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[Entrevista] Shawn James: “Não que tenha feito ser quem sou, mas sem isso eu não seria quem sou”, conta músico sobre suas composições

Em entrevista para o Tramamos, o cantor, compositor e músico Shawn James falou sobre seu processo de criação, a paixão dos fãs brasileiros e se ele pensa em escrever um musical algum dia

Shawn James é cantor, compositor e músico americano que viu sua carreira crescer após uma música sua ser acrescentada no jogo de videogame The Last Of Us 2.

Atualmente o artista está se preparando para a sua próxima turnê chamada Muerte Mi Amor que será para promover o álbum Honor & Vengeance, sendo a maior já feito pelo artista no Brasil, passando por 6 cidades: São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Mais informações da turnê aqui!

Para falar sobre a nova turnê, sua última passagem pelo Brasil em 2023, o processo de composição do álbum Honor & Vengeance e a paixão dos fãs brasileiros, nossa jornalista Tamira Ferreira conversou com Shawn e você confere abaixo:

Shawn: Olá! Como você está hoje?

Tamira: Estou ótima e você?

Shawn: Ah, eu não posso reclamar! Estamos nos preparando para a turnês, toda a sala está arrumada para os ensaios mais tarde.

Tamira: Provavelmente você não lembra de mim, mas é a nossa segunda entrevista. Eu te entrevistei ano passado.

Shawn: Oh, foi presencialmente ou online?

Tamira: Online.

Shawn: Que legal! Obrigado por fazer isso de novo. Como é seu nome?

Tamira: Tamira.

Shawn: Tamira, é bom te ver de novo. Você conseguiu ir ao show ano passado?

Tamira: Não, eu tive uma cirurgia da última vez, por isso que nossa entrevista foi online. Mas dessa vez eu irei com certeza.

Shawn: Incrível! Muito legal! Vai ser legal te ver!

Você tocou aqui em 2023, como foi essa experiência? Foi a primeira vez que você veio com banda, a energia foi diferente?

Shawn: Eu comecei tocando sozinho e de forma acústica, a banda de um homem só. E quando você toca acústico ou em duo, é mais íntimo, mais pessoal de uma forma diferente.

Porém, para mim, algumas vezes era limitado no que a gente poderia fazer e como eu posso apresentar as músicas. Então o que eu amo sobre um show com banda completa é que você consegue ter um gosto de tudo que fazemos.

Não é a banda o tempo todo, a gente também faz uma parte que eu toco sozinho e depois com um violinista.

Começa mais folk rock e depois passa para as coisas mais pesadas.

O que eu amo na banda é que a gente pode fazer tudo e deixar o show mais dinâmico e interessante. Vai de algo mais suave, triste e íntimo ao rock n’ roll no final. É uma experiência mais divertida para mim.

Mas, eu sei que algumas pessoas amam apenas o acústico e nós teremos partes do show que é só isso.

E você acha que as pessoas reagem de uma forma diferente quando você toca mais acústico, folk ou mais rock n’ roll?

Shawn: Quando é um público como no Brasil ou São Paulo, eles gostam de tudo que a gente faz, seja acústico…

Eu me lembro da última vez que toquei o show acústico, eu fiquei pensando: “Isso é mais louco que os shows de rock n’ roll que fazemos”. A energia, sabe?

Acho que para as pessoas que amam mais os shows intimistas, apenas acústico com voz e violão, para eles pode ser mais especial. E pode ser algo mais emocional. E eu conto mais histórias quando estou sozinho, porque tenho mais tempo. É um sentimento diferente para mim.

Mas eu vou te dizer que eu acho que você não perde nada com a banda completa comparado ao acústico. Porque com os anos, eu me tornei melhor em reconhecer as diferenças e ter certeza de que incorporei elementos do show acústico.

Mas com a banda, perto do final é uma loucura. É sempre divertido ver que tem momentos que estamos todos chorando e tendo esse momento emocionante e depois deixamos de lado e podemos relaxar. (risos)

Sim, eu consigo imaginar! Você sempre muda os estilos de seus álbuns, o A Place In The Unknown acabou sendo mais rock n’ roll, mas Honor & Vengeance é mais folk. Como veio essa ideia de mudar o estilo do novo álbum?

Shawn: A verdade é que eu sou muito teimoso sobre fazer o que eu quero musicalmente e não seguir apenas um estilo. É algo que eu sinto, eu sigo minhas emoções e a minha paixão sobre o que estou sentido naquele momento.

