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[entrevista] THE GAZETTE fala sobre família, fãs e amizade

O The GazettE passou pelo Brasil em maio e muitos fãs ainda não se recuperaram completamente [tipo eu tentando ouvir Sono Koe Wa Moroku sem chorar e falhando miseravelmente]. A vinda da banda marcou sua terceira passagem pelo país e tudo o que podemos dizer é que FOI MUITO POUCO!  #voltaTheGazettE

Às vésperas da Tour Final, última apresentação da turnê mundial THE NINTH, nos demos conta de que uma das entrevistas que a banda deu ao site JROCK NEWS durante sua estada em Londres, em junho deste ano, estava traduzida mas não foi publicada no nosso site.

Sim, amigos. Sabemos que estamos atrasados. Muito atrasados. Mas, pra quem não leu, é uma oportunidade de conhecer um pouco mais a maior banda de visual kei da atualidade [e, na minha humilde opinião, a melhor de todos os tempos].


JRN: Esta foi a segunda vez que vocês tocaram em Londres. Bem-vindos de volta. Como foi o show ontem à noite? [o show aconteceu em 11 de junho, no Electric Ballroom, em Camden]

Ruki: Foi ótimo. [todos riem]

JRN: Faz doze anos, certo? Vocês perceberam algo significativamente diferente desde a última vez que tocaram aqui?

Ruki: No último show (em 2007), a maioria do público era do sexo feminino, mas desta vez foi meio a meio. Mais fãs do sexo masculino apareceram e isso fez uma grande diferença, e eu realmente aprecio ver isso. Eu me sinto melhor.

JRN: Mesmo? Vocês estão surpresos com essa mudança?

Ruki: Já estivemos em alguns países agora, não apenas no Reino Unido, e percebemos que também conquistamos mais fãs do sexo masculino em outros lugares. Como somos homens, parecia que havia uma melhor compreensão entre a banda e a multidão, é assim que nos sentimos.

Foto do primeiro dia de ensaios para a NINTH TOUR.

JRN: Ano passado, conhecemos alguns roadies de bandas de visual kei. Aparentemente, eles trabalharam de graça para obter experiência que mais tarde usam para melhorar sua própria banda. Como foi para vocês quando começaram?

Ruki: Nenhum de nós precisou trabalhar como roadie para outra banda. Desde o começo, éramos uma banda profissional. O significado de “roadie” no Japão é diferente em comparação com aqui. No oeste, rodies são vistos como profissionais e músicos altamente qualificados em guitarra, bateria, baixo, teclado e tudo mais, enquanto no Japão essa é mais uma função de assistente pessoal, e é por isso que eles não recebem salários. Eles podem ter acesso ao que está acontecendo nos bastidores, essa é a recompensa. A experiência é o pagamento, além da oportunidade de fazer conexões.

JRN: Reita e Uruha costumavam jogar futebol, certo? Então, como vocês fizeram a transição do esporte para a música, e como conseguiram manter sua amizade por tanto tempo?

Uruha: No Japão, é muito comum termos atividades extracurriculares na escola (beisebol, futebol e voleibol, por exemplo). Obviamente, não podíamos ser atletas quando essas atividades terminavam na escola. Por isso, escolhemos ser músicos.

JRN: Isso foi uma coisa boa, porque agora vocês estão na banda juntos.

[todos riem, mais uma vez]

Público durante o show em Köln, Alemanha.

JRN: Como vocês conseguiram se motivar a partir de então para se tornarem músicos?

Reita: Durante o segundo ano do ensino médio, eu estava na casa do Uruha e estávamos ouvindo CDs e tocando covers das músicas. Foi muito divertido. Foi quando eu decidi que queria ser músico.

JRN: O que geralmente passa pela cabeça de vocês antes da turnê? É o Kai quem lidera a visão de tudo?

