[Entrevista] Pallbearer: “É mais profundo e introspectivo. O lado emocional com menos elementos bombásticos que fizemos no passado”, diz vocalista sobre novo álbum
Em entrevista para o Tramamos, o vocalista Brett Campbell fala sobre o surgimento da banda, o processo de criação dos álbuns, o conceito por trás de cada um deles e sobre o lançamento de Mind Burns Alive
A banda americana de doom metal Pallbearer surgiu em 2008 em Little Rock nos Estados Unidos em uma época que pouco se falava sobre o estilo, mas era possível ver um crescimento na cena.
Hoje, quatro álbuns depois, a banda se prepara para lançar seu mais recente trabalho, o disco Mind Burns Alive, que sai em todas as plataformas nessa sexta-feira (17).
Eles também já anunciaram uma turnê que passará pelos Estados Unidos e Europa. Mas fica a pergunta: Será que eles vêm para o Brasil?
Para falar sobre o processo de criação das músicas, o álbum que será lançado e uma possível turnê pelo Brasil, nossa jornalista Tamira Ferreira entrevistou o vocalista e criador da banda Brett Campbell.
Tamira: Então, para começar a nossa entrevista, eu gostaria de falar sobre o começo da banda. O Pallbearer foi criado em 2008. Como surgiu essa ideia de criar a banda e por que vocês escolheram o doom metal como estilo musical?
Brett: Nós, Joseph e eu, Joseph é o baixista da banda. Nós tínhamos uma outra banda chamada Sports, que não tem como pesquisar no google por causa do nome, é impossível procurar (risos).
Era como uma parede sonora de livre improvisos como um barulhento ambiente musical, basicamente. Mas o ethos da nossa banda era, sabe, se a gente começasse a escrever estruturas musicais, nós acharíamos errado.
Porém, com o tempo, nós começamos a ter esses motivos que queríamos incorporar à banda e, gostando ou não, estávamos nos movendo a compor canções.
Aquela banda [Sports] era um pé no saco para tocar porque tínhamos como uma parede de amplificadores e nós recrutávamos todos os nossos amigos para carregar tudo para os shows. Era um pesadelo!
Então a gente se cansou de fazer aquilo. Apesar que vamos tocar com essa banda em três dias, não tocamos juntos há anos.
Eventualmente ficamos mais interessados em escrever músicas, as circunstâncias na nossa vida naquela época eram terríveis e o doom é uma boa forma de expressar e lidar com esses momentos sombrios com emoções negativas.
Na cena daqui de Little Rock tinham algumas bandas incríveis de doom metal, especialmente naquela época em que elas eram bem ativas. Então essas eram as bandas que nos influenciaram.
Foi muito natural mudar para o doom, foi como uma transição gradual.
Tamira: Você estava falando sobre a cena doom metal. Como ela era na época que a banda foi criada e como é hoje? Eu conheço bandas desse estilo pela Europa e eu sei que há uma sólida fanbase aqui no Brasil. Mas como é a cena nos Estados Unidos?
Brett: Doom no geral? Eu não sei (risos).
Eu acho que se mantém forte, mas não tanto quanto era há alguns anos. Atualmente o hardcore, como Metallica hardcore, parece estar maior. E death metal que é como está a cena em Little Rock atualmente.
Mas o doom ainda está por aí. Comparado a popularidade de quando a gente surgiu como banda, em 2008, o doom é mais popular mundialmente, ao ponto de as pessoas saberem o que é. Muitas pessoas em 2008 não sabiam o que era esse estilo.
Eu acho que há um pequeno grupo de fãs, mas muito dedicados, que amam o doom.
Nunca foi popular, até mesmo entre os fãs de heavy metal, e eu gosto disso. O doom nunca foi focado em ser… Sabe? Se você é do tipo de metalhead que está procurando pelo mais rápido, extremo e técnico estilo de música, então você não vai gostar de doom.
O doom permite um alcance maior de emoções do que outros estilo de metal. E eu acho que é isso que me chama tanto atenção.
