[Entrevista] Marko Hietala: “Está sendo como um novo começo onde eu encontro comigo mesmo e a minha fé em fazer música novamente”
Em entrevista Marko Hietala fala sobre seus projetos após sua saída da banda Nightwish, como sua saúde mental afetou sua carreira e como ele lida com isto hoje em dia e conversamos sobre a turnê que ele fará com Tarja Turunen pela América Latina em março
Quem é fã de metal melódico com certeza tem a banda finlandesa, Nightwish, como grande referência musical. Uma parte significativa da banda era o baixista e vocalista Marko Hietala. Porém, o artista vem lidando com depressão, ansiedade e um recente diagnóstico de TDAH que o fizeram decidir sair da banda e seguir novos caminhos.
Nos últimos anos, ele participou de uma turnê acústica com Anneke van Giersbergen e música com Exit Eden. Atualmente, Marko se prepara para uma turnê com Tarja Turunen e novos projetos de sua banda Tarot.
Para falar sobre todos esses assuntos, nossa jornalista Tamira Ferreira conversou com Marko Hietala e você confere tudo abaixo:
Tamira: Olá, como você está?
Marko: Olá, na verdade, estou muito bem, o que quer que isso seja, eu não sei (risos). Me desculpe, a outra entrevista atrasou.
Tamira: Está tudo bem, eu entendo. Meu nome é Tamira, é um prazer te conhecer.
Marko: Olá, Tamira, um prazer te conhecer.
Tamira: O que eu gostaria de saber primeiro é como foi para você voltar a ter contato com a Tarja. Quando isso começou? Porque eu imagino que vocês devam ter ficado um tempo sem contato. Como foi esse retorno até a ideia dessa turnê?
Marko: Ok! Então, a gente já tinha se visto há alguns anos na Finlândia para shows de Natal. Nessa época nós já havíamos conversado um pouco sobre as baboseiras e conflitos que se tornaram grandes pilhas de merda. Não foi bonito. E naquela época nós começamos a ver as coisas de uma forma diferente. Mas voltamos a conversar quando fizemos os mesmos festivais na Suíça, foi quando cantamos The Phantom of the Opera.
Marko: Quero dizer, não foi uma forma de ser desafiador ou rebelde em relação ao meu passado, nada do tipo.
Eu tive que sair [do Nightwish] porque estava muito mal e doente. Eu precisei cuidar disso, conversei com as pessoas certas, comecei a fazer alguns testes. Quando eu voltei a fazer shows, tudo sozinho, eu me deparei com uma velha amiga [Tarja], então eu aceitei fazer The Phantom of the Opera no ano passado, porque houve uma óbvia felicidade vindo das pessoas que foi contagiosa. Foi quando surgiu a ideia de fazer um show acústico de abertura com o meu amigo Tuomas Wäinölä para a turnê dela e algumas canções juntos.
Está sendo como um novo começo onde eu encontro comigo mesmo e a minha fé em fazer música novamente.
Tamira: Isso acabou sendo um processo de cura? Voltar a falar com ela e esses novos projetos? Porque quando você saiu do Nightwish, você falou muito sobre a sua saúde mental.
Marko: Sim!
Tamira: O momento que você percebeu que a pandemia estava acabando e você deveria voltar a turnê e gravar álbuns, todas essas obrigações e pressão. Como foi o sentimento para você naquela época e como está sendo agora?
Marko: O que aconteceu com a pandemia foi que, depois de anos, eu tive tempo e fui obrigado a sentar-me, porque você interage muito com as pessoas, mas você precisa se sentar em casa, ficar ali e você para de fazer essas coisas. Não tem escapatória. E a consequência é que eu acabei tendo que trabalhar com a minha mente e a minha vontade. Eu penso que se eu tivesse passado por esse processo mais cedo, não teria sido assim. Porque eu tenho um monte de causas que envolve, basicamente, na futilidade da existência e todo esse tipo de coisa, que no final das contas é isso. Porque estávamos ali, naquele momento, em que estava em casa com a minha família.
As coisas mudaram e eu tive que largar tudo, todas as demandas do mundo. Eu tive que sair da Finlândia, fui para a Espanha e fiquei lá para não sofrer com a escuridão do inverno finlandês.
Eu conversei com o meu terapeuta, através de videochamadas, porque era a forma que a gente podia fazer durante a pandemia. Acabamos conversando sobre checar algumas coisas, entramos em contato com um psiquiatra e fizemos alguns testes para TDAH. Era isso! Então, basicamente, eu tive um momento de clareza para perceber que eu venho sendo diferente a minha vida toda. Na maioria do tempo eu tinha um sentimento de que eu não pertencia a banda. E, de repente, era algo óbvio.
