[Entrevista] The Obsessed: “Eu não quero ficar preso a um estilo e fazer parte de um estereótipo onde as pessoas sempre irão esperar a mesma coisa”, conta vocalista
Em entrevista para o Tramamos, Scott ‘Wino’ Weinrich, o vocalista e guitarrista da banda The Obsessed, conta sobre a trajetória da banda, sua nova formação e os shows no Brasil
A banda de doom/stoner metal The Obsessed surgiu no final dos anos 70, criada pela lenda musical Scott “Wino” Weinrich.
Durante as décadas, a banda teve algumas pausas e Wino acabou seguindo com outros projetos, mas sempre retornava ao The Obsessed.
Agora, com nova formação e a inclusão de mais um guitarrista, tornando o que era um trio em um quarteto, a banda chega ao Brasil para sua primeira apresentação no país promovendo o álbum Gilded Sorrow.
Para falar sobre as apresentações no Brasil que acontecem hoje (21) em Belo Horizonte e amanhã (22) em São Paulo, nossa jornalista Tamira Ferreira foi até o hotel que a banda está hospedada em São Paulo e conversou pessoalmente com o vocalista e guitarrista Scott (Wino).
Entrevista:
Enquanto esperava no saguão do hotel pelos integrantes da The Obsessed, eu reparo que abre o elevador e sai Wino todo sorridente e acenando para mim. Nesse momento, ele pede um minuto para comprar uma cerveja antes que a gente comece a conversar.
Depois ele se senta confortavelmente ao meu lado e eu começo a entrevista.
A gente já inicia falando sobre a vinda da banda ao Brasil e as expectativas do vocalista sobre os shows.
Wino: A gente ainda vai descobrir, até agora está tudo bem. A gente saiu aqui na cidade. Vamos tocar primeiro em Belo Horizonte e depois aqui em São Paulo no sábado.
Estamos animados, vai ser ótimo!
Eu contei para eles que as bandas de abertura, Pesta e Espectro eram muito boas e se ele tivesse uma chance, deveria vê-los tocar.
Wino: Legal! Estamos ansiosos! Os shows nos outros países foram fantásticos.
Eu sempre quis vir para o Brasil, minha vida inteira, até antes de começar a tocar rock n’ roll, eu sempre quis conhecer a América do Sul. Mas quando eu comecei a tocar, meus amigos falavam: “Cara, o Brasil é outro mundo, a pessoas vão à loucura e são receptivas”.
Mas era a primeira vez da banda no Brasil, depois de tantas décadas. Sobre isso, Wino responde:
Wino: Sim, a gente estava tentando vir para cá nos últimos anos, mas tiveram muitos motivos. Um deles foi a Covid-19.
A gente tentou agendar shows no México primeiro, mas deu tudo errado. E não conseguimos vir porque precisávamos desses shows para chegar até aqui no Brasil. Essa era outra razão, mas estamos aqui.
Depois passamos a conversar sobre a trajetória da banda, como foi o começo deles em 1978 e como o líder via o The Obsessed depois de todo esse tempo.
Wino: Como você sabe, faz muito tempo, e as coisas acabam tendo uma forma de se resolverem sozinhas.
Eu acabei trabalhando em diferentes bandas e projetos, mas com o The Obsessed, eu acho que essa é a nossa melhor formação. É uma combinação de todo o conhecimento, aprendizado e tudo que tocamos.
Também perguntei sobre como ele decidiu adicionar mais um guitarrista, Jason Taylor, para a banda.
Wino: Eu decidi adicionar mais um guitarrista. The Obsessed sempre foi um trio, bem no começo da banda a gente teve mais um guitarrista, depois outro. Também tivemos algumas sessões com uma ex-noiva minha que tocava guitarra.
Mas mantivemos um trio até conhecermos o Jason. Nós fizemos uma turnê juntos com a banda que ele tocava, Sierra. Depois de um tempo, nos encontramos e decidimos que era uma boa ideia ter dois guitarristas.
Para mim está sendo ótimo porque nós dois somos maduros o suficiente para não termos nossos egos nos guiando para ver quem toca melhor.
Ele é um guitarrista fantástico e contribui muito.
O guitarrista e vocalista não se cansa de elogiar seus companheiros de banda e fala sobre o baixista Chris Angleberger e o baterista Brian Costantino.
