Sinceridade que gera identificação: uma entrevista com Brandon Saller (Atreyu)
Poucas bandas conseguem se reinventar e permanecer relevantes por mais de duas décadas como o Atreyu. Pioneiro do metalcore, o Atreyu segue se reinventando e explorando novas direções musicais, sem perder a essência, a relevância e a energia avassaladora. Antes da apresentação em São Paulo, no dia 20 de março (leia a resenha aqui), conversamos com o vocalista Brandon Saller sobre a evolução da banda, o impacto das mudanças na formação e a cena atual do metalcore.
Na entrevista, realizada por Marcelo Vieira in loco, Saller reflete sobre como o Atreyu se mantém autêntico enquanto navega por diferentes sonoridades, comenta a colaboração com M. Shadows, do Avenged Sevenfold, e compartilha sua visão sobre a conexão entre música e emoções. Além disso, fala sobre a experiência de tocar no Brasil e revela o desejo de passar mais tempo por aqui.
Confira:
TRAMAMOS: Para quem está chegando agora, quais elementos você considera essenciais para o som do Atreyu?
BRANDON SALLER: Guitarras pesadas, refrãos grandiosos e uma bateria avassaladora. Era isso que você queria dizer?
TRAMAMOS: A banda foi uma das pioneiras do metalcore. Como você enxerga a evolução do grupo desde o início até hoje?
BRANDON SALLER: Nossa própria evolução foi uma verdadeira loucura. Sempre experimentamos diferentes direções, mudando e nos reinventando. Acho que a chave é que sempre escrevemos a música que queremos ouvir, então cada álbum acaba soando um pouco diferente.
TRAMAMOS: Como você vê a cena Metalcore atual?
BRANDON SALLER: Sinceramente, nem sei se existe uma cena como antigamente. Quando éramos mais jovens, a cena musical era muito diferente, mais segmentada e com um público mais dedicado. Hoje, todo mundo ouve de tudo. Você encontra alguém indo a um show de metal num dia e, na semana seguinte, essa mesma pessoa pode estar em um show da Sabrina Carpenter. Tudo ficou mais misturado.
TRAMAMOS: Mas há alguma banda mais nova que você considera relevante para o metalcore atualmente?
BRANDON SALLER: Essa é uma discussão que tenho com alguns amigos. Eu moro em Nashville, e dentro de um raio de cinco milhas temos bandas como Wage War e Memphis May Fire. Todos nós já falamos sobre como o metalcore, de certa forma, se transformou no que hoje chamam de “rock de rádio”. O que toca nas rádios atualmente é basicamente uma evolução do metalcore. Então, acho que as bandas que estão sustentando esse gênero agora são essas mesmas que mencionei, além de outras maiores como… droga, vou lembrar… Killswitch Engage, por exemplo.
TRAMAMOS: A saída do Alex [Varkatzas, vocalista] foi um momento marcante para a banda. Como vocês lidaram com essa mudança?
BRANDON SALLER: No começo, foi um desafio entender como seguir em frente. Nosso maior objetivo era fazer a transição de um jeito que não fosse um choque para os fãs. Como eu já cantava na banda, fazia sentido manter essa dinâmica. Queríamos continuar escrevendo boas músicas e fazendo grandes shows, mas sem que parecesse que nos tornamos uma banda completamente diferente. Foi um processo de reencontro e redescoberta, mas, no fim, nunca estivemos tão felizes.
TRAMAMOS: Essa mudança na formação impactou a dinâmica e o processo criativo da banda?
BRANDON SALLER: Com certeza. Acho que a banda ficou ainda mais unida. Todo mundo passou a contribuir mais e a colocar mais esforço no processo criativo. Hoje, tudo é muito mais colaborativo do que antes.
TRAMAMOS: Como vocês equilibram a vida pessoal com as turnês e a rotina de shows?
