita coisa acontecendo no palco porque não ficamos no mesmo lugar o tempo todo. Isso deixa uma boa dinâmica.

É legal na hora de ver o show e ouvir as músicas.

Ingo: Traz diferentes sabores para a música, sai do básico bateria, guitarra e baixo. A gente pode tirar tudo e tocar apenas com um violão ou um piano mais os vocais. Mas no processo de escrever as canções, quando fazemos os arranjos, estou trabalhando no meu estúdio, eu ouço instrumentos diferentes, e agora a gente sabe o que cada um sabe fazer. São diferentes cores que você adiciona à música.

O mais difícil é quando vamos um show porque temos que levar muitas coisas. Mas já estamos acostumados, nós estivemos na China com todas os nossos instrumentos. É um desafio, mas animador.

Eu gostaria de falar dos lançamentos da banda. Vocês lançaram Mosaic em 2020, então teve que cancelar a turnê por causa da pandemia. Como foi essa época para vocês?

Maartje: Ter que adiar, ou até mesmo cancelar parte da turnê depois de lançar Mosaic em 2020. Era a primeira vez que iríamos ter uma turnê como banda principal porque foi logo depois que tocamos com Riverside. Foi uma turnê de 4 semanas que nos inspirou a criar mais músicas porque estávamos tendo uma pequena crise de identidade, mas nos convenceu de continuar. E nos deu uma direção porque ainda estávamos na cena do metal e a gente sabia que não era o que queríamos, mas durante a turnê com o Riverside a gente sabia que aquele era o gênero e o público que era bom para nós.

Ingo: Nosso primeiro álbum era um pouco mais pesado, só rock, já o segundo álbum, éramos uma banda com 4 integrantes e era mais básico. Mas havia algumas canções que nos comparava com Delain e eles acabaram nos chamando para tocar com eles. Isso nos levou a criar o terceiro álbum que havia um pouco de heavy metal, mas também um lado progressivo.

Depois fomos convidados para uma turnê com o Pineapple Thief e tocamos em um grande festival de progressivo, o que abriu os nossos olhos, as pessoas gostaram muito. Foi quando decidimos seguir propriamente o progressivo.

Nós fomos para um estúdio famoso na Inglaterra e gravamos um vinil duplo, grandes produções, arranjos de cordas, tudo que a gente poderia pensar a respeito. E com esse material a gente saiu em turnê com o Riverside. Foi quando chegamos a conclusão de que a gente gosta do que o Riverside faz e não é tão pesado quanto a gente estava fazendo. Foi assim que nasceu o álbum Mosaic.

Maartje: Você pode dançar com uma canção, está tudo bem. Então foi a conclusão disso. A gente escreveu um novo álbum que saiu em 2020.

Eram 20 shows pela Europa e foi cancelado, ficamos pensando: “E agora?”

Ingo: Tudo estava preparado e estávamos vendo esse vírus como todo mundo, que era apenas uma gripe, que tudo se revolveria em alguns meses, mas não resolveu.

Foi o choque de realidade que todo o mundo teve que lidar. Mas a gente não conseguiria ficar parado.

Maartje: Não, a gente precisava fazer algo, pela banda, para nos manter motivados e  também para os fãs. A gente estava com medo de que as pessoas iriam nos esquecer depois de não conseguir tocar o novo álbum.

Foi quando decidimos fazer algo especial e olhamos para tudo que tínhamos prontos, mas não lançado. E decidimos fazer uma coisa que não havíamos feito antes, mas todas as bandas de progressivo já fizeram.

Ingo: Foi nossa ideia. Nós tínhamos várias influências, como o Pink Floyd, que era o Mosaic. Mas o que nos faltava era uma faixa grandiosa e épica. Sempre foi um sonho nosso fazer como uma trilha sonora.

Foi quando falamos com uma pessoa do time do Steven Wilson e perguntamos o que ele achava da música, se ele poderia fazer uma animação de 20 minutos. Foi assim que saiu Babel.

Você pode ouvir a faixa sem ver a animação, mas quando você vê e ouve juntos, eu acho que se complementa.

E em 20 minutos, tem tudo que a banda é, todas as características do Lesoir.

Agora vocês estão divulgando seu próximo álbum ‘Push Back The Horizon’ que já tem 4 singles lançados. Conta como foi o processo de criação desse álbum?

Ingo: Depois da pandemia, nós tocamos vários shows e fizemos mais uma turnê com o Riverside, foi a hora que percebemos que era preciso gravar mais um álbum.

Dessa vez focamos apenas nas canções. Nós escrevemos 10 canções, nenhum conceito.

Eu reparei que os 4 singles lançados eram bem diferentes um dos outros. Como foi a escolha desses singles para lançar antes do álbum?

Ingo: Foi uma decisão da gravadora.

A gente está na estrada há um tempo e os fãs já sabe mais ou menos o que esperar de nós. Mas a gente queria atingir um público de fora, então a gente falou com a gravadora e dissemos: “Nós temos os nossos favoritos, mas não vamos te dizer. Vocês escolhem e vamos seguir”.

Foram os singles que saiu.

No começo, estava com um pouco de medo que não daria certo, mas foi muito bem, porque eu acho que destaca algumas coisas nossa que você não ouve normalmente.

Quando fazemos um show, ele é totalmente progressivo, mas com esse álbum, a gente deixou as pessoas verem lados diferentes nossos.

Foram boas escolhes porque não é, necessariamente, comercial, mas mostra um lado diferente da banda.

Maartje: Eu acho que você precisa ouvir o álbum completo para entender quem somos porque se você ouvir apenas os 4 singles, você pode pensar que somos ambivalentes e não sabemos o que queremos, mas quando as pessoas ouvirem tudo, vão entender melhor.

Agora vamos falar sobre shows. Vocês estão em turnê. Algum plano para shows fora da Europa?

Ingo: A gente iria amar isso, está na nossa meta ir para o Brasil ou a América do Sul.

Maartje: Eu prefiro ir para a América do Sul à do Norte.

Ingo: Alguns membros sonham em fazer turnê pelos Estados Unidos, mas a gente sonha em tocar na América do Sul.

 

 

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