[Entrevista] Wintersun –“É como uma terapia que te ajuda a se livrar desse sentimento depressivo quando você o transforma em música”, diz vocalista
Em entrevista para o Tramamos, o líder e vocalista da banda Wintersun falou sobre a criação do projeto, suas inspirações na cultura asiático e como o inverno finlandês influenciou em suas músicas
O Wintersun surgiu como um projeto solo criado pelo ex-vocalista do Ensiferum Jari Mäenpää.
A ideia surgiu em 1995, mas apenas acabou sendo criado em 2004 e, mesmo com os 20 anos de carreira, a banda têm poucos álbuns lançados e algumas turnês em sua trajetória.
Atualmente o Wintersun se prepara para lançar a segunda parte do álbum Time I, lançado em 2012. Time II será lançado pela Nuclear Blast no dia 30 de agosto de 2024 em todas as plataformas digitais e meios físicos.
Para falar sobre o início da banda, seu processo de composição, o inverno finlandês e o lançamento de Time II, nossa jornalista Tamira Ferreira falou com o líder e vocalista Jari Mäenpää e você confere tudo abaixo:
Você começou a compor suas próprias músicas em 1995, mas só acabou criando o Wintersun em 2004. Como que veio essa ideia de começar a compor paralelamente ao Ensiferum e por que você deu início a banda muito tempo depois?
Jari: Na verdade, eu comecei a compor música com 15 anos de idade, em 1992, mas as canções que fizeram parte do primeiro álbum do Wintersun foram escritas em 1995, ou 1996, não tenho certeza.
As primeiras canções eram sobre tristeza, ódio e estrelas dormentes. Então eu comecei a compor diferentes tipos de música quando entrei para o Ensiferum, mas continuei fazendo as minhas coisas paralelamente e coletando músicas para o primeiro álbum do Wintersun.
Sim, eu venho criando música desde muito cedo e fazendo tudo sozinho. Então Wintersun sempre acabou sendo um projeto solo que se transformou em banda. Especialmente depois de 2004 quando eu e Kai Hahto fomos gravar o primeiro álbum, apenas nós dois.
Então a gravadora disse: “É hora de fazer turnê. Por que você não encontra alguns músicos para a sua banda?” (risos)
Foi quando eu chamei o Teemu Mäntysaari e o Jukka Koskinen para montar essa superstar group (banda formada por músicos de outras bandas). Todos são excelentes músicos.
Foi como tudo começou.
Você acha que a forma que compõe as músicas hoje em dia é diferente do começo? Porque você começou a escrever adolescente e agora é um adulto. Isso muda o processo de composição?
Jari: Sim, com certeza mudou, mas acho que algumas coisas continuam as mesmas.
Eu sempre me interessei por diferentes estilos de música. Até sons diferentes e estilos de produção. Eu sempre gostei de música que vai do EDM (eletrônico), pop, até o heavy metal, death metal ou black metal.
Porém, o estilo de composição muda porque o seu gosto musical também muda. É claro que ainda amo aquelas bandas dos anos 90 e começo dos anos 2000 e tento fazer algo naquele estilo. Mas eu sempre quis explorar novos estilos e ir para frente. Sempre há coisas novas e legais para descobrir e compor. Nunca acaba.
Por exemplo, eu tenho tantas coisas novas e estilos diferentes que eu quero explorar no futuro. Mas o básico, como pegar o violão e tocar alguns acordes, criando uma melodia ou riff. Hoje em dia eu gravo tudo no meu celular e faço uma coleção de riffs e melodias.
É uma biblioteca de riffs, apenas pastas no meu computador.
No passado, eu tinha uma máquina de fita cassete e era onde eu criava as demos e terminava as canções. Depois eu passava para os CDs e por aí vai.
Mas hoje em dia eu pulo a fase da demo. Eu começo direto no computador, vou construindo a música e já consigo um som praticamente terminado durante a fase de composição.
A tecnologia evoluiu muito, especialmente nos últimos 10 anos, o que acaba me ajudando a mixar também.
Você acaba fazendo uma comparação do inverno com sentimentos em suas músicas. Eu percebo isso em todos os álbuns, especialmente no Time II. Como veio essa ideia? É algo finlandês? Vem de onde você vive e como se sente?