Kai: Não é realmente minha decisão. Sempre conversamos sobre isso – todos os cinco. Primeiro, decidimos o conceito e pensamos no álbum, criamos e depois pensamos em como dar vida a esse conceito com o cenário do palco. Planejamos o máximo que podemos, mas só podemos descobrir o que funciona ou não quando começamos a tocar. Fazemos muitos shows, um após o outro. Depois de um tempo, as coisas ficam mais claras para que possamos começar a entendê-las através da experiência. Incluindo o álbum e a turnê, estamos sempre nos aproximando do show final com o objetivo de concluir e aperfeiçoar nosso trabalho.

JRN: Tem alguma diferença se for uma turnê mundial ou uma turnê dentro do Japão? Vocês ficam mais ansiosos se for uma turnê mundial?

Ruki: Não sei dizer… não existe realmente uma grande diferença entre uma turnê mundial ou doméstica para nós. Obviamente, podemos usar nossos próprios equipamentos durante uma turnê no Japão. Essa é a parte por conta da qual ficamos realmente nervosos: garantir que tudo funcione bem enquanto a coisa toda acontece. Para shows no exterior, temos que nos contentar com o que recebemos do local ou da empresa. Então é exatamente isso que nos preocupa. Sempre há equipes que correm para garantir que tudo funcione e que tudo o que precisamos está lá – não sei… talvez a equipe esteja mais estressada com isso, não?

JRN: Mais nervosos por causa de coisas inesperadas?

Ruki: Isso mesmo.

Bateria do Kai no show do México.

JRN: Shows ao vivo são vitais para o The GazettE. Qual é a essência disso? Por que vocês se apresentam?

Aoi: É claro que queremos mostrar ao público algo diferente da sua vida cotidiana e que eles nos apoiam ao assistir às nossas apresentações. Queremos levá-los para outro mundo que, em geral, não existe. É por isso que nos apresentamos. No meu caso, eu pessoalmente gosto de assistir os outros membros da banda no palco. Vê-los se divertindo bastante, apresentando uma ótima performance no palco, é isso que me motiva. Todo mundo está trabalhando tão duro, fazendo o seu melhor. Não posso ficar para trás, tenho que acompanhá-los.

JRN: Vocês consideram as finais da turnê um pouco mais especiais? Poderiam explicar o porquê?

Ruki: Hmm, tanto faz se é o primeiro ou o último show da turnê⁠ – isso realmente não importa para mim. O show final significa que eu tenho que encontrar algo que não aconteceu no começo, por isso fico um pouco nervoso em comparação com as outras apresentações. Mas não me parece que realmente exista algo especial [no último show].

JRN: Mas assistimos seus DVDs e vocês estão sempre mais emocionados no show final. Especialmente o Reita, nós o vimos chorando.

Reita: Isso é tudo CG (computação gráfica) [risos].

JRN: Isso é incrível [risos]! Como é depois do final da turnê? Vocês têm “depressão pós-turnê”?

Reita: Isso acontece comigo depois de cada turnê, e eu não sou o único, certo? Nós cinco estamos vivendo e viajando juntos na turnê. De repente, estando sozinho, me sinto um pouco triste. Eu estava chorando um pouco ontem à noite [risos].

JRN: Sério? [risos] Como você supera isso então?

Aoi: Nosso agente me tira da tristeza. No dia seguinte, meu agente já está me ligando e me dizendo para me animar porque temos um cronograma apertado, então não tenho tempo para ficar deprimido

JRN: Você faz parecer tão fácil [risos].

Kai: Não costumava ser assim, mas hoje em dia começaremos a dar dicas para a próxima turnê ou visão da banda. Nós aproveitamos essa emoção para ter algo pelo que esperar.

JRN: Como uma maneira de se animar?

Kai: É. Isso.

Um poderoso rugido de Ruki em Shanghai, China.

JRN: O pai do Ruki foi inicialmente contra ele estar em uma banda até que vocês apareceram nas paradas musicais. O que sua família sente sobre sua escolha de carreira hoje? [todos riem]

Ruki: No começo, eu era fã de outras bandas, tinha pôsteres deles na parede.