Wino: Quando a gente escolheu o Chris para o baixo, as coisas fizeram sentido.
Eu e o baterista estamos tocando junto há alguns anos, nós trabalhamos no álbum Sacred, mas somos amigos há muitos anos.
Acho que é o melhor que podemos ser agora.
Então perguntei se era uma mistura da formação da banda com o fato deles estarem mais maduros e terem mais experiência na música.
Wino: É o melhor que pudemos estar e estou muito feliz por podermos fazer turnês.
Outra coisa boa é que agora todo mundo é mais velho e normalmente acabava sendo um problema porque você tinha coisas para resolver na sua casa ou sua companheira estava causando problemas com a turnê. Mas esses caras estão sedentos e prontos para tocar juntos, o que é incrível para mim.
Acabei aproveitando para falar um pouco sobre o começo do The Obsessed e como ele acabou incluindo o doom metal na banda.
Wino: Sobre o doom, você sempre precisa de uma referência, certo? Se é doom ou stoner, as pessoas precisam descrever as coisas.
Eu não considero que é uma banda de doom (ruína), eu acho que é uma banda de hope (esperança) porque não é muito sobre ruína.
Saint Vitus era uma banda de doom e tem muitas bandas que seguem esse estilo. Mas no fim precisa ter uma esperança.
Então eu nos considero mais uma banda de hard rock. A gente ainda canta, ao invés de screams e eu acho isso importante.
Acho que os outros estilos são válidos, sem dúvida, mas estamos em um bom lugar agora, então vamos colocar que é uma banda de hard rock.
Foda-se, é uma banda de hard rock.
Contei para Wino que minhas perspectivas sobre os álbuns anteriores da banda eram que sempre mudavam o estilo. Alguns álbuns eram mais heavy metal, outros mais stoner, e que esse último álbum, Gilded Sorrow era o mais puxado para o doom.
Wino: Isso é interessante! Outra pessoa me falou a mesma coisa.
Eu gosto de diversificar, eu não quero ficar preso a um estilo e fazer parte de um estereótipo onde as pessoas sempre irão esperar a mesma coisa. Todas as músicas serão iguais.
Na minha raiz, eu gosto de todos os estilos de música, mas no fim há dois tipos de música: a boa e a ruim.
Nesse momento, Wino olha diretamente para mim e solta uma gargalhada.
Então falo para ele que achei o último álbum mais puxado para os anos 70 e como era o rock n’ roll naquela época.
Wino: Isso é bom porque foi a música que eu ouvia crescendo. É a maior influência para mim e ainda ouço rock dos anos 70.
Perguntei para Wino sobre o videoclipe de Stoned Back to the Bomb Age e ele teve uma história muito interessante para contar.
Wino: Minha esposa é cinegrafista e um dia estávamos visitando um amigo nosso.
Ele vive com a companheira em um sítio, eles têm um trailer e em todo o quintal não há nada além de lixo. Não lixo, mas um depósito de todos os tipos de coisas ao ar livre: pneus, umas estátuas esquisitas, bolas de boliche…
Estava lá antes deles chegarem.
Eu olhei para aquilo e parecia que havia acontecido uma explosão, então falei para ela (esposa dele) que a gente poderia fazer o vídeo ali e sem nenhum custo.
Quando eu comecei a escrever o roteiro, eu queria um rei destorcido em uma banheira de sangue.
Foi quando decidimos alugar um airbnb e chamar o comediante Dave Hill para fazer o rei. Ele aceitou trabalhar de graça.
Já o ceifeiro era a dona do local que a gente gravou.
No fim, gastamos menos de mil dólares para fazer o clipe.
O vocalista olha para mim todo orgulhoso com sua economia para produzir o vídeo e continua contando.
Wino: A parte mais difícil foi carregar o equipamento para lá porque era inverno e estava chovendo muito.
Tivemos que esperar um dia de sol, que foi uma sexta-feira, então colocamos madeiras no chão porque estava muito molhado para colocar os equipamentos.
No final deu tudo certo.
Próximo de encerrar a minha entrevista, já havia outro colega jornalista esperando para fazer suas perguntas.
Me despedi de Wino que estava tomando sua cerveja e ainda havia todo o resto da tarde de entrevistas com a imprensa brasileira.
O The Obsessed toca em Belo Horizonte e São Paulo. Todas as informações estão aqui.