Jari: Sim, as mudanças das estações, especialmente o inverno afeta o humor, definitivamente.
Quando eu era jovem, não notava, apenas estava ali. Mas conforme fui envelhecendo, eu realmente notei, especialmente na primavera, eu tinha muito mais energia. E realmente gostava do verão. Mas quando chegava o outono, você pensa: “Ah, merda, lá vamos de novo”. E o frio estava voltando, a chuva e o sol se punha muito rápido.
Durante o verão tem apenas seis horas de luz, é um saco. E uma completa escuridão o tempo todo. Isso afeta o seu humor.
E você se sente mais melancólico, acho que muitas bandas finlandesas vão concordar comigo. E muitas bandas finlandesas acabam tendo esse estilo melancólico de compor.
Mas é uma música legal de ouvir, com certeza. É como, não sei, uma terapia. Te ajuda a se livrar desse sentimento depressivo quando você o transforma em música.
Mas quando você percebe isso, você não reclama mais sobre e passa a lidar melhor e fazer outras coisas.
Eu já ouvi muitas bandas da Finlândia falarem sobre isso. Quando eu era adolescente, era muito fã de bandas finlandesas, não importando muito o estilo. Acho que a forma como vocês conseguem criar algo diferente dentro do heavy metal, não se encaixando em um determinado estilo ou acompanhando o que estava acontecendo em outros lugares. Isso é incrível!
Jari: Quando eu escrevi o primeiro álbum, o elemento do inverno surgiu muito naturalmente. Na época eu ouvia muitas bandas da Escandinávia. E não havia internet. Então era o mundo que estava vivendo e escrevendo sobre.
Mas depois do primeiro álbum, eu fiz uma escolha consciente de explorar diferentes estilos.
Talvez um dia eu volte e faça outro “álbum de inverno”, mas no futuro eu quero explorar mais os estilos diferentes.
Outras estações (risos).
Jari: Sim! Mas o inverno sempre estará ali.
Por exemplo, para o álbum The Forest Seasons, eu quis explorar todas as estações. Mas para o futuro eu quero explorar outras coisas que eu não vou revelar ainda.
Você deveria vir para o Brasil e ver as nossas estações porque aqui é sempre calor. Estamos no inverno e está quente (risos).
Jari: Eu adoraria visitar o Brasil.
O instrumental do Wintersun é bem marcante, acho que ele até se sobressai às letras. Como foi esse processo para criar o estilo da banda?
Jari: Eu sempre quis criar esses “mundos” que levam o ouvinte para lá e você pode escapar da realidade por um momento e apreciar a música, estando nesse “mundo”.
Eu acho que adicionar esses elementos sinfônicos, especialmente em Time I e II, os instrumentos tradicionais japoneses e chineses, realmente te leva até lá e dá a sensação de um lugar muito distante.
Eu sempre fui fascinado em adicionar melodias e outras coisas. Ele te dá outra dimensão na música.
É claro que eu amo tocar rock n’ roll com guitarra, baixo e bateria. Mas, para mim, eu gosto de colocar várias camadas por cima e dar mais para a música.
Entrega um estilo de trilha sonora, criando imagens na sua cabeça enquanto você está ouvindo a música e lê as letras ao mesmo tempo.
Eu quero criar novas músicas que leva o ouvinte a esse mundo fantasioso, independente de qual tema será para o álbum.
E quando você criou esse conceito e a ideia de usar estilos asiáticos nas composições?
Jari: Bem, eu sempre me interessei e fui influenciado por melodias asiáticas. Desde que tinha 6 anos de idade e jogava no Commodore 64 um jogo chamado Last Ninja e Last Ninja 2. O guerreiro vivia sua aventura em jardins asiáticos e lugares diferentes.
Era um gráfico de 8 bit, quadriculado, mas eu ainda conseguia ir até esse mundo e me divertir. E as trilhas sonoras eram incríveis nesses jogos.
Foi minha primeira grande influência nesse estilo asiático.