JRN: Como o Luna Sea?

Ruki: X Japan! Na nossa geração, essas bandas eram vistas como estranhas. Os “bad boys”. É por isso que meus pais estavam preocupados, mas quando nos viram tendo sucesso, começaram a entender.

JRN: O que aconteceu com os outros membros da banda?

Uruha: Meus pais eram realmente contra. Especialmente meu pai. Ele dizia: ‘desista de ser músico’ ou ‘saia da banda’ e outras coisas. Eu sempre torci para que eles um dia aprovassem o que faço.

JRN: Agora eles aprovam?

Uruha: Não tenho certeza… é uma situação delicada…, mas quando começamos a aparecer na TV, meus pais começaram a gravar e guardar as apresentações. Quando vi isso, fiquei aliviado.

JRN: Eles se tornaram fãs! Será que ainda guardam essas gravações?

Uruha: Sim, acho que sim(?)
[risos]
Kai: Ouvindo as histórias de todos, parece que a minha experiência foi o completamente diferente. Na verdade, eu não tinha o apoio dos meus pais, mas eles não foram particularmente contra. Minha mãe estava envolvida com música, então ela meio que entendeu o que estava acontecendo. Quando eu disse a ela que abandonei a escola sem contar a ninguém, ela ficou realmente chocada, mas ela aceitou a situação. Algo como: ‘o que está feito está feito, e dizer qualquer coisa será inútil… o melhor então é seguirmos em frente’.

JRN: Kai parece ser um “bad boy”.

Kai: [risos]

JRN: Que tipo de música sua mãe fazia?

Kai: Ela era professora de piano, mas seu hobby era tocar jazz.

JRN: Você já pensou em tocar com ela?

Kai: Só tentei tocar piano com minha mãe uma vez.

Bandeiras feitas pelos fãs brasileiros em cada um dos shows do The GazettE no Brasil. Acima, a bandeira da turnê THE NINTH (2019). Abaixo à esquerda, a bandeira da DOGMATIC TROIS (2016) e, à direita, a bandeira da DIVISION (2013). Simplesmente lindas!

Reita: Quanto a mim, meus pais não eram realmente contra. Na verdade, eu só morava com minha mãe e minha irmã mais velha e não tínhamos muito dinheiro na época, então eu pensava: ‘Será que estou sendo uma má pessoa por não estar trabalhando?’. Eu realmente me senti culpado e com pena da minha mãe mas, ao mesmo tempo, minha paixão por começar uma banda era muito forte, então continuei.

[Os outros membros aproveitam para brincar com o baixista]

Uruha: Ah, é mesmo?
Ruki: Foi isso que aconteceu? [risos]

JRN: Então nós temos o Reita, que é um cara legal [“good boy”] e o Kai, que é um “bad boy”[todos riem]

Aoi: Não cresci em Tóquio. Eu morava em uma cidade pequena e estava assistindo programas de música na TV à noite. Vi algumas bandas e pensei: ‘Eu também posso fazer isso!’. Foi então que decidi ir para Tóquio. Meus pais não disseram nada sobre isso. Eu pensei que poderia fazer melhor do que aquelas bandas na TV, e realmente fiz! Talvez agora seja eu a influenciar os jovens assistindo TV, da mesma forma como alguém me influenciou antes.

Caminhão oficial do The GazettE com o anúncio do show Tour Final, na Arena Yokohama. No Japão, a banda pode trabalhar com os próprios equipamentos.

JRN: As Olimpíadas acontecerão em Tóquio em 2020. Até 1948, música e arte, como escrever poesia, eram eventos olímpicos. Se vocês pudessem apresentar alguma atividade, o que vocês fariam?

Ruki: Você quer dizer se pudéssemos escolher? [risos]

JRN: Exatamente.