BRANDON SALLER: É difícil. Mas, felizmente, chegamos a um ponto da carreira em que conseguimos planejar tudo com antecedência. Quando estamos em casa, tentamos aproveitar ao máximo esse tempo de qualidade.
TRAMAMOS: Para quem não acompanhou os lançamentos mais recentes da banda, você pode falar um pouco sobre o álbum The Pronoia Sessions?
BRANDON SALLER: Esse álbum foi nossa maneira de fazer algo diferente e inesperado. Reimaginamos algumas das nossas músicas clássicas, fizemos alguns covers… simplesmente quisemos experimentar. Não sei nem explicar exatamente o motivo, só achamos que seria legal tentar algo completamente novo. E o resultado ficou incrível!
TRAMAMOS: Gostaria de falar sobre as letras. Como funciona o processo de composição da banda?
BRANDON SALLER: Hoje em dia, é algo bem colaborativo. Normalmente, eu, Porter [McKnight, baixista] e Dan [Jacobs, guitarrista] surgimos com uma ideia ou conceito e começamos a desenvolver. Depois, todos contribuem com as letras, refinando e construindo juntos.
TRAMAMOS: Como você espera que os fãs se conectem com o que vocês cantam?
BRANDON SALLER: Sempre escrevemos a partir de experiências pessoais, e a verdade é que todos passamos pelas mesmas coisas, independente da profissão. Um músico, um contador, um garçom… todo mundo enfrenta desafios, lida com emoções. Acho que essa sinceridade faz com que as pessoas se identifiquem.
TRAMAMOS: Muitos fãs não apenas se identificam, mas encontram conforto nas letras. Como você se sente em relação a essa conexão?
BRANDON SALLER: Acho algo maravilhoso. Quando escrevemos, também estamos processando nossas próprias emoções. Se isso pode ajudar outra pessoa da mesma forma que nos ajuda, então é algo muito especial.
TRAMAMOS: Vocês já receberam algum relato de fãs contando como uma música ajudou em suas vidas?
BRANDON SALLER: Com certeza. É algo incrível. Crescendo, eu também tive essa relação com minhas bandas favoritas, e até hoje certas músicas me ajudam a enfrentar momentos difíceis. O fato de podermos proporcionar esse mesmo impacto para outras pessoas significa muito para nós.
TRAMAMOS: O Avenged Sevenfold vem ao Brasil ainda este ano. Sabendo da participação do M. Shadows na música “Superhero”, como surgiu essa colaboração?
BRANDON SALLER: Somos amigos há mais de 20 anos. Essa música foi um grande sonho meu para o álbum, porque trata da experiência de ser pai. Quis trazer amigos que também passaram por isso e que pudessem compartilhar sua visão sobre o tema. Foi incrível contar com ele e com o Aaron [Gillespie, baterista e vocalista da banda Underoath] para trazer suas próprias perspectivas sobre a paternidade.
TRAMAMOS: Você teve a oportunidade de explorar São Paulo?
BRANDON SALLER: Um pouco, mas bem rápido. Experimentamos algumas comidas incríveis e tomamos tanto café que quase arrancamos os olhos (risos). Mas essa turnê está sendo muito corrida, então não conseguimos ver tanta coisa quanto gostaríamos.
TRAMAMOS: Quais são suas impressões sobre a cultura brasileira até agora?
BRANDON SALLER: É incrível. Começamos a turnê no México, depois passamos pela Colômbia e agora estamos aqui. Cada lugar tem sua própria identidade. O Brasil é muito verde, vibrante e bonito. Gostaria de poder passar mais tempo aqui.
TRAMAMOS: Para encerrar: o que você espera que os fãs levem do show em termos de energia e mensagem?
BRANDON SALLER: Espero que todo mundo se divirta ao máximo. Nosso objetivo é proporcionar uma experiência onde as pessoas possam esquecer qualquer problema e apenas curtir o momento por uma hora e meia. E quero que saibam que estamos compartilhando essa mesma alegria com eles