Sempre esteve na minha música e venho explorando um pouco aqui e ali. Mas, especialmente para Time I e Time II, eu quis explorar ainda mais. Especialmente depois do primeiro álbum com o lançamento de filmes como O Tigre e o Dragão e Memórias de uma Gueixa. Esses filmes também me influenciaram muito.
Então isso me deu uma espécie de faísca para fazer esses álbuns e realmente explorar esse estilo de melodia, porque não é minha cultura e não é onde eu vivo. É um lugar muito distante e mágico que faz você querer ir até lá e explorar.
Você já tinha na sua mente que iria fazer uma continuação desse álbum. Você já tinha ideia de como seria ou foi criando posteriormente?
Jari: Originalmente seria só um álbum chamado Time, mas depois o dividimos em dois.
O Time II é mais pesado e denso que o Time I, acho que até o metal é mais forte nesse álbum dando uma dualidade entre os dois álbuns. Como você conecta e diferencia o Time I e Time II?
Jari: Bem, aconteceu naturalmente. Eu iria apenas criar um álbum e criei uma estrutura para ele que na primeira parte seria mais direta. E a segunda parte seria com canções mais variadas e com mais dinâmica.
Quando a separação aconteceu, porque tivemos muitos problemas para fazer esse álbum. E a gravadora sugeriu já que tínhamos 80 minutos de material, então poderíamos dividir o álbum em duas partes.
Então poderíamos lançar a primeira parte mais rápido e sair para a turnê. Foi o que decidimos fazer.
Foi um processo natural quando era apenas um álbum, mas quando a separação veio, eu pensei que a primeira canção The Way Of The Fire precisava de uma introdução, então eu escrevi Fields Of Snow e deu muito certo.
E eu acho que todos os álbuns precisam de uma introdução, certo? Mesmo que as pessoas o escutem apenas uma vez.
Eu estava ouvindo os dois álbuns juntos e me pareceu como um musical que você tem o primeiro ato e o segundo ato. E, eu não sei o quanto você sabe sobre musicais, mas o segundo ato é sempre mais triste e mais sombrio. Eu achei bem conectado com um musical.
Jari: Isso é verdade porque originalmente eu queria que a primeira parte fosse mais direta e com um clímax no fim. Deixando a segunda parte mais versátil e variada.
Eu acho que deu tudo certo no final, apesar das dificuldades no processo.
Mas é um ótimo álbum e eu recomendo que todos ouçam os dois juntos. É uma ótima experiência.
Jari: Obrigado!
Vocês vão lançar o Time II no dia 30 de agosto. O que você pode me dizer sobre o futuro: turnês, videoclipes? O que vocês estão planejando com a banda?
Jari: Nós vamos continuar nosso hiato de turnês. Então não haverá shows para Time II, mas vamos ver depois do próximo álbum como estará a situação de todos.
Mas não é porque os outros caras estão tocando com o Nightwish e o Megadeth, mas porque eu quero continuar a fazer e lançar mais músicas.
Porque com todos esses atrasos e problemas técnicos, não há músicas do Wintersun o suficiente no mundo. Então eu quero fazer mais álbuns.
Bem, um álbum do ano passado está bem perto de ficar pronto e estou muito animado com ele. Eu quero continuar produzindo e, esperançosamente, lançá-lo logo. Mas sem promessas!
Eu estava pensando em fazer uma piada com você e perguntar como se sentiu quando o Nightwish roubou dois dos seus músicos. (risos)
Jari: (risos) Estou muito feliz por eles e isso não é um problema porque Wintersun não é uma banda tradicional e sempre temos essas perguntas: “É meu projeto solo? É uma banda?”
Para mim, eu amo o estúdio mais do que sair em turnê. Eu amo criar músicas.
Então a gente não tem saído em turnês tanto quanto os outros músicos gostariam. E, às vezes, eu me sinto um pouco culpado com isso. Agora eu me sinto muito feliz que eles podem realmente tocar, sustentar suas famílias e viver de música.
Então acabou dando certo para todo mundo.
Essa foi a nossa entrevista! Muito obrigada pelo seu tempo e parabéns por Time II, é um excelente álbum
Jari: Muito obrigado! Estou feliz em ouvir isso.