Reita: Nós realmente não poderíamos escolher um vencedor se fosse uma competição de música, então talvez uma atividade física – como ‘quem poderia bater cabeça por mais tempo’? Nós [Uruha e eu] poderíamos realmente representar o Japão nessa categoria!

JRN: Isso é muito impressionante!

Reita: Faremos o nosso melhor. [todos riem]

Fãs londrinos no Electric Ballroom exibindo a bandeira assinada.

JRN: Vocês tocam música há muito tempo. De que maneira vocês mudaram através de suas atividades musicais, em termos de personalidade?

Ruki: Eu fiquei um pouco mais ansioso.

JRN: Por quê?

Ruki: Consegui conquistar muitas coisas sozinho graças à música – compondo, criando produtos e até folhetos – tenho que gerenciar muitos aspectos e garantir que nada dê errado. Não posso me permitir confiar tanto nas pessoas e deixar todo o trabalho para elas. Por causa disso, sinto mais pressão e tendo a ficar ansioso.

JRN: E você, Kai?

Kai: Eu não acho que mudei fundamentalmente. Sua personalidade não é algo que você possa mudar tão facilmente. Mas todos nós, juntos, estamos criando músicas que gostamos, e acho que nossa atitude, nossa abordagem em relação à música mudou em relação a quando começamos. Ficou mais profunda.

JRN: Você ainda cozinha para a banda? [risos]

Kai: Ah, não tanto quanto antes.
Ruki: Mas você não cozinhou macarrão para nós recentemente?
Kai: Isso mesmo! Pepperoncini (um prato de espaguete com alho, azeite e pimenta)!

JRN: E quanto a você Uruha?

Uruha: Qual foi a pergunta mesmo? [todos riem]

JRN: Estávamos conversando sobre a influência da música na sua personalidade.

Uruha: Ah sim. Quando jogava futebol, não tive a chance de me afirmar. Joguei como zagueiro, não estava em posição de tomar iniciativa, então costumava me retirar e ficar para trás. Quando comecei com a música e realmente gostei, comecei a me tornar mais extrovertido e direto, realmente me surpreendeu.

JRN: E você, Reita?

Reita: Há algum tempo, eu não era muito bom em me apresentar na frente de uma platéia. No ensino médio, por exemplo, durante as apresentações, eu era tão tímido que não conseguia fazer meus joelhos pararem de tremer. Eventualmente, me acostumei e passei a gostar de me apresentar no palco. Finalmente superei esse medo.

JRN: Nós realmente amamos a maneira como você se move no palco!

Reita: Ah, sério? Obrigado.

JRN: O que você tem a dizer, Aoi?

Aoi: Eu era o caçula, então eu era meio mimado e um pouco egoísta. De alguma forma, a música me animava e, eventualmente, meu egoísmo desapareceu um pouco.

Foto da banda no camarim postada pelo vocalista Ruki no Instagram. Só faltou o Kai.

JRN: Qual a melhor tecnologia que vocês usaram na música até agora?

Aoi: Provavelmente a DAW (Digital Audio Workstation). Ela contribuiu muito para a música atual, como um todo. As gravadoras podem economizar muito dinheiro graças a ela porque não precisamos passar muito tempo no estúdio. De certa forma, a DAW nos dá mais liberdade para fazer o que queremos fazer.

JRN: Também ouvimos dizer que você costumava usar programas como o EZ Drummer?

Aoi: Sim, claro. Estou usando muito esse tipo de programa.

JRN: Você tem alguma recomendação?

Aoi: Bem, usamos esse programa para fazer demos e, obviamente, precisamos da bateria do Kai enquanto estamos gravando faixas.

Os cinco músicos dão as mãos na despedida do show da banda em Taipei.

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Aida Mori

It’s me, Mori_A! Colunista de um pouco de tudo. Apaixonada por música, literatura, videogames, cinema e gatos. Provavelmente velha demais pra essa maluquice. Escorpiana, paulista, millenial, nerd, taróloga, mãe de gatos.

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