Quando escrevi A Place In The Unknown, eu queria muito me afastar do folk e fazer algo mais com a energia do rock n’ roll, mas com o meu estilo de letras e com a paixão que eu posso colocar nos vocais. E eu me diverti muito fazendo isso.

Porém, depois de fazer isso, eu senti vontade de voltar e fazer algo mais suave e folk rock de novo.

Eu acho que é divertido seguir o que eu sinto e quero fazer.

Muitos artistas fazem apenas um estilo, um gênero, e está tudo bem. Mas, para mim, eu ficaria entediado, irritado e eu acho que me sentiria obsoleto.

Se eu escrevesse o mesmo tipo de música várias vezes, eu não sei, eu sinto que não conseguiria continuar fazendo a mesma coisa. É como se tocando blues, ou rock, ou folk, inspirasse o outro estilo a voltar. Faz sentido para você?

Faz total sentido porque, especialmente para mim, a música é muito rica e você pode fazer o que quiser. E quando você coloca em uma “caixa”, você se limita. E, não sei, depois de 10 anos fazendo a mesma coisa, você fica cansado. Eu não escrevo música, mas eu sinto isso quando eu ouço um artista.

Shawn: E isso acontece com tudo, certo? Se você está comendo tacos todos os dias, ou hamburgueres, você vai se cansar deles.

Mas Honor and Vengeance, foi algo que… Eu sempre amei filmes de faroeste e música como Ennio Morricone. As trilhas sonoras que ele fez para os filmes são incríveis, como The Good, The Bad and The Ugly e For a Few Dollars More, vários deles.

E eu sempre quis contar uma história nesse gênero e criar algo grande e épico nesse estilo.

Olhando para trás no que eu fiz, eu tinha um tempo livre por alguns meses, eu disse: “Bem, o que eu quero criar? O que eu quero fazer? Talvez seja a hora de guiar para uma história de faroeste.

Eu me senti inspirado a fazer. Então escrevi os personagens, um pouco da história e tentei criar a música que reflete a história e os personagens que criei.

Quando você pensou na história, foi algo pessoal da sua vida, ou você usou a inspiração de filmes?

Shawn: Vamos falar a verdade! Eu venho me inspirando muito em filmes, histórias, livros e outras coisas. Mas para esse eu não quis me basear em uma história que já foi escrita. Mas quantas vezes já ouvimos sobre vingança, amor e morte, sabe? Muitas vezes. Tenho certeza de que essas coisas acharam sua forma de me inspirar.

Mas eu queria que fosse um conto sobre o bem e o mal. Seria o bandido e o caçador de recompensas ou o xerife, o que você quiser chamar.

Então eu pensei: “Ok, eu tenho esses dois personagens. Qual a história? Como se tornar um bandido?”. Isso era uma coisa que eu queria focar.

Eu não queria que fosse uma coisa: “Ele frequentava um bar e entrou para uma gangue”, sabe? Eu pensei em como eu o transformaria em um bandido de uma forma tradicional.

Talvez ele tenha o amor da vida dele e vivesse uma boa vida. Até que esse bandido surge e mata a esposa dele. Então o cara vai atrás de vingança e mata o bandido, mas a lei não vê dessa forma e ele se torna o bandido.

Talvez a história já tenha sido contada de uma forma similar, em diferentes gêneros e coisas diversas. Mas eu comecei com os personagens e depois com a história.

E a coisa meio que fugiu do controle depois disso. Agora ele estava fugindo e eu queria uma direção estranha para ele, como quando ele é capturado, talvez ele veja a morte que está chegando e se torna algo mais místico no final.

Desculpa, foi uma resposta muito longa. (risos).

Não, foi uma ótima resposta, eu estava criando a história na minha cabeça. Aliás, você é muito bom em escrever histórias. Você já pensou em escrever musicais ou foi algo que nunca passou pela sua cabeça?

Shawn: Musicais nem tanto. Para mim, se fosse escrever algo, eu gostaria de escrever um livro.

Mas musicais não é uma ideia ruim, eu apenas nunca pensei a respeito.

Porque musicais hoje em dia são diferentes. Por exemplo, tem esse musical chamado Hadestown, eu não sei se você já ouviu falar.

Shawn: Eu já ouvi o nome.

É incrível! Você deveria assistir porque é incrível. É uma história da mitologia grega, mas contada com jazz em um cenário americano pós-industrial. É algo completamente diferente dos musicais com música clássica e opera.

Shawn: Isso é algo que eu amo sobre fazer esse álbum, no geral, há um interessante jogo, vamos dizer, esse é o tema do caçador de recompensa. E ele irá cavalgar em um cavalo pelo deserto, como vou criar isso musicalmente?

