Hypocrisy: suecos do death metal melódico entregam show iluminação exótica e tecnicamente impecável
ALIENS! ELES ESTÃO ENTRE NÓS!
No segundo dia da “semana caótica” de shows em São Paulo, os suecos do Hypocrisy retornam a terras brasileiras com sua temática sobre alienígenas, ufologia e um som pesado e melódico. O show, marcado de última hora, contou com uma boa presença de público do Fabrique, cenário curioso de palco e a performance de uma banda afiadíssima que compensou uma regulagem de som abaixo do esperado.
ANTES DO SHOW, POUCA FILA EM UMA TERÇA-FEIRA FRIA:
Não bastasse o dia da semana difícil para todos, o que já tem virado algo de praxe, a semana com shows – mais de um por dia – dava a entender que não teríamos casa cheia. Antes das 19h, via-se algumas poucas pessoas nos bares da frente do Fabrique Club tomando suas cervejas e ouvindo música alta, conversando e trocando ideia do que esperar do show, e também sobre quais mais shows iriam naquela semana.
Algo comum na Europa e Estados Unidos, semanas lotadas de shows têm se tornado algo cada vez mais corriqueiro para os paulistanos. Mesmo assim, o volume dessa semana específica era quase surreal, e havia a noção que um prejudicaria o outro em termos de lotação. Bem, as portas da casa foram abertas pontualmente às 19h, ainda com pouquíssima gente, mas em meia hora, horário que começaria a primeira banda de abertura, o Siegrid Ingrid, já havia algum volume interessante de pessoas em frente ao palco e espalhados pelo local, olhando merchandisings e tomando suas bebidas.
PRIMEIRA ABERTURA, SIEGRID INGRID ENTREGA CURTA E BOA APRESENTAÇÃO:
Veteranos e calejados do underground paulistano, vindos dos anos oitenta, o Siegrid Ingrid é uma banda relativamente pouco conhecida, e estar em um evento como esse era boa oportunidade para mostrar o quão competentes são. Não decepcionaram! Fazendo seu som pesadíssimo e técnico, mas sem firulas, os paulistanos não se intimidaram para uma plateia pequena e que não era deles. Entregaram uma apresentação enérgica, com ótima presença de palco, e conseguiram tirar aplausos e foram ovacionados durante seus poucos minutos de show. Para quem não os conhece, é uma banda que vale a pena ouvir, e ao vivo mais ainda.
TORTURE SQUAD, COMO SEMPRE, ENTREGAM TUDO E MUITO MAIS. UMA DAS MAIORES DO BRASIL:
Impossível um fã de Death Metal no Brasil não conhecer os gigantes do Torture Squad. É daquelas bandas já lendárias do cenário brasileiro, e com sua formação mais sólida e duradoura, já se tornaram sinônimo de maestria no palco. Pouco depois da apresentação anterior, o Torture Squad entrou no palco ovacionado e não decepcionou nos seus cerca de trinta minutos de apresentação. A vocalista Mayara Puertas está cada dia mais impressionante em sua performance vocal. E embora seu jeito menos comunicativo com a plateia possa parecer um pouco frio, a princípio, ao longo da apresentação ela mostra ter o domínio do seu público. Em cerca de quarenta minutos de apresentação, impossível não destacar o quão importante é essa banda para o metal nacional e o quanto seus músicos são merecidamente reconhecidos como ícones. Seja show completo, ou abertura, eles entregam sempre o seu melhor. Um show que todo bom apreciador do bom e velho Death Metal deve ver uma vez na vida.
HYPOCRISY ENTREGA PESO, MELODIAS, E… ALIENS!
Adoramos shows pontuais! E pontualmente no horário marcado, o Hypocrisy subiu ao palco. quase dois anos após sua última passagem pelo Brasil. Os suecos, liderados pelo carismático e icônico vocalista e guitarrista Peter Tägtgren, um dos mais proeminentes nomes do Death Metal melódico do país escandinavo, abriram a apresentação com o hit “Fractured Millennium” de seu álbum homônimo de 1999, emendando uma sequência muito legal de hits com “Adjust The Sun” e “Eraser”, um dos grandes hits da história do quarteto.
Digno de nota, o ambiente ao fundo do palco e a própria iluminação eram exóticos! A pirâmide abaixo do logo “Hypocrisy” em referência à ufologia, com as naves espaciais nas laterais, e as luzes brancas vindas de trás dos membros, dando a eles um semblante de típicas imagens de alienígenas davam o clima exótico da apresentação, e ficou um contraste muito bacana com o som violento, além dos guturais incríveis de Peter.
O show seguiu com um medley de “Pleasure of Molestation” / “Osculum Obscenum” / “Penetralia” e depois vieram mais pedradas: “Don’t Judge Me”, “Children Of The Gray” e “Inferior Devoties”. A dinâmica do show continuou por toda a apresentação, o que significava pouca falação e muita música. No palco, os quatro integrantes são animados – não são muito de se mexer, correr, mas todos interagiam com o público durante as músicas, e sabiam levantar a plateia. Apesar da pouca comunicação verbal, quando resolvia falar com o público, o vocalista, com seu ótimo inglês, sabia o que dizer, e invariavelmente tirava gritos do público. Público que, diga-se de passagem, aumentou muito na hora do show da banda, longe do modesto número no começo do evento.
Veio, então, “Until The End”, seguida de “Fire In The Sky”, “Impotent God” e “Chemical Whore”. A banda se despediu do palco ao som de “War-Path”, porém aos coros de “Hypocrisy” em uníssono, voltaram, claro, para o bis, e tocaram a saideira “Roswell 47”, um dos maiores, se não o maior, sucesso da banda, de 1996, do álbum Abducted.
APRESENTAÇÃO VALEU A PENA, APESAR DE FRACA SONOPLASTIA E TEREMOS MAIS:
Depois de uma apresentação esforçada, pois Peter teve recentemente problemas de saúde, e performance ALIENÍGENA, tanto em qualidade, quanto em temática, com o perdão da piada, o Hypocrisy novamente prova ser um dos maiores e mais diferenciados nomes do metal da Suécia, e como o próprio vocalista disse, eles voltarão! Não em naves espaciais para nos invadir, mas para nos agraciar com mais grandes shows. Muitos colegas fotógrafos podem criticar a luz, mas dentro da proposta que quiseram ter, deram o clima que precisavam, o que deixou o show ainda mais exoticamente imersivo.
A crítica negativa fica por conta do som. Em muitos momentos as guitarras falhavam, ou tinham o som estourado, além de pouco som de baixo. A bateria parecia mais alta ou mais baixa a depender do momento. No geral, ficou a desejar em sonoplastia, mas de forma alguma tornou o show ruim, ou menos impressionante. São músicos que souberam e sabem contornar adversidades do tipo, e entregam o show que os fãs querem. Pouco mais de uma hora de duração também é um tempo um bocado curto, e esperamos que num próximo, com a saúde do vocalista em perfeito estado, possamos ter um setlist mais longo. No mais, isso foi amenizado por dois ótimos shows de abertura.
Que venha o próximo!
SET-LIST:
Fractured Millennium
Adjusting The Sun
Eraser
Pleasure of Molestation / Osculum Obscenum / Penetralia
Don’t Judge Me
Children Of The Gray
Inferior Devoties
Until The End
Fire In The Sky
Impotent God
Chemical Whore
War-Path
Roswell 47
HYPOCRISY:
Peter Tägtgren – Vocal e Guitarra
Mikael Hedlund – Baixo
Tomas Elofsson – Guitarra
Henrik Axelsson – Bateria