Tamira: Eu acho que as letras é algo que chama bastante atenção. Estava ouvindo o novo álbum e vendo as letras, é uma forma mais profunda que falar sobre si mesmo. A inspiração vem de coisas que acontece com vocês, ou vem de outros lugares como filmes, livros ou acontecimentos com outras pessoas?
Brett: A gente se inspira em todas as coisas que você mencionou. Eu já escrevi canções sobre livros, algumas vezes são sobre mim ou sobre pessoas que eu conheço. Eu não sei com o Joe, mas eu acho que às vezes ele escreve histórias.
Eu já escrevi músicas sobre sonhos. Às vezes eu escrevo canções que são alegóricas que são uma forma de transmitir uma ideia, mas através de uma história.
Honestamente, quando começo a escrever uma música, ou começo a melodia, eu não sei sobre o que é. Mas quando eu termino a melodia, ou quase tudo, eu começo a cantar palavras sem sentido por cima para gravar uma demo. Então eu ouço esses sons e tento entender o que significa. O que essa música está me dizendo? Qual seu significado?
Normalmente, é algo conectado com o que está acontecendo na minha vida ou algo que eu venho pensando a respeito ou estou preocupado. Eu acho que é uma boa forma de entrar no subconsciente apenas ouvindo palavras sem sentido e vendo como essas palavras irão soar na minha cabeça. É como uma técnica estranha que traz algo mais profundo que está dentro de mim que eu não entendo ou conscientemente não sei a respeito.
Tamira: Algo que eu também vi em seus álbuns é que cada um deles traz um diferente conceito. Especialmente com a capa e tudo mais que vocês criam para o álbum. É algo que vocês pensam depois de criar as músicas ou vem antes do processo de composição? Como é o processo para criar o álbum completo?
Brett: Apesar desse novo álbum ter um conceito vindo das letras, o que foi acidental, não fizemos de propósito. A gente só percebeu que as letras se conectavam.
Porém, os conceitos dos álbuns são mais relacionados como a gente compõe a música. Os métodos que usamos para levar cada álbum para uma direção que eles vão terminar, musicalmente.
Por exemplo, com o Heartless, nós tentamos colocar mais técnica e densidade no estilo de composição do que vínhamos fazendo desde o começo.
Já Foundations of Burden é mais complexo do que Sorrow and Extinction e com Heartless a gente foi mais longe nessa complexidade técnica.
E esse era o nosso objetivo com aquele álbum. Então para Forgotten Days, nosso objetivo era ter uma abordagem mais direta e crua que não era muito técnico, a não ser que precisasse. Mas a ideia era manter as canções mais próxima das ideias cruas e iniciais.
O conceito por trás desse álbum, o Mind Burns Alive, era explorar os elementos sutis da banda. O senso de espaço e atmosfera. O lado emocional com menos elementos bombásticos que fizemos no passado. São as emoções que você tem no seu quarto sozinho. Menos traumatizante do que o doom e metal em geral que tem a tendência de pegar as emoções e explodir de uma forma melodramática, maior que a vida, experiência cinematográfica. O que é parte do gênero, é ótimo, uma coisa incrível.
Mas quisemos explorar essas emoções de uma forma mais calma e introspectiva com Mind Burns Alive.
Tamira: E é incrível como as letras se conectam com as melodias tendo algumas que são mais heavy metal e outras mais doom. O que surge primeiro, as melodias ou as letras? Quando você decide que uma música vai ser mais pesada ou a outra mais doom? Especialmente com esse novo álbum.
Brett: É totalmente por instinto. O mais difícil de se fazer é explicar o meu processo de composição porque é totalmente inspirado no sentimento. Apenas surge, eu não sei como fazer além de ir fazendo.
O vou pegar qualquer coisa que a minha ideia inicial me trouxer, pode ser o primeiro riff, ou talvez o refrão, uma ponte.
Muitas de nossas canções não têm pontes, elas apenas são o que são. Mas é totalmente baseado no instinto.
Tamira: Eu vi que vocês estão promovendo o álbum e tem um visual que é totalmente preto, mas com uma pequena luz que mostra algo. Como é a criação desse conceito visual que vai além das músicas?