E acho que isso seria um efeito similar. É legal!

Eu vou te dar os créditos se criar um musical. (risos)

Ok! (risos) A última vez que a gente conversou você disse que compor acaba sendo uma terapia, você chegou a ter algum sentimento ou reflexão de algo após compor?

Shawn: Absolutamente! Não acontece sempre. Mas no meu primeiro álbum, Shadows, especificamente, foi escrito mais de experiências e trauma que eu tive na minha vida. E às vezes eu não percebo a mensagem da canção até depois de escrevê-la e talvez, anos depois, olhando para trás, eu falo: “Caramba! Estava falando sobre isso! É terapia, não apenas contando a história, estava me fazendo ficar bem”.

Não que me fizesse ser quem sou, mas sem isso eu não seria quem sou. Talvez tenha ensinado uma lição. E isso acontece!

Nesse novo álbum, a canção que fez isso comigo foi Muerte Mi Amor.

Originalmente, e não achei que estaria nesse álbum ou relacionado à história porque, de alguma forma, você consegue ver o bandido refletindo sua vida e escrevendo, talvez não sobre ele, mas similarmente com o que estamos falando. Ele teve essas ideias e escreveu algo que refletiu o que são suas experiências em vida, mas não mais sobre ele, mais sobre as pessoas, humanidade, morte e o que você vê.

Para mim, Muerte Mi Amor veio do nada. Estava pensando sobre morte naquele dia e como o bandido iria encarar a morte na hora que ele foi capturado. E estava pensando sobre a minha morte, o que isso significaria e o que era a vida no geral. Eu fiquei emocionado.

Eu lembro que estava com a parte da guitarra tocando constantemente e pensando sobre todas essas coisas porque às vezes tocando o ritmo várias vezes, eu posso falar e escrever para o ritmo que está tocando antes de compor a letra.

É dessa forma que a música inspira as palavras e ela pode entrar na música.

Eu lembro que quando escrevi essa canção, os primeiros três versos apenas surgiram e eu estava emocionado, chorando, quando escrevi porque senti que tinha a ver com a minha vida.

Senti que estava escrevendo algo que era importante e precisava dizer.

Eu acho que isso tem a ver com o que você perguntou, mas eu não tinha ideia de que seria dessa forma.

Agora, cantando ao vivo e tocando nos shows todas as noites, eu tenho diferentes significados do que eu havia escrito originalmente. E ver o que significa para as pessoas, às vezes, me inspira. E eu falo: “Nossa, eu nunca pensei dessa forma”, ouvindo as histórias deles.

É lindo a forma como a música pode ser traduzida de diferentes maneiras.

Agora essa nova turnê é ainda maior que a anterior. Qual a expectativa para esses shows? O que você tem preparado para o público brasileiro?

Shawn: Da última vez foi tão legal! A gente não sabia que esperar com a América do Sul, a gente nunca esteve aí e a resposta foi absolutamente fenomenal.

Eu nunca havia tocado para multidões tão apaixonadas, emocionadas e que eram uma parte do show. Eles não estavam apenas assistindo, batendo palma e era isso. Você conseguia ver e ouvir a emoção e paixão. Eles sabiam todas as palavras e quase todas as músicas, até mesmo as que não eram populares. Eu fiquei muito emocionado no palco depois da turnê porque eu senti a apreciação das pessoas que eu nunca havia sentido.

E a maioria das pessoas não falam inglês.

Shawn: Essa é outra coisa! Como é essa conexão? Mas esse é o poder da música. Foi lindo de várias formas diferentes.

Eu lembro de voltar para casa da turnê e imediatamente eu estava: “Quando vamos voltar?” Porque foi muito incrível!

E planejamos ir a mais lugares, pode não ser bem-sucedido, mas eu quero ir. Vamos tentar e ver o que acontece.

Meu conselho para você é que prove a comida de cada lugar porque, aqui no Brasil, os pratos mudam em cada local. Eu não sei se você vai ter tempo de conhecer as cidades, então prove as comidas.

Shawn: Com certeza! Essa é a meta todas as vezes que a gente sai em turnê, provar a comida local, as bebidas, tudo.

A gente nem sempre tem tempo, mas às vezes temos um dia livre, gostamos de explorar a cidade e a cultura. E isso é sempre o melhor.

Estamos muito animados, com certeza!

Você vai amar! Essa foi a nossa entrevista! Muito obrigada e a gente se vê em outubro.

Shawn: A gente se vê! Muito obrigado!

 

 

 

 

 

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