Porém, você não sente que tem problemas de autoestima, eu conseguia, facilmente, subir em cima do palco e não tinha medo, mas essa era uma compensação por me sentir muito diferente. É claro que ser uma pessoa social e se sentir um pouco de fora, o faz ser mais suscetível a ter depressão e ansiedade.
Tudo isso aconteceu e dominou a minha imaginação que é o meu instrumental fundamental, o que começou a fazer sentido. Onde o TDAH realmente agia.
Então você para de medicar os sintomas com diferentes médicos e medicações, que mudam de uma hora para outra, porque não há um problema, e começa a realmente tratar a TDAH.
Passou três semanas e eu tive que voltar para ver o que estava errado. Eu já não estava ansioso, eu estava me sentindo bem. Claro que é um processo que durou anos, então eu não consegui voltar imediatamente, mas esses dois últimos eu me sinto mais como antes. Eu já fiz shows e consigo interagir com as pessoas nos bastidores e me divertir. Tem sido bom!
Tamira: Houve algum momento em que você pensou que não iria voltar para a música?
Marko: Eu tinha certeza de que eu iria sair por completo do cenário musical quando eu saí da banda. O foco era descobrir como melhorar.
Tamira: Eu acho que hoje em dia essa é a grande conversa, como lidar com a saúde mental quando se fala de trabalho, vida e as outras pessoas. Eu acho que é ótimo que você conseguiu lidar com isso. E agora, você ainda se sente, por exemplo, com essa turnê com a Tarja, essa ansiedade dentro de você ou é mais tranquilo, tem menos pressão e você acha que consegue se divertir mais. Ou você ainda está trabalhando para se sentir melhor?
Marko: Eu acho que estava permanentemente mudado em alguns pontos. (pausa por um momento) Eu sinto que era como cair dentro de um buraco, por um longo tempo não atingir o fundo. E você tem que passar um tempo, eu não sei, eu suspeito que mudei permanentemente. Mas eu ainda estou aqui, o que significa que eu sobrevivi.
E agora eu sei quais coisas e experiências levaram a isso, eu sei como me comportei e como as outras pessoas se comportaram.
Passei a reconhecer as coisas que não estava vendo. Minha mente não estava se destruindo por causa disso, não era eu mesmo. Mas era porque estava quebrando sob a pressão e a tensão das coisas ruins que existiam, eles já tinham as certezas e as coisas que se prenderiam a eles e tentariam resolver mesmo anos depois.
Tentar encontrar a paz de tudo que aconteceu depois de anos.
Tamira: Sim! Acho que agora a gente poderia falar sobre música (risos).
Marko: (risos) Quando nós vamos por esse lado, a imaginação ajuda muito a criar metáforas que se conectam muito a isso. Dessa forma, eu acho que ajuda.
Tamira: Eu consigo me conectar a isso porque eu tenho transtorno de ansiedade e consigo ver como a música me ajuda. Como há um poder na hora de lidar com a minha saúde mental e não ter crises. É algo muito importante para mim. Mas eu gostaria de saber sobre essa turnê com a Tarja. O que vocês planejaram, o que podemos esperar? Os fãs de Nightwish estão surtando na internet e queremos saber tudo sobre. O que você pode contar para mim?
Marko: Para ser honesto, eu já falei isso em uma outra entrevista. Eu sou um convidado na turnê e uma atração de abertura. É algo que a gente ainda não conversou. Eu não vou falar.
É claro que vamos fazer alguns duetos e vai ter algo do Nightwish. Mas é muito barato e sem graça esperar apenas isso. Nós estamos olhando outras coisas também.
Tamira: Isso é ótimo!
Marko: É bem provável que faremos The Phantom Of The Opera.
Tamira: É um clássico! Mesmo que você não goste de musicais, se você é um fã de Nightwish, essa é a música. Eu acho que os fãs vão gostar. Mas se você estiver procurando canções para o dueto, eu posso te mandar uma lista do que eu gostaria de ouvir (risos).
Marko: (risos) Essa é a sua função?
Tamira: Eu não deveria falar isso, porque estou trabalhando, mas sou uma grande fã.
Marko: Eu venho tentando ser um rockstar por décadas, mas não é para mim. Eu não gosto das características padrões.
Tamira: Não diga isso! Você é um rockstar.
Marko: Eu te agradeço por isso. Tudo que envolve o rock é bom porque envolve uma constante e uma fé na minha vida.
Tamira: Eu vi Nightwish em 2022, depois da pandemia, o show foi incrível, mas parecia que algo faltava, você foi uma grande parte para a banda. Mas eu entendo o que você estava passando e respeito isso.
Marko: Quer dizer, eu não vou ser irresponsável e infeliz. Apesar de que eu vou ser os dois ao ouvir tudo a minha volta que tem uma voz. Então sou capaz de me distrair. Mas sou muito vulgar e mesquinho e tudo mais.