Brett: A gente tenta ter o máximo de controle em cada elemento da banda e da forma que ela é retratada. Até em camisetas e coisas assim. Todas as nossas camisetas são de artistas que usamos. Às vezes nós compartilhamos conceitos com eles e deixamos eles desenharem. Às vezes a gente encontra um artista que gosta e confiamos que ele vai fazer algo legal.
Porém, a apresentação estética da banda é uma parte da nossa criação da mesma forma que um processo de composição da música.
A capa dos nossos álbuns é a cápsula que segura toda a música em si. Você não consegue segurar a música, mas pode pegar um disco. Essa é a representação física da música, então é muito importante para nós termos isso.
Até mesmo com o estilo das fotos de banda, essas coisas, precisa caber no mesmo tema daquela era particular e como a gente quer mostrar o lado visual de cada álbum.
Tamira: Vocês lançaram dois singles e eu acho que mostra muito o álbum e essa dualidade do heavy metal e doom. Como vocês decidiram escolher essas canções para serem singles?
Brett: Como você disse, é uma boa representação dos dois lados do álbum. Começar com Where the Light Fades como single foi…
Tamira: Foi muito ousado (risos).
Brett: Foi muito ousado! Eu meio que tive uma alegria doentia sobre isso porque eu sabia que haveria pessoas chocadas falando que Pallbearer está ficando mais suave. E saber que teria um grupo de pessoas que ficariam bravas com isso.
Assim, eu sei que tem um monte de momentos mais pesados no álbum, mas saber que por algumas semanas algumas pessoas ficariam tristes porque a gente ficou mais suave foi divertido para mim.
Mas foi uma ótima forma de mostrar para as pessoas que terá algumas coisas bem diferentes nesse novo álbum e não é algo que você já ouviu.
E colocar essa música como a primeira do álbum é: “Se você vai entrar na água, já pula de uma vez. Se a água é fria, vai de uma vez, você vai se acostumar mais rápido”.
Tamira: Eu acho ótimo porque é o quinto álbum de vocês, se fizer sempre a mesma coisa, pode ficar tedioso, é legal ter coisas diferentes. Na canção Endless Places vocês até chamar um saxofonista. Como foi essa escolha? Eu vi que vocês decidiram enquanto bebiam, mas como foi essa experiência para vocês?
Brett: Nós estávamos em um bar perto na vizinhança, nós moramos todos perto um do outro. A gente estava quase terminando o álbum, faltavam algumas coisas, mas estava quase no fim. Então estávamos nesse bar bebendo e celebrando quando alguém sugeriu chamarmos o Norman para tocar um solo de saxofone em Endless Place. Nós nos olhamos por um segundo e topamos. Simplesmente isso. Na hora a gente soube que era a coisa certa a fazer.
A gente falava no passado em ter convidados musicais, mas nunca ouve uma necessidade para a música. Era como se colocássemos outro guitarrista, mas a gente já tem duas guitarras na banda, a gente precisa de mais um? (risos)
Mas fazia sentido ter alguém que toca um instrumento que a gente não toca. E ele é nosso amigo, a gente se conhece há anos, a gente sabe que ele é um bom saxofonista e traria algo a mais para a música. Eu achei que era muito apropriado para a canção.
A gente mandou uma mensagem para perguntando e ele disse: “Claro”. Simples assim!
Tamira: Minha última pergunta é sobre turnês. Vocês têm datas agendadas pelos Estados Unidos e Europa. Há alguma chance de vir para a América do Sul?
Brett: Há uma chance! A gente conversou com os nossos empresários e planejamos ir ao próximo ano. A gente ainda não resolveu nada ainda, mas planejamos ir em 2025.
A gente iria tocar aí na turnê do Forgotten Days, mas ela nunca existiu por causa da pandemia. Mas queremos ir ano que vem, esse é o plano.
Tamira: Muito obrigada, essa foi a nossa entrevista! 20 minutos passou muito rápido (risos).
Brett: Sim, foi muito legal falar com você.
Gostaríamos de agradecer a Nuclear Blast e ao Marcos Franke pela entrevista.
Crédito da foto: divulgação