Então me senti mal porque percebo que quando estou no controle das minhas coisas, tenho uma presença muito grande. E sempre tende a funcionar muito bem, no seu melhor. Então sim, eu sabia que isso não seria uma coisa fácil de resolver. Mas também quero continuar.
Tamira: Eu entendo! Estávamos falando de ser um grande rockstar em grandes shows. Ano passado você saiu em tour com a Anneke, tocando em teatros, todos sentados. Como foi essa experiência para você?
Marko: Eu amei o formato acústico para fazer com a Anneke. Ela veio até a minha casa quatro dias antes de começar a tour para gente ter um tempo para tocar as músicas juntos e cantar as harmonias. Tivemos que ouvi-las e descobrir algumas coisas, mas é quando você constrói a química de forma pessoal e profissional. Isso aconteceu bem rápido.
No segundo dia, já estávamos brigando.
Então, o senhor Wäinölä, guitarrista e backing vocal, ele é um cara legal para ter na banda de uma forma que não é muito legal, que é na hora de ensaiar e escolher as músicas. Ele é como um motorista escravo e eu sou um preguiçoso, por isso o contratei.
Porém, nós fomos atrás de coisas que éramos bons e gostamos de seguir dessa forma para fazer o nosso melhor. Na hora que começou os shows foi incrível, sabe? Fora da caixa estar sentado e fazer um monte de coisa acústica.
Tinha uma quantidade boa de pessoas, era pequeno, mas com um bom gosto musical.
Tamira: Foi uma experiência diferente.
Marko: Muito! E já concordamos que se outros quiserem fazer, nós topamos, a qualquer hora. Foi muito divertido para nós.
Tamira: Você participou de uma canção do Exit Eden, “Run!”, como foi participar da música e do videoclipe?
Marko: Nessa época eu não estava encontrando com ninguém, apenas por e-mail. Acho que foi há dois anos, ou não. Foi há muito tempo, mas elas esperaram. Acho que deveria ter todos os tipos de burocracia para fazer o álbum, como a produção e tudo mais. Mas quando aconteceu, elas me convidaram para participar do vídeo. Eu estava planejando viajar de carro com um amigo da Finlândia até a Espanha. Então eu planejei isso de uma forma que eu poderia parar na Holanda e ficar alguns dias.
Foi divertido!
Não era uma grande equipe, mas foi algo fluido e rápido. Eles sabiam exatamente o que era para fazer, algo que um velho de guerra que já esteve em sets assim pode apreciar.
As garotas foram companhias muito divertidas, foi um dia legal.
Estava muito calor durante o dia, especialmente usando couro.
Tamira: Minha última pergunta é sobre planos futuros. Eu sei que você vai tocar em alguns festivais com o Tarot.
Marko: Tem um novo álbum em produção, mas estamos no processo de como será o lançamento, a promoção.
Basicamente, temos todas as canções e é isso.
É mais um trabalho da gravadora, a programação, exceto que deve ser pouco ou muito trabalho. São coisas muito chatas que não podemos evitar.
Tamira: No fim é um trabalho e a gente precisa trabalhar.
Marko: Sim! Quer dizer, no final das contas é um chamado. É por isso que compositores e músicos são facilmente redefinidos pelo Spotify e lugares assim. É um chamado, então a gente aceita facilmente. Eles te pagam uma merreca por um contrato. E vamos ao trabalho! A gente deveria saber melhor.
E políticos que cuidam de copyrights não entendem nada.
Tamira: Muito obrigada pelo seu tempo e por fazer essa entrevista. A gente se vê em março no show em São Paulo com a Tarja.
Marko: Você é muito bem-vinda, pode ir, nós estaremos lá também. A gente se vê.
Abaixo, confira as cidades que receberão esse encontro histórico entre Tarja Turunen e Marko Hietala: Mais informações aqui.
08/03 – São Paulo (Tokio Marine Hall)
https://www.eventim.com.br/event/tarja-living-the-dream-tokio-marine-hall-tokio-marine-hall-17669348
09/03 – Porto Alegre (Opinião)
https://bileto.sympla.com.br/event/87297
10/03 – Curitiba (Ópera de Arame)
https://www.bilheto.com.br/comprar/1806/tarja
12/03 – Belo Horizonte (Mister Rock)
https://fansociety.com.br/tarja-the-hits-tour-brasil-2024__5879
13/03 – Brasília (Toinha Brasil Show)
https://www.clubedoingresso.com/evento/tarja-brasilia
14/03 – Rio de Janeiro (Sacadura 154)
https://www.clubedoingresso.com/evento/tarja-riodejaneiro
Foto de capa